LEITURAS:
Atos 5,12-16
Salmo 117/118
Apocalipse 1,9-13.17-19
João 20,19-31
O Evangelho que nós ouvimos neste dia nos faz pensar o
fundamento da nossa fé: por que cremos? O que deve nos motivar a permanecer na
fé? Nesse sentido, a figura de Tomé é muito significativa. Tomé expressa um
desejo profundamente humano. Ele deseja ter um contato direto com Jesus, quer
ver o corpo glorioso de Cristo com as chagas que comprovam o mistério da paixão.
Mas Jesus explica que a dinâmica de Deus é diferente: "felizes são aqueles
que crêem sem ter visto!"
Isso não significa que Deus queira se esconder de nós, ou
afastar-se de nós. Mas nos mostra que é preciso reconhecer a presença de Jesus
por meio de sinais. No episódio vivido por Tomé, Jesus revela que sua presença no
mundo continua pela Igreja, pelo testemunho da comunidade de fé. Para fazer-se
ainda mais próximo e constante na vida da humanidade, Jesus instaura a Igreja
como sinal, sacramento, de sua ação no mundo.
Isso se destaca em duas informações importantes no texto do
evangelho. Primeiro, as duas aparições narradas se dão em contexto comunitário, quando os discípulos estão reunidos. Jesus
não aparece para Tomé isoladamente, mas só volta a aparecer quando todos
novamente estão reunidos. Depois, o dia em que Jesus aparece – o primeiro dia
da semana – é uma clara alusão à reunião cristã da eucaristia dominical. Jesus aparece num domingo e volta a
revelar-se noutro domingo (oitavo dia). Com isso fica expresso que a comunidade
reunida, celebrando e testemunhando a fé, é sacramento do próprio Cristo Jesus.
Por isso a Igreja recebe a missão da reconciliação ou perdão
dos pecados. A reunião da comunidade de fé é presença de Cristo no mundo; o
perdão vivido na comunidade é expressão do perdão de Cristo; a caridade vivida
na comunidade é reflexo da caridade de Cristo para com a humanidade. Olhando
para o relato de Atos dos Apóstolos lido na primeira leitura isso fica ainda
mais claro: “pelas mãos dos apóstolos realizavam-se entre o povo muitos
milagres e prodígios”. Os apóstolos, a
Igreja, a comunidade de fé são continuadores da missão e da presença de Cristo
no mundo.
E o que isso significa para nós? Duas coisas: uma segurança e
um compromisso. Segurança porque sabemos que a nossa fé não é vã. Muitas
pessoas hoje – como Tomé – procuram um contato direto com Deus (por visões,
aparições, sonhos...); outras negam a vida comunitária e querem viver uma fé
intimista e isolada. Não podemos seguir essas ideias! Acreditamos por causa do testemunho
dos que vieram antes de nós e somos bem-aventurados porque “acreditamos sem ter
visto”, porque na vivência comunitária da fé experimentamos Jesus.
Significa também um compromisso porque nos lembra a
necessidade de testemunhar a presença de Cristo em nossa vida. Nossa comunidade
de fé, para ser sinal transparente de Cristo vivo, precisa estar aberta à ação
do Espírito e comprometida com a prática da caridade, do perdão, da unidade.
Cristo ressuscitou, ele está vivo e presente na comunidade cristã:
esse é o fundamento da nossa fé. Não cremos por ter visto Jesus diretamente;
não cremos por ter recebido uma revelação especial e particular. Cremos porque
o sinal de sua presença na humanidade continua vivo por meio da comunidade que
Ele fundou e que nos transmitiu a fé.
A oração do dia nos lembrava que a festa pascal reacende a fé
do povo. Concluindo a oitava pascal e refletindo o caminho da fé de Tomé,
possamos também nós, nessa celebração dominical, superar as nossas dúvidas,
medos, incertezas e professarmos com convicção e confiança a fé que recebemos.
Jandir Silva