Por certo, outras palavras serão ditas e
muitas vozes noticiarão a trágica e inesperada morte do Padre João Zanchetta. São
vários os que poderão testemunhar os feitos desse homem de Deus que, decidido,
há 30 anos desinstalou-se da Itália para pastorear terras brasileiras. Quanto a
nós, diocesanos de Nossa Senhora do Livramento, o que diremos? Bom, por sermos
vizinhos da Diocese de Caetité e por nos encontrarmos nalgumas ocasiões,
ouvíamos falar do Padre João ou com ele, esporadicamente, conversávamos. Sua
volta da Diocese de Caetité para a de origem, no norte da Itália, estava
prevista para este ano de 2014. Todavia, sendo ele grande amigo de Dom Armando
e sensível à carência de padres em nossa Diocese, aceitou o convite que lhe foi
feito e, no início deste ano de 2014, veio juntar-se a nós. A notícia foi
acolhida com um suspiro de alívio, diante da oferenda feita, considerando que há
muito que fazer e as forças ainda são escassas por aqui. Mas... e agora? O que
veio somar foi tirado dentro de tão pouco tempo, e num mundo que vale o que
produz e o que é produzido, poderíamos perguntar o que fez padre João nesses
poucos meses? O que registrar? Se olharmos, perceberemos que ele fez muito,
porque veio, porque assumiu, porque participou da nossa vida e partilhou da
nossa história. Ele afirmou no primeiro momento que era um padre aposentado,
mas não se desdobrou enquanto tal, pondo-se a serviço com e como os demais; sua
inesperada morte, na tarde dessa quarta-feira, mais uma vez nos coloca diante
do imperscrutável mistério da vida; o susto nos mostra que a morte não é para
nós; as justas lágrimas dão chancela à amizade construída; a pressa para irmos
ao encontro do irmão na hora da última despedida nos diz que estar juntos é sumamente
bom, ainda que seja só para um adeus; voltar para casa após o sepultamento, de
todos os sepultamentos, será o desvantajoso percurso de quem entregou à terra
um pedaço de si mesmo, porque entregou um amigo. E no meio dessa fadiga de quem
perde e de quem chora, sobre tudo isso, consola-nos a certeza de que o céu nos
é sempre possível, não porque somos santos, mas porque Deus é bom, porque estamos
todos em suas mãos, vivos ou mortos, e porque para nós a
morte é apenas uma passagem.