DIOCESE DE
LIVRAMENTO DE NOSSA SENHORA (BA)
AVALIANDO AS
ELEIÇÕES
Nós, membros do Conselho Pastoral Diocesano, reunidos
nos dias 18 – 20 de novembro de 2016, no Centro Diocesano em Livramento, depois
de uma ‘avaliação’ das últimas eleições municipais, queremos apresentar algumas
reflexões e propostas aos irmãos e às irmãs, não só de nossa Igreja, mas a todos
os cidadãos que sonham e querem uma vivência melhor em nossos Municípios.
A cada quatro anos, todos os
cidadãos, a partir dos 16 anos, são convocados à escolha de Prefeito,
Vice-Prefeito e Vereadores, isto é, dos que irão administrar o Município. É uma
conquista, fruto de tantas lutas populares e de longas reflexões, e preciosa oportunidade
para exercer cidadania e democracia. A Constituição, carta magna que orienta a
vida política do País, reconhece este direito-dever, e todo cidadão é chamado
a exercê-lo com consciência e responsabilidade.
A Igreja católica “não tem soluções
para todas as questões específicas. Mas, juntamente com as várias forças
sociais, acompanha as propostas que melhor correspondem à dignidade da pessoa
humana e ao bem comum” (Papa
Francisco, A alegria do Evangelho –
EG, 241); “A ordem justa da
sociedade e do Estado é tarefa principal da política” e não da Igreja. Mas, a
Igreja “não pode nem deve colocar-se à margem na luta pela justiça” (Papa Bento XVI, Deus é Caridade, 28).
A partir desses princípios que
orientam a vida social e política em todos os níveis da humana convivência, a
Igreja católica avalia e aponta comportamentos e escolhas. Por isso, antes das
eleições, o Bispo diocesano Dom Armando escreveu uma ‘carta aberta’, dirigida
não só aos cristãos católicos, mas ‘a todas as pessoas que sonham e querem um
país melhor’.
Agora, nesta carta, iniciamos com uma
pergunta: a campanha eleitoral e as eleições foram expressão de democracia
e de cidadania? Com certeza, o fato de poder escolher os próprios representantes
para administrar o Município é preciosa oportunidade e exercício de democracia.
Nesse exercício, reconhecemos como muito positiva a intervenção de Promotores e
Juízes que, com firmeza, acompanharam o pleito eleitoral, favorecendo a paz e a
ordem entre as partes. Porém, numerosos comportamentos que vimos e ouvimos
entre eleitores e candidatos, continuam nos deixando perplexos.
Infelizmente, a ‘compra e venda’ de
votos continuaram dominando e determinando a escolha de boa parte dos
candidatos. Ainda, tantas pessoas, de maneira mais ou menos disfarçada, ignoram
os valores afirmados pela Constituição, e fazem suas propostas e aceitam escolhas
segundo comportamentos ilegais (contra a Lei dos homens) e imorais (contra a
Lei de Deus).
Infelizmente, às vezes, vende-se o
voto por necessidades econômicas; ou, segue-se o costume de ‘tirar vantagem’! Desse
modo, apoiam-se candidatos não pela competência, honestidade ou projetos
sociais válidos, mas, só em vista de privilégios, de poder e de dinheiro.
Até quando não superarmos essa
praxe, não podemos dizer que vivemos relações democráticas e a liberdade fica comprometida
em sua raiz; em consequência, o governo continua à mercê dos ‘espertos’ que visam
interesses particulares, pessoais ou de grupo, e não o ‘bem comum’.
É por isso que o pleito eleitoral
não acontece a partir de propostas, programas e compromissos que façam crescer
a qualidade de vida dos cidadãos, sobretudo em setores fundamentais da vida
social, como educação, saúde, comunicação, lazer e esporte, segurança, entre
outras. Ao invés, temos uma acirrada competição para ganhar ou defender o poder,
às vezes um poder arrogante, insuficiente ou podre. Promessas de campanha se
tornam palavras vazias, sem compromisso com o povo; promessas logo esquecidas
por quem as fez e por quem as escutou! Enquanto isso, os mais pobres, não só economicamente,
tornam-se instrumento barato para defender privilégios de alguns. Assim, aumenta
o fosso que separa privilegiados e fragilizados, ‘vencedores’ e ‘empobrecidos’.
