“Podes
ir, e de agora em diante não peques mais!” (Jo 8,11)
Leituras
1ª
Leitura - Is 43, 16-21
Salmo
- Sl 126/125
2ª
Leitura - Fl 3,8-14
Evangelho
- Jo 8,1-11
Caros leitores, graça,
misericórdia e paz em Jesus! Vivenciando os últimos momentos do Tempo da
Quaresma, temos a oportunidade de ser corrigidos pela penitência e renovados
pelas boas obras, a fim de chegar purificados às festas pascais. Certamente, neste
itinerário de amadurecimento, não há maior bem do que fortalecer nossa
disposição na continuação desse caminho de conversão. Dessa forma, após
refletir sobre a figura de Jesus – atormentado pela tentação no deserto;
transfigurado sobre a montanha; testemunha do Deus de paciência; testemunha do
Deus de misericórdia –, neste V domingo refletiremos a figura de Jesus, como reflexo
do Deus do perdão.
“Jesus Cristo quer a misericórdia e não o
sacrifício” (Mt 12,7), pois “Ele não veio para chamar os justos, mas os
pecadores” (Lc 5,32). Essa certeza nos coloca diante da ação de Jesus que
acolhe e perdoa a mulher pecadora. Na narrativa do Evangelho (Jo 8,1-11),
deparamos com Jesus no Templo ensinando o povo. Encontram-se aí também “alguns
espiões que se fingiram de justos que o espreitavam, para surpreendê-lo em
alguma palavra sua” (Lc 20,20). Ao apresentar uma mulher surpreendida em
adultério, experimentam Jesus, esperando encontrar nele um motivo para
acusá-Lo. No entanto, surpreendidos pelas palavras de Jesus “quem dentre vós
não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7), “um a um, todos saem,
ficando apenas Jesus e a mulher” (Jo 8,9). Aqui está o cerne da nossa reflexão –
no gesto de Jesus sentimos a ação misericordiosa de Deus que não condena a
mulher, mas a perdoa e lhe concede uma vida nova. Verdadeiramente, Deus “não encontra
seu prazer na morte do ímpio, mas antes que ele se converta e viva” (Ez 33,11).
Não nos fixemos,
portanto, nos sofrimentos resultantes dos nossos pecados ou nas ocasiões que
nos afastamos de Deus. Quando o Profeta Isaías proclama o anúncio da libertação
aos exilados, o povo é convidado a contemplar as maravilhas que Deus operará
por ocasião do novo Êxodo. Portanto, não é preciso “ficar lembrando as coisas
passadas, nem preocupar com os acontecimentos antigos” (Is 43,18). O que nos é
apresentado na 1ª leitura (Is 43,16-21) purifica a nossa mente e abre nosso
coração para acolher a novidade do perdão de Jesus. Logo, não devemos reduzir
nossa vida ao lamento pelos pecados cometidos, mas nos esforçar diariamente
para não cair novamente. Lutemos para permitir que a nossa vida usufrua da
imensa misericórdia de Deus, geradora da vida nova em Cristo. Contudo, esta
vida não se dá num passe de mágica, precisa passar pela experiência da perda. Como
nos diz Paulo em sua epístola aos Filipenses (2ª leitura), “por causa de Cristo
perdi tudo. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido
a Ele” (Fl 3,8). Com efeito, já participamos do mistério de Cristo porque fomos
unidos a Ele pelo Batismo.
Mas como poderemos acolher
o perdão de Cristo, nosso Senhor?
Obviamente pela sua misericórdia. Por meio dela, identificamos quem é Jesus.
Nas palavras do Papa Francisco, “a sua pessoa não é senão amor, um amor que se
dá gratuitamente [...] tudo n’Ele fala de misericórdia. N’Ele, nada há que seja
desprovido de compaixão” (MV 8).
Olhando para a mulher
curvada pelo peso do pecado e pela vergonha do erro, pensamos na postura que
devemos assumir diante dos nossos erros. Inúmeras vezes vivemos essa situação
de vergonha, mas é preciso mudar. Como São Padre Pio nos orienta: “se o pecado
está à direita vá para a esquerda”. Ajuda-nos uma atitude extremamente
evangélica: fazer-nos dom de salvação para que a vida seja mudada. Não
esqueçamos de que “os homens veem apenas as aparências, mas o Senhor olha o
coração” (1Sm 16,7). Que Deus Pai venha ao nosso encontro e renove em nós o
ardente desejo de acolher, com júbilo as alegrias das festas pascais,
eliminando da nossa vida a falta de compaixão e levantando-nos quando cairmos,
para reconduzir-nos à plenitude, que é o Cristo.
Marcos Bento – 2º Teologia