Is
50,4-7
Sl 21 (22)
Fl
2,6-11
Lc
22,14-23,56
Queridos irmãos e irmãs, depois de cinco semanas de caminhada quaresmal, somos convidados a caminhar com Jesus, das portas de Jerusalém, passando pela via (estrada) sacra do calvário, até o túmulo vazio.
A liturgia de hoje é apontada para o caminho. O caminho que Jesus realizou desde o seu retiro de 40 dias no deserto, conduzido pelo Espírito, tentado pelo diabo. O caminho da evangelização, feito com seus discípulos e discípulas, nas inúmeras cidades e povoados que eles percorreram, anunciando e instaurando o Reino Deus. Por fim, hoje, Jesus começa o caminho que dará sentido a todo o caminhar da história da humanidade. Ele inicia uma estrada que o conduzirá à aclamação como Rei pelos pequenos, pobres, excluídos, ou seja, por aqueles que não são vistos pela sociedade egoísta e presa em sua ganância pelo poder; também o levará à exclusão e perseguição por aqueles que amam o poder mais que ao próprio Deus. Estes o pregarão na Cruz e Ele nos abrirá o caminho que leva ao céu – a sua ressurreição. Nos passos de Jesus, devemos nos colocar, de maneira completa, pois, como seus discípulos e discípulas, precisamos caminhar no amor e na alegria nas estradas do mundo rumo ao céu.
Os dois textos evangélicos que foram anunciados nesta celebração marcam profundamente dois aspectos que estão entrelaçados na estrada de Jesus e do cristão – a Glória e a Morte. Na estrada de todo ser humano, estas duas expressões coexistem. Algumas vezes, tudo vai muito bem, às mil maravilhas, a alegria e o entusiasmo se tornam presente, tudo vai bem! Noutras vezes, sentimos a cruz pesar, o caminho se torna penoso demais, o pessimismo abate nossos corações. Mas, nessas duas dimensões do caminho, precisamos lembrar sempre que o Senhor nos dá “palavra de conforto”, que Ele é nosso “auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo”, são palavras da primeira leitura, que nos enchem de esperança. Em todos os acontecimentos bons ou ruins, não estamos sozinhos, mas o Senhor é nosso companheiro de caminhada, pois assumiu “a condição de um escravo, tornando-se igual aos homens”, faz-se um de nós e nos acompanha. No relato da Paixão segundo Lucas, depois de julgado e condenado injustamente, “chegaram ao lugar chamado ‘calvário’, ali crucificaram Jesus”. No caminho do anúncio do Reino de Deus, impuseram a cruz. Jesus, por amor a toda humanidade, toma-a sobre si e se deixa crucificar.
O Papa Francisco, sobre a Cruz de Cristo e a nossa cruz, nos diz: “Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem cruz, não somos discípulos do Senhor... Que todos nós tenhamos a coragem, sim, a coragem, de caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor; de edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor, que é derramado na Cruz; e de confessar como nossa única glória Cristo Crucificado. E assim a Igreja vai para diante”.
Que, nesta Semana Santa que hoje iniciamos, tomemos, a propósito, esse desejo do santo Padre. Que, em nossa Semana Maior, seja, de fato, o Cristo o centro de todas as nossas celebrações e dos nossos costumes. Meditemos essa página belíssima e profunda dos santos evangelhos, durante todo o tempo, para sabermos confessar o Cristo como o nosso Rei, na alegria, como em sua chegada festiva em Jerusalém, mas também na aparente tristeza da Cruz, que é o seu trono.
Pe. Gonçalo
Aranha dos Santos