A
liturgia ocupa um lugar central em toda a ação evangelizadora da Igreja. Ela é
o “cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde
emana toda a sua força” (SC 10). Nela,
o discípulo realiza o mais íntimo encontro com seu Senhor e dela recebe a
motivação e a força máximas para a sua missão na Igreja e no mundo (cf. DGAE nº 67).
Há
uma relação muito profunda entre beleza e liturgia. Beleza não como mero esteticismo,
mas como modalidade pela qual a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança,
fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a
nossa verdadeira vocação: o amor (cf.
SCa 35). Unida ao espaço litúrgico, a música é genuína expressão de beleza,
tem especial capacidade de atingir os corações e, na liturgia, grande eficácia
pedagógica para levá-los a penetrar no mistério celebrado.
Acompanhamos,
com entusiasmo e alegria, o florescer de grupos de canto e música litúrgica,
grupos instrumentais e vocais, que exercem o importante ministério de zelar
pela beleza e profundidade da liturgia através do canto e da música. Sua
animação e criatividade encantam muitos daqueles que participam das celebrações
litúrgicas em nossas comunidades. Ao soar dos primeiros acordes e ao canto da
primeira nota, sentimos mais profundamente a presença de Deus. Lembramos alguns
aspectos importantes que contribuem para a grandeza do mistério celebrado.
1.
A importância da letra na música litúrgica.
A letra tem a primazia, a música está a
seu serviço. A descoberta da beleza de um canto litúrgico passa necessariamente
pela análise cuidadosa do conteúdo do texto e da poesia. A beleza estética não
é o único critério. Muitas músicas cantadas em nossas liturgias estão
distanciadas do contexto celebrativo. “Verdadeiramente, em liturgia, não
podemos dizer que tanto vale um cântico como outro; é necessário evitar a
improvisação genérica e o canto deve integrar-se na forma própria da celebração”
(SCa 42). Não é possível cantar
qualquer canto em qualquer momento ou em qualquer tempo. O canto “precisa estar
intimamente inculado ao rito, ou seja, ao momento celebrativo e ao tempo
litúrgico” (DGAE 76). Antes de
escolher um canto litúrgico é preciso aprofundar o sentido dos textos bíblicos,
do tempo litúrgico, da festa celebrada e do momento ritual.
2.
A participação da assembléia no canto. O
Concílio Vaticano II enfatiza a participação ativa, consciente, plena,
frutuosa, externa e interna de todos os fiéis (cf. SC 14). O canto litúrgico não é propriedade particular de
um cantor, animador, ou de um seleto grupo de cantores. A liturgia permite
alguns momentos para solos (tanto vocais quanto instrumentais), porém a
assembléia deve ter prioridade na execução dos cantos litúrgicos. O animador ou
o cantor tem a importante missão, como elemento intrínseco ao serviço que
presta à comunidade, de favorecer o canto da assembléia, ora ustentando, ora
fazendo pequenos gestos de regência, contribuindo para a participação ativa de
toda a comunidade celebrante.
3.
Cuidado com o volume dos instrumentos e microfones. Em muitas
comunidades, o excessivo volume dos instrumentos, como também a grande
quantidade de microfones para os cantores, às vezes, não contribuem para um
mergulho no mistério celebrado, antes, provocam a agitação interior e a
dispersão, além de inibir a participação da assembléia no canto. Pede-se
cuidado com o volume do som, a fim de que as elebrações sejam mais orantes,
pois tudo deve contribuir para a beleza do momento ritual.
4.
Cultivar uma espiritualidade litúrgica. Os cantores e
instrumentistas exercem um verdadeiro ministério litúrgico (SC 29). A celebração não é um
momento para fazer um show, para
apresentação de qualidades e aptidões. Os cantores e instrumentistas devem,
antes de tudo, mergulhar no mistério, ouvir e acolher com a devida atenção a
Palavra de Deus e participar intensamente de todos os momentos da celebração.
Música litúrgica e espiritualidade litúrgica devem andar juntas, são duas asas
de um mesmo vôo, duas nascentes de uma mesma fonte. Invocamos as luzes do
Espírito Santo sobre todos os agentes de música litúrgica de nosso país.
Reconhecemos o valoro do ministério exercido a serviço de celebrações reveladoras
da beleza suprema do Deus criador e da atualização do Mistério Pascal de Jesus Cristo.
Comissão Episcopal para a
Liturgia
Perguntas para a
reflexão de gurpo:
1 - Na escolha dos cantos, a equipe de música
analisa o texto para ver se está de acordo com a liturgia do dia?
2 - Em suas comunidades, a assembleia participa do
canto?
3 - Considerando a acústica e o tamanho da igreja de
sua comunidade, como vocês avalima o volume dos instrumentos durante as
celebrações?
4 - Os músicos cultivam uma espiritualidade
litúrgica ou participam apenas para executar uma função?