Terminados os ritos
iniciais, entramos na Liturgia da Palavra. O Lecionário propõe 28
leituras dentre as que “exprimem mais peculiarmente a importância e a dignidade
do Matrimônio no mistério da salvação” (n. 56).
Basta uma rápida olhada
às leituras propostas, para colher a teologia do Matrimônio nelas contidas, que
a Palavra desenvolve ao longo da História da Salvação.
Os dois textos de Gênesis
(1,26-28.31a e 2,18-24) destacam o projeto inicial do Senhor ao criar homem e
mulher. A Bíblia acolhe a existência de ‘humano’ e ‘humana como intrínseca no
plano de Deus’, algo muito profundo, alicerçado nas exigências mais íntimas da
pessoa. O amor brota de uma sensação de vazio e incompletude que ‘adão’
experimenta. O domínio ‘sobre os animais de toda a terra’ (Gn 1,26) é insuficiente
para se sentir feliz, ele, ser de barro, sobre o qual o Senhor ‘soprou’ seu
hálito vital. Por isso, continua o segundo relato da criação, Deus decide dar
‘uma auxiliar semelhante a ele’. No sono profundo de Adão, da ‘costela tirada’
– diz Gn com linguagem simbólica e sapiencial – aparece a ‘auxiliar’. Com
profundo intuito antropológico, Gênesis reconhece que cada pessoa é um presente
de Deus para com a outra, e chamada a viver com igual dignidade, em atitude de
colaboração. Essas são as bases para construir uma relação humana verdadeira, capaz
de enriquecer os dois e dar-lhes alegria.
Encontramos mais uma
página do livro do Gênesis (24, 48-51.58-67). Conta como Labão, servo de
Isaac, foi escolher Rebeca para ser a esposa do seu senhor. Dentro dos costumes
do mundo antigo, tudo acontece seguindo a vontade de Deus e tudo procede debaixo
do olhar amoroso e da bênção divina. Por isso, tudo caminha para o bom término.
Para a mentalidade
atual e a cultura em que vivemos, essas histórias podem parecer bonitas, mas muito
distantes e até contrárias aos valores que hoje em dia fundam as relações
afetivas. Com certeza, nem tudo pode ser recebido ao pé da letra. È oportuno,
porém colher os elementos essenciais da antropologia bíblica, isto é, os
valores de religiosidade e fé, que levam a reconhecer que tudo é dom de Deus e,
portanto, a viver as relações humanas em atitudes de agradecimento para com Ele
e na colaboração e no respeito um para com o outro.
O casal que celebra seu
amor ‘no Senhor’, acolherá, assim de maneira coerente o que dirá a ‘bênção
nupcial’: “O amor e a paz permaneçam no coração da esposa, e ela busque o
exemplo das santas mulheres, exaltadas com louvores nas Sagradas Escrituras.
Nela confie o seu marido; e saiba honrá-la com a devida estima, reconhecendo-a
companheira e co-herdeira da vida divina e amando-a com aquele amor com que
Cristo amou a sua Igreja”.
A linguagem da
liturgia, provinda de uma cultura diferente da nossa, afirma com clareza o que
a Palavra propõe e que hoje – e constantemente – precisamos recuperar e viver,
em qualquer contexto e situação, na reciprocidade e na fidelidade. Assim, o
amor tornar-se-á maduro e sólido e capaz de superar os desafios da vida.
Dom
Armando