E os que mais gritaram nas manifestações e ‘imaginam’ ser os mais atendidos, continuam
sendo, de fato, os mais esquecidos.
Observamos, com amargura, o deplorável
costume de, nos comícios de Campanha, os Candidatos, quase sempre, falarem mal
do adversário, usando palavras de baixo calão e (quase sempre) não apresentando
propostas de verdadeira política, isto é, de como pretendem ‘administrar’ o
Município!
É triste ver o povo, em geral,
bater palmas quando ouve xingamentos e ofensas do ‘adversário’! Revela-se o
(ainda) baixo nível de consciência política e ética de muitos cidadãos! Enquanto
bem pouco se propõem e discutem programas que visem ao ‘bem comum’ dos cidadãos!
E que dizer das alianças costuradas, hoje, com os ‘amigos’ que ontem eram
‘inimigos’ e que, com boa probabilidade, serão os ‘inimigos’ na campanha que
virá?
Esse cenário reaparece a cada
quatro anos. Neste ano, algo novo chamou nossa atenção: muitos cidadãos recusaram
o dever – direito do voto, votando ‘em branco’, ou anulando seu voto, ou
deixando de comparecer. É claro sinal de um mal-estar que aumenta e afeta a
consciência de numerosas pessoas que, desse modo, lançam a clara mensagem: ‘é
preciso rever’, ‘é preciso mudar’, ‘é preciso seguir um estilo diferente de
exercer esse direito’.
Sim, o voto deve estar mais de
acordo com seu sentido: escolher os representantes do povo na busca de
construir uma sociedade mais unida, justa e solidária, que ofereça condições de
vida digna e um futuro melhor para todos. Pretender, isso, é ilusão? Nós
queremos que não seja! Ao contrário, queremos que se torne ‘sonho sonhado em mutirão’,
com renovada consciência e responsabilidade. Ainda mais que temos clara
consciência de que, se não fizermos escolhas com sabedoria e clareza, acontecerá
o que os antigos profetas diziam: “Os pais comeram uvas verdes e os dentes dos
filhos ficaram embotados” (Ez 18,2). O preço dos nossos erros será pago, num
amanhã não distante, pelos nossos filhos. Sabemos que, no bem e no mal, existe
uma profunda ligação entre as gerações.
Agora que as escolhas aconteceram,
é preciso refletir e tomar claras e firmes decisões. Para isso,
recordando orientações que já demos no passado, apresentamos, com essas reflexões, algumas propostas.
a)
Antes de tudo, fiscalizar e/ou apoiar os escolhidos para que sejam coerentes com as
promessas de campanha;
b)
Marcar presença nas sessões semanais na Câmara para acompanhar projetos
e propostas que interessam a vida social e econômica dentro da realidade local
do Município;
c)
Intervir, na Tribuna do Povo, quando precisar, com propostas em nome de
grupos e associações para tornar efetivo o melhor desenvolvimento;
d)
Participar dos Conselhos Municipais, com competência e exigindo
transparência na elaboração dos projetos, em sua execução e na prestação de
contas.
e)
Combater a corrupção em todos os lugares
(Executivo, Câmara de Vereadores, Sindicatos, Associações etc.);
f) Exigir transparência dos gastos
públicos;
g) Cobrar o orçamento participativo, isto
é, reuniões nas quais o povo diz onde quer que os recursos da prefeitura sejam
aplicados;
h) Denunciar os que praticam injustiças, procuram
só interesses particulares, perseguem os de diferente partido e afastam, ou
querem o afastamento dos funcionários somente por que não votaram no candidato
que ganhou.
Concluindo, recordamos o que pede o
papa Francisco: “Em cada nação, os habitantes (sejam) cidadãos responsáveis...
e não massa arrastada pelas forças dominantes”; e ainda: “a participação na
vida política é uma obrigação moral” (EG, 220). Para os cristãos católicos os
ensinamentos têm valor para todas as pessoas de boa vontade - o papa aponta o
conhecimento e a prática da Doutrina Social da Igreja, “primeiro e fundamental
parâmetro de referência para a interpretação e o exame dos fenômenos sociais”
(EG, 221).
Só assim
estaremos colaborando, de verdade, com uma administração transparente nos
nossos municípios, lembrando sempre que o voto não tem preço, tem consequências.
Conselho
Pastoral Diocesano
Livramento
de Nossa Senhora – BA
Dia
da Consciência Negra.