29º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras:
Êxodo 17,8-13;
Salmo 120;
2 Timóteo 3,14-4,2;
Lucas 18,1-8

Jesus era homem de intensa oração; passava noites em oração. Antes de fazer escolhas importantes, ele entrava num diálogo profundo com o Pai para compreender o que o Pai lhe comunicava. Seus companheiros ficavam admirados, até curiosos de saber ‘como se deve orar’: “ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1). Jesus ensina; porém, não ensina uma ‘fórmula’, mas uma atitude e o ‘respiro’ para se relacionar com Deus. Recomenda que, na oração, não se usem “muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras” (Mt 6,7). 
Então, como deve ser a oração do cristão? Antes de tudo, um ato de abandono confiante na bondade do Pai: ‘Ele me conhece e me ama; n’Ele posso confiar’. A oração é como o respiro do coração, feita naquele ‘quarto’ onde Jesus convida a entrar (cf. 6,6); é o íntimo da pessoa, onde só a consciência e Deus podem entrar. Aqui, num diálogo sincero, humilde e confiante escuta o que Deus fala ao teu coração (cf. Oseias 2, 16).
A oração deve ser, também, insistente. A parábola de hoje destaca essa atitude. Porém, não para que Deus faça a nossa vontade, mas para que nós, que somos ‘duros de coração’ (cf. Ezequiel 36,26), consigamos entender e acolher o projeto de Deus, tantas vezes de não fácil compreensão. Não é Deus que deve acolher o nosso pedido; seria, ‘pedir mal’, como nos alerta São Tiago – 4,3; nós, “não sabemos o que pedir como convém” (Romanos 8,26!). Somos nós humanos que, às vezes entre lágrimas e dúvidas, devemos acolher o mistério do seu projeto, que é projeto de amor, em nossa vida frágil e ameaçada.
Ainda, a oração deve ser aberta ao projeto do Reino: ‘venha o Teu Reino’, isto é, pedimos que o divino Projeto de amor e justiça se cumpra na terra. Na I leitura, Moisés implora a Deus em favor de seu povo. Ainda mais, nós, discípulos do Senhor Jesus, devemos ter um respiro universal, preocupados não em defender interesses particulares e imediatos (quando não ambíguos!), mas ‘respirar’ com o sentimento de Cristo, como recomenda são Paulo: “Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus” (Filipenses, 2,5).
Como é difícil rezar! Somente o divino Espírito pode nos ensinar a oração que faz entrar no coração de Jesus, o verdadeiro Orante até o último respiro: ‘Pai, em tuas mãos eu me entrego’ (cf. Lc 23,46). Somente uma fé sincera e profunda pode nos tornar ‘orantes’ segundo o coração de Jesus. Mas... Jesus pergunta, de forma provocatória, segundo o evangelista Lucas: “O Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra”? Vale a pena refletirmos. Sem responder logo que sim, que vai encontrar. Melhor, cada um/a se perguntar: ‘como está minha fé? Como a fé ilumina e orienta a minha vida? Acredito mesmo, também quando as seguranças materiais e interiores parecem desmoronar’?
A fé se fundamenta na escuta. Escutemos a Palavra, como recomenda o apóstolo, na II leitura: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil... a fim de que o homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra”. Como os apóstolos, hoje pedimos: “Senhor, ensina-nos a orar’ (Lc 11,1), na certeza de que “Do Senhor é que me vem o meu socorro” (Salmo).
Dom Armando