Tiago
1,1,17-18.21b22.27;
Marcos
7,1-8.14-15.21-23
A mensagem da Palavra, hoje, pode ser resumida numa
frase: observar a Palavra de Deus é sinal de sabedoria e caminho de felicidade!
Nos mandamentos – diz a I leitura – “está vossa sabedoria e inteligência
perante os povos”.
Mas, não é suficiente ter boas leis; é preciso pô-las
em prática e, antes de tudo, entendê-las da maneira certa, com o olhar do
Legislador. Uma interpretação da Lei ‘ao pé da letra’ pode trair o seu sentido
e matar as pessoas. Exemplo disso, é o ‘caso’ discutido pelo Evangelho.
“Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos e comem o pão sem
lavar as mãos?”, é a pergunta feita a Jesus por parte de um grupo de fariseus.
Em poucas palavras, Jesus responde: “Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir
a tradição dos homens”. Pode-se perder o sentido mais autêntico da Palavra com
uma interpretação mesquinha e dizendo que é Deus que quer.
O plano de Deus é de vida em plenitude, de
misericórdia e salvação! O que se coloca fora dessa finalidade, está fora o
contra a intenção de Deus. Toda Lei é justa e expressão da vontade divina se
estiver ao serviço desse projeto de maior humanidade e geradora de mais
alegria.
Usar da religião para impor regras, ou vivê-la somente
como observância rigorosa de normas impostas, significa matar a beleza de uma
Palavra que é chamada a dilatar o coração e não para endurecê-lo.
O papa Francisco nos recomenda para termos medo de “nos
encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos
transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos,
enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Vós
mesmos, dai-lhes de comer’ (Mc 6,37)” (Evangelii
Gaudium 49).
O apóstolo Tiago (II leitura), reafirma as
palavras dos antigos profetas e escreve: “Religião pura e sem mancha diante de
Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se
deixar contaminar pelo mundo”. Jesus fala claro: “Vós abandonais o mandamento
de Deus para seguir a tradição dos homens”. Eis a missão dos seguidores de
Jesus: ter sensibilidade e compaixão para com os outros, assumir sua responsabilidade
diante da vida para protegê-la e fazê-la crescer. Esse é o ‘essencial’ da fé! Note-se
que consiste nas relações que vivemos para com os outros: “más intenções, imoralidades,
roubos, assassínios, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de
juízo”. Observemos como tudo continua sendo atual. A fidelidade a Deus e a
coerência na vida cristã pedem atitudes e comportamentos de acordo com uma vida
nova: somos ‘as primícias de suas criaturas’, gerados ‘pela Palavra da
Verdade’.
Para ‘morar na casa do Senhor’, canta o salmo,
é preciso ‘caminhar sem pecado e praticar a justiça fielmente, pensar a verdade
e não soltar a língua em calúnia’.
Para a nossa reflexão, perguntemo-nos:
1 – Quando acontece que a religião se reduz a
observância exterior de mandamentos?
2 – Como tornar nossa ‘prática religiosa’ mais
coerente com a mensagem e o estilo de Jesus?
Dom Armando