Depois das reflexões sobre ‘sinais e símbolos’, vamos considerar ‘gestos e palavras’ que entram nas
celebrações litúrgicas. Nós manifestamos a fé com a totalidade do nosso ser, com
o corpo e a alma. O corpo é o nosso ‘eu’ que manifesta o que sentimos dentro de
nós, no íntimo. Então, é importante compreender o sentido de cada gesto que a liturgia
propõe, ligado à cultura e às tradições da história religiosa.
A Instrução Geral do Missal Romano
(IGMR), ao número 42, escreve: “A posição comum do corpo, que todos os
participantes devem observar é sinal da unidade dos membros da comunidade
cristã, reunidos para a sagrada Liturgia, pois exprime e estimula os
pensamentos e os sentimentos dos participantes”. Os gestos, portanto, manifestam
a unidade entre os participantes ao rito e também seus pensamentos e
sentimentos.
De maneira muito essencial, eis algumas explicações
a respeito dos gestos mais frequentes em nossas celebrações.
Em pé. Na IGMR, 43 se lê que, na celebração da
missa, “os fiéis ficam de pé, do início do canto da entrada... até a oração do
dia inclusive; ao canto do Aleluia, antes do Evangelho; durante a proclamação
do Evangelho; durante a profissão de fé e a oração universal; e do convite Orai, irmãos antes da oração sobre as
oferendas até o fim da Missa, exceto nas partes citadas em seguida”.
O corpo, quando em pé, mostra
o ser humano como mediador entre a terra e o céu e manifesta a sua identidade
de ser livre e sinal do seu ser transcendente.
No mundo bíblico, a oração de pé é a atitude mais comum. Expressa
liberdade, respeito e disponibilidade em executar. No livro de Neemias (8,5) se
lê: “Esdras abriu o livro na vista de todo o povo... e todo o povo se pôs de pé”. No evangelho de Marcos (5,41), Jesus
dá uma ordem: Menina, eu te digo,
levanta-te. A menina, que estava sendo levada para o cemitério, logo se
levantou. O evangelista Lucas (7,14) conta algo parecido a respeito do filho da
viúva de Naim: Jovem, eu te ordeno: ‘levanta-te’.
O termo ressuscitar significa ‘ficar
de pé’, ‘surgir de novo’ (ressurgere, em latim). Logo, compreendemos que o ficar em pé para nós cristãos tem sentido muito profundo. Com a posição
do corpo, expressamos a fé que fundamenta nossa vida cristã. Pelo batismo, o
cristão participa da morte e da ressurreição de Jesus. Por isso, o estar em pé nas celebrações litúrgicas expressa
a fé na ressurreição e, também, a esperança da plenitude na vida futura que nos
acompanha. O evangelista Lucas termina o discurso escatológico com as palavras: “Ficai acordados, portanto em todo
momento, para terdes a força de... ficar
de pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36).
Por essas razões, os cristãos dos
primeiros séculos não ajoelhavam durante o tempo pascal. “tempo de alegria e de
vitória, - escreve são Jerônimo - em que nós não nos inclinamos para a terra,
mas onde, ressuscitando com Cristo, nós somos levados para as alturas do céu”.
Isso não significa perder de vista o sentido do se ajoelhar que, como veremos, significa
que nós ainda não vivemos na plenitude da vida, mas estamos a caminho.
Dom
Armando