Quando o bispo preside a celebração,
sobretudo nas solenidades, usa paramentos e insígnias cujo sentido foge à
maioria também dos que frequentam as igrejas. Por isso, quero dar algumas essenciais
explicações a respeito do báculo, da mitra, do anel e do solidéu.
O báculo. No dia da ordenação, o
báculo é entregue com estas palavras: “Recebe o báculo, símbolo do serviço
pastoral, e cuida de todo o rebanho, no qual o Espírito Santo te constituiu
bispo a fim de apascentares a Igreja de Deus” (Rito de ordenação, n. 54). Lembra
o cajado do pastor; recorda a vara com que Moisés abriu o rio Nilo e que bateu
na rocha, fazendo sair a água (cf. Ex 17,5-6). No Salmo 23/22,2-4 se diz: “O
teu bastão e teu cajado me dão segurança”. O bispo, chamado a ser imagem do
‘bom pastor’ (cf. Jo 10,11), deve reunir os fiéis, com amor e firmeza. O
apóstolo Pedro escreve: “Sede pastores do rebanho de Deus, confiado a vós;
cuidai dele, não por coação, mas de coração generoso; não por torpe ganância,
mas livremente; não como dominadores daqueles que vos foram confiados, mas
antes, como modelos do rebanho. Assim, quando aparecer o pastor supremo,
recebereis a coroa imperecível da glória” (1Pd 5,2-4). Como uso eclesiástico,
sua origem é antiga, na liturgia hispânica
desde o século 7º, e em Roma, talvez, no século 9º.
A mitra. Sua origem pode ser encontrada no livro do
Êxodo (28,4), elemento das vestes sagradas – ‘sinal de honra e distinção’ (Ex
28,2) – usadas por Aarão, irmão de Moisés e responsável pelo culto divino.
Sobre a fronte dele, Deus manda fazer (Ex 28, 36), “uma lâmina de ouro puro e
nela gravarás, como se gravam sinetes: ‘Consagrado ao Senhor’”. Sua forma atual
parece ter origem persa, sendo adotada, mais tarde, pelos romanos. Na origem,
era usada só pelo papa; começando pelos séculos 10-11º o uso foi concedido
também aos bispos e abades. Alguém faz referência – pela sua forma dividida em
duas partes – aos raios de luz divina que emanavam do rosto de Moisés (cf. Ex
34,29 e 35). Esse sentido pode ser confirmado pelas palavras dos Preliminares
do Rito de ordenação episcopal que aponta seu simbolismo como “o esforço na
busca da santidade” (Ritual, n. 26).
O anel ‘pastoral’, que o bispo recebe no dia de sua
ordenação, é ”insígnia de fidelidade e da união nupcial com a Igreja, sua
esposa, deve o bispo usá-lo sempre” (Cerimonial dos bispos, n. 58). No momento
da entrega, o bispo ordenante principal, diz ao novo bispo: “Recebe este anel,
símbolo da fidelidade; e com fidelidade invencível guarda sem mancha a igreja,
esposa de Deus” (Ritual, n. 51). Portanto, significa a aliança entre o bispo e
a sua Igreja particular. Como os esposos no dia de seu casamento se empenham
numa aliança fiel um com o outro, assim o bispo assume uma aliança fiel com a
sua Igreja. Na Eucaristia que preside, o bispo – primeiro responsável pela sua
Igreja – celebra a aliança de Jesus com a humanidade e alimenta seus fiéis com
o Pão vivo, sinal permanente dessa aliança de amor.
Enfim, uma palavra a respeito do solidéu¸ “barrete de seda ou pano que alguns
eclesiásticos usam tapando a cocuruto da cabeça” (Aldazábal). A palavra significa
‘somente a Deus’ e recorda a quem o
usa a primazia de Deus em sua vida e seu serviço aos irmãos e irmãs. Seu uso
começou pelo século 14, e cobria toda a cabeça. Em época barroca, reduziu-se à
forma atual. É usado não só nas celebrações, mas acompanha o uso das vestes
talares.
Dom Armando