O homem percebe que algo o precede e algo o
ultrapassa e este algo não é a história, ou as gerações, mas o próprio
fundamento. Com este fundamento identifica-se a verdade. Esta, dentro da lógica
humana, para permanecer inacessível deveria resumir-se a uma configuração
lógica e ontológica. No entanto, a teologia cristã identifica-a com uma pessoa:
Deus. Este supera uma configuração conceitual, ou uma emanação que ao mesmo que
cria e sustenta distancia em um aspecto fundamental: Ele se relaciona com o
homem, comunica-se a ele e mais se faz um de nós.
Realmente, é difícil admitir que nem sempre o que
extrapola a razão é irracional. De igual modo, é conflitante o fato de a
racionalização de tudo resultar no irracionalismo. Conceber algo assim, parece
ilógico, mas como diz Pascal: “Conhecemos a verdade não apenas pela razão, mas
também pelo coração. É desta última maneira que conhecemos os primeiros
princípios, e é em vão que o raciocínio, que não toma parte nisso, tenta
combatê-los”.1 E vai mais longe: “Nem a contradição é a marca da
falsidade, nem a não-contradição é a marca da verdade”.2 É difícil
entender que a Verdade (Deus) manifestou-se ao e no paradoxo (homem), mas
justamente nisto está toda beleza e consolação da fé.
E possível, no entanto, afirmar que a Verdade, depreendida
e buscada no pensamento histórico, nas mais diversas especulações, sérias ou
não, científicas ou não, identifica-se com o Deus cristão, revelado em Jesus,
na medida em que não pode haver duas verdades distintas e independentes, nem
mesmo dois princípios. Mas o modo de conhecê-lo é que diverge a compreensão,
algo perfeitamente possível no paradoxo humano. A fé cristã diferencia-se ainda
mais das outras concepções porque compreende o necessário despojamento de Deus
para alcançar o homem. A resposta que Ele nos traz implica, porém supera, um
conceito externo, pois ao revelar-se responde não só sobre si mesmo, mas sobre
o homem todo de modo que a sua vida tenha, daí então, sentido e ele alcance a
verdade por alcançar a medida de si mesmo descobrindo que a sua transcendência
é uma constante busca que o inclina para o eterno e a comunhão. Este é o modo
pelo qual a razão se desata do perigo da esterilidade e se torna pronta para
agir.
Mesmo o mais cético afirma uma verdade da qual não
pode se eximir que para ele é fundamental. O mais ateu, mesmo que não concorde,
possui uma ideia de Deus, porém não a identifica com nenhuma realidade divina
que se lhe apresenta. Neste ponto não serão silogismo bem elaborados que
modificarão tais posições. A força e a fraqueza da Verdade, anunciada pelos
cristãos, está no testemunho. A Verdade tornou-se concreta, palpável e com
podemos dialogar e nos enriquecer. Justamente por ultrapassar o conceito sua
expressão só se evidencia no testemunho, que permanece no tempo depois de
tantas ruínas no mundo e contradições credenciais. Na maioria dos temas
inverificável empiricamente a Verdade, que é Cristo, permanece como algo vivido
experiencialmente e “carrega a riqueza humana da confiança, do amor e da doação
de si mesmo”. (CÂNDIDO, 2014, p. 18).
A verdade de Cristo comporta a contradição do homem,
na justiça e na misericórdia. Suas respostas permanecem atuais porque evidencia
fundamentos que ultrapassam o que expressam e tratam da vida na sua concretude,
nas situações comuns e extraordinárias inerentes ao ser humano. A sua garantia
evidencia-se na distinção da vocação cristã que é a doação que chega ao ponto
de entregar a vida pelo Cristo, mas nunca matar por ele e encontra nele a
Verdade pela qual se move todo o ser para a Ela se transformar.
REFERÊNCIAS:
CÂNDIDO, José. Curso de Teologia
Fundamental. Belo Horizonte: pró-manuscrito (uso interno), 2014.
PASCAL, Blaise. Pensamentos. São
Paulo: Martins Fontes, 2005.
Adriano Bonfim
1º Teologia