AS DUAS FONTES DA MORAL EM HENRI BERGSON (I Parte)

A obrigação moral

O ser humano é um ser social e carece da vida em sociedade. Para que isso seja possível faz-se necessário um conjunto de leis e normas que sejam capazes de reger a sociedade. Eis que surge uma indagação que perpassa a vivência humana: o ser humano foi criado para seguir regras? Nesta perspectiva, Bergson nos propõe uma reflexão acerca da obrigação moral que para ele “uma coisa é um organismo submetido a leis necessárias, e outra, uma sociedade constituída por vontades livres” (Bergson, 2005, p. 23).
 Sendo assim, podemos pensar que a vida em sociedade parte de princípios enraizados nos hábitos e estes, por sua vez, seguem suas classificações, a saber: hábitos de comando e de obediência, sendo o segundo de maior abrangência e detentor do poder de exercer em nosso querer uma pressão ao decidir.
Partindo deste itinerário, Bergson adentra o comportamento da humanidade fazendo uso da contemplação da natureza humana deixando em destaque a dignidade do ser, descrevendo assim, as duas fontes da moral.

A moral fechada como pressão social

O autor deixa claro que a sociedade não é formada por seres privados de liberdade, mas sim por indivíduos portadores do livre-arbítrio. É neste contexto que a obrigação não deve ser vista como imposição e sim como uma maneira de acrescentar uma porção de regularidade em relação aos acontecimentos da vida, pois a obrigação tornar-se-á um atributo para a necessidade humana como o hábito torna-se propício à natureza inerente do ser.
A obrigação assume aqui o laço que une os homens, primeiro liga cada ser em si mesmo e depois um eu social em cada um de nós ao eu individual, expressando assim, a essência da nossa atitude obrigacional. Esta ligação é realizada mediante o convívio social. Destaca-se, pois, que a obrigação realizou proezas na vida social graças a inteligência do homem e não ao instinto, pois este, não supera o primeiro. Para enfatizar a necessidade da obrigação.
Analisando a obrigação, a partir deste contexto que o autor nos apresenta, fica visível que esta obrigação moral está entrelaçada em exigências sociais, uma vez que o homem é provido de hábitos que se concretiza na imitação do instinto humano. Para ilustrar este pensamento, Bergson faz uso do exemplo da formiga que trabalha incessantemente no formigueiro para garantir a existência da sua espécie, sem saber ela que tudo não se passa de gestos repetitivos que é próprio da sua espécie. Se a formiga fosse provida de inteligência ela poderia desviar-se do seu itinerário, fugindo assim, dos impulsos nela contidos, afastando-se, então, da obrigação que mantém o formigueiro como ele é.
Segundo o autor, mesmo que realizemos nosso dever, pode surgir em nós o princípio da resistência em fazê-lo e, ao mesmo tempo, não poderíamos afirmar que esse dever necessite ser cumprido mecanicamente, antes, faz-se necessário o querer fazer. A deliberação da vontade, do querer é uma ação que é precedida de comandos racionais.

Élcio Bonfim
3º Filosofia