O
documento conciliar sobre liturgia - Sacrosanctum
Concilium (n.77-78) - recomendava “revisar e enriquecer o rito da
celebração do matrimônio que se encontra no Ritual Romano, de modo que se
expresse a graça do sacramento e se inculquem os deveres dos esposos com maior
clareza”. A partir desse pedido, elaborou-se o novo rito. Lembro que nas minhas
reflexões considero o matrimônio principalmente do ponto de vista da celebração
na igreja.
Para
compreender a celebração do matrimônio, assim como proposto pelo ritual de
nossa Igreja católica, é importante conhecer alguns elementos que provêm de uma
longa história religiosa e cultural onde o rito finca suas raízes. Começamos
com algumas informações a respeito da tradição
judaica, pelo fato de que influenciou o ritual usado pela Igreja desde as
suas origens.
O
matrimônio judeu pode ser celebrado em qualquer ambiente, mas é mais frequente ser
celebrado na sinagoga. O dia mais apropriado é na terça-feira, considerado dia
de pompa por excelência, porque no relato da criação em Gn 1,10-12, encontra-se
por duas vezes que “Deus viu que era bom’. Não se celebra casamentos no dia de
sábado, dia santo para os hebreus, nem em alguns dias do ano em que se recordam
acontecimentos de luto e sofrimento. Não existe a obrigação de usar roupas
especiais, mas o costume é que a noiva vista-se de branco e com véu.
O rito. Antes da
cerimônia, o noivo, acompanhado por testemunhas, manifesta aceitar suas
obrigações, e assina um contrato. Em seguida, é levado ao local onde encontra a
noiva, cujo rosto está coberto com um véu, e diz a bênção de Rebeca: “Irmã
nossa, tenhas filhos e descendentes, milhares e milhares, e que teus
descendentes dominem seus inimigos”.
O
noivo, então, vai ao encontro da noiva no local da celebração, conduzido pelo
pai, o pai da noiva, pelos parentes e amigos; a noiva, também, é conduzida pela
mãe, a mãe do noivo, parentes e amigas, enquanto se canta: “Que o Todo-Poderoso
e grande se digne abençoar os futuros esposos”. A cerimônia começa com o sermão
do rabino ou de alguém que conheça a Torá, a Lei; em seguida, o mesmo pronuncia
a oração de bênção: Bendito sejas,
Senhor, Deus nosso, rei do universo, que nos santificaste com teus mandamentos
e nos ordenastes abster-nos das desordens sexuais e nos proibistes a união com
mulheres já prometidas a um homem...
Oferece-se
aos esposos a taça da qual ambos bebem. Então, o esposo põe no dedo anular da
esposa um anel, dizendo: “Ficas santificada por mim por este anel, em
conformidade com a religião de Moisés e de Israel”. O rabino, ou alguém
escolhido pelo noivo, lê o documento. Abençoa-se a taça - a primeira de sete
bênçãos – que é apresentada aos esposos; depois de beber, o noivo a quebra com
o pé direito. Então, os esposos são conduzidos ao novo lar, no qual ficam
sozinhos por um tempo. Segue o banquete nupcial, que conserva caráter
religioso. Depois da ação de graças, recitam-se as bênçãos nupciais, e isso
durante os sete dias que seguem o casamento.
Vários
outros usos foram elaborados, inspirados em acontecimentos bíblicos. É costume
jogar sobre os esposos trigo, arroz, nozes e bombons.
São
estes os elementos essenciais da tradição hebraica. Infelizmente, porém, esses
costumes tendem a desaparecer.
Dom
Armando