Em minhas reflexões
litúrgicas, estou tratando dos sinais e
símbolos que aparecem em nossas celebrações. Hoje, quero falar a respeito
de um gesto que fazemos frequentemente e com muita espontaneidade. Para
participar das celebrações litúrgicas, quando celebradas numa igreja, grande ou
pequena, nós passamos pela porta.
A porta da Igreja é
símbolo da Porta que é Jesus. O evangelista João recorda uma imagem com a qual
Jesus se identifica: Eu sou a porta (Jo
10,9); e acrescenta: Se alguém entra por
mim, será salvo; poderá entrar sair e achará pastagens.
Entrar pela porta da
Igreja significa acolher Jesus ou, melhor, ser acolhido por Ele e pela Igreja.
Passar pela porta significa passar por Ele, passar da exterioridade para a
interioridade para participar da Páscoa do Senhor. Pela porta da igreja, nós
cristãos entramos, pela primeira vez, no dia do batismo. Naquele dia, a maioria
entra levada pelos pais e padrinhos. Eles responderam que assumiriam o empenho
de conduzir o filho e afilhado até o altar, isto é, até a plenitude da
Iniciação cristã.
Entrar pela porta da
Igreja para participar da liturgia se torna símbolo de um caminho rumo ao coração,
onde Deus faz sua morada. O batismo foi a porta
da vida cristã, primeiro encontro com Jesus e com a Igreja. Infelizmente,
muitas pessoas ficam na porta da igreja, e não só de maneira simbólica, mas
também concreta. Os últimos bancos são os mais lotados e, junto à porta, têm sempre
alguém que parece estar com vergonha e não quer passar mais para frente.
Parece-me um sinal da postura que tantos batizados assumem diante da vida
cristã.
Jesus é o Caminho que nos introduz na aventura de
uma vida nova, repleta de esperança e compromissada com a paz, a justiça e o
amor verdadeiro.Entrando na igreja, nós somos convidados a caminhar rumo ao
altar, o coração do santuário, onde se renova a entrega de Jesus. Aí, todo
cristão é chamado a se entregar também, alma e corpo, ao serviço de Deus e dos
irmãos.
No livro do Apocalipse
“o Amém, a testemunha fiel e verdadeira,
o princípio da criação de Deus” (Ap 3,14 ) assim diz: Eu estou à porta e bato, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele
comigo (Ap 3,20). Aquele que é a porta, também bate à nossa porta, pedindo
licença para entrar. Escreve um bispo do século VI (Cesário d’Arles): “Como tu
entras nesta igreja, Deus quer entrar na tua alma”.Qual resposta cada um dará
Àquele que pretende entrar pela porta do nosso coração, e permanecer em nossa
vida como amigo e familiar?
Então, todas as vezes
que entramos pela porta da Igreja, recordemos o nosso batismo e, sem ficar na
entrada, continuemos a caminhada com Ele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Ele acrescenta: Ninguém chega ao Pai senão por mim (Jo 14,6). Um autor do século
XII (Guilherme de Saint-Thierry) escreve: “A casa da qual o Senhor é a porta, é
o céu que o Pai habita”. Passar pela porta e entrar na igreja recorda a
caminhada que iniciou no batismo e prossegue nos sacramentos da crisma e eucaristia
e nos orienta rumo à plenitude da vida cristã, até o abraço do Senhor, no dia
em que passaremos desta vida para a eterna.