Continuamos nossa
reflexão sobre ritos e rituais. Na história das religiões,
observamos que os ritos têm ligação com os ritmos da natureza, com a mudança
das estações, as colheitas, a lua, o sol, a chuva etc. Assim, acontecia com o
povo hebreu como entre os Incas, os Maias, os Índios. O ‘mito’ narra a história
que dá fundamento e sentido ao ‘rito’ e às suas expressões rituais e festivas.
O rito pretende imitar
a atividade divina, de forma simbólica, por meio de gestos e palavras que têm
sua origem, razão e fundamento em algo que aconteceu ‘no princípio’, que
pertence à história da divindade cultuada e que o rito relembra e atualiza. Por
isso, deve ser repetido.
Cada rito,
normalmente, tem regras que visam a manter e reproduzir com exatidão os gestos
e atos divinos, assim como narrados por livros ou pessoas que recordam a
história da origem. Desse modo, garante-se a eficácia do rito mesmo. Com o
passar do tempo, o rito pode receber mudanças para se tornar mais compreensível
e eficaz, mas sempre dentro dessa busca de fidelidade com sua origem. Mudar as
regras pode ser causa de conflitos, pelo fato de que os ritos mexem com o
simbólico e o inconsciente das pessoas. Por isso, as pessoas agem e reagem no
nível mais profundo de seu ser, onde moram o sentimento e as emoções; portanto,
as explicações racionais são insuficientes para dar razão das reações que se
encontram no emocional.
Ritos existem em
todas as manifestações sociais e não somente no espaço explícito do religioso.
O jogo de futebol como as olimpíadas, a festa de casamento na roça ou na cidade,
a celebração dos 15 anos ou a morte têm ritos próprios. Cada grupo social
aceita, vive e expressa, de forma repetitiva e fiel ao ritual preestabelecido,
os ritos que foram transmitidos de geração em geração. Assim, as pessoas dão
sentido à vida, facilitam a comunicação, expressam sentimentos, amenizam a dor,
encontram paz interior e recebem ajuda nos momentos de ‘passagem’. Desse modo,
os eventos celebrados adquirem sentido e beleza e ficam repletos de sagrado.
“Ao longo da
história, a palavra ‘rito / ritos’ tornou-se sinônimo de ‘liturgia’. Com
efeito, a liturgia tem muito de ritualidade, com linguagem de gestos e ações
muito em consonância com o sistema cultural de um povo, e que nos ajudam a
exprimir o que sentimos e celebramos” (J. Aldazábal). Hoje, para evitar uma
compreensão do rito como algo puramente exterior ou cerimonial, prefere-se usar
as palavras ‘celebração’ ou ‘ação litúrgica’, como indicou o documento do
Concílio Sacrosanctum Concilium (SC
7.26.112).
Os termos ‘ritos’
ou ‘famílias litúrgicas’ significam também o conjunto de ritos, textos,
leituras, calendários que compõem as expressões litúrgicas de uma determinada
igreja. Temos, assim, os ritos romano, bizantino,
ambrosiano, hispânico etc.
O conjunto de
orações, leituras, gestos e cerimônias para uma celebração
recebe o nome de Ritual. Assim, na
Igreja católica, temos vários rituais: para a celebração de Batismo de
crianças, para a Iniciação cristã de
adultos, para a celebração da Crisma
ou Confirmação, do Matrimônio, da Unção dos Enfermos, da Penitência, da Dedicação de uma Igreja e do Altar, da Profissão Religiosa, das Exéquias
e, de maneira especial, da Santa Missa, o
Missal. No passado, esse livro do altar, era chamado de Sacramentário (nas liturgias orientais,
tinha o nome de Eucológico). Alguns
dos Sacramentários mais famosos da antiguidade têm estes nomes: Leoniano ou Veronense, Gregoriano, Gelasiano (dos séculos 6º - 9º) etc.
Recordo, enfim, que,
além dos Rituais gerais da Igreja, existem Rituais próprios de famílias religiosas,
de dioceses ou regiões.
Dom Armando