1.
A Posição
do corpo – III
Estamos
considerando as diferentes posições do
corpo nas celebrações litúrgicas; já vimos o estar em pé e o estar
sentados; analisamos, agora, o estar de
joelhos.
A
Instrução Geral do Missal Romano (IGMR), n. 43, depois das orientações a
propósito do estar sentados, continua: “Ajoelham-se, porém durante a
consagração, a não ser que, por motivo de saúde ou falta de espaço ou o grande
número de presentes ou outras causas razoáveis não o permitam. Contudo, aqueles
que não se ajoelham na consagração, façam inclinação profunda enquanto o
sacerdote faz a genuflexão após a consagração”. Em seguida, diz-se que compete
à Conferência dos Bispos “adaptar, segundo as normas do Direito, à índole e às
legítimas tradições dos povos, os gestos e posições do corpo”. Acrescenta-se
que “onde for costume o povo permanecer de joelhos do fim da aclamação do Santo
até o final da Oração eucarística e antes da Comunhão..., é louvável que ele
seja mantido”.
De
joelhos! O que significa esse gesto? Na Bíblia, encontram-se numerosas cenas em
que a pessoa se ajoelha diante do Senhor. O Salmo 95/94 (1.6-7) canta: “Vinde,
exultemos no Senhor, aclamemos o Rochedo que nos salva... Entrai, prostrai-vos
e inclinai-vos, de joelhos, frente ao Senhor que nos fez! Sim, é ele o nosso
Deus e nós o povo do seu pasto, o rebanho de sua mão”. Em Isaías (45,23), o
Senhor afirma: “Com efeito, diante de mim se dobrará todo o joelho... dizendo:
só no Senhor há justiça e força”. No dia da Dedicação do Templo de Jerusalém, o
rei Salomão se prostra “diante do altar do Senhor” e “se ajoelha diante de toda
a assembleia de Israel” (2 Crônicas 6,13); o mesmo faz o escriba Esdras “na
hora da oblação da tarde” (Esdras 9,5). Os apóstolos, quando Jesus foi ao
encontro deles caminhando sobre as águas, ‘prostraram-se’, dizendo:
‘Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus’ (cf. Mateus, 14,33).
Então,
esse gesto, sobretudo quando o fiel
entra em contato com a terra, manifesta entrega, submissão, adoração, dom-de-si,
confiança total, busca de encontrar novas forças, com a ajuda divina, para
continuar a caminhada, reconhecimento de Deus como Senhor da vida, abandono,
numa palavra, amor. Não é gesto servil ou que humilha, quando vivido com sincera
humildade reconhecendo que somos feitos de ‘húmus’, de barro e pó, e
colocando-nos em adoração diante do Senhor. O papa Bento XVI afirmava:
“Ajoelhar-se diante da Eucaristia é uma profissão de liberdade: quem se dobra
diante de Jesus não pode nem deve prostrar-se diante de nenhum poder terrestre,
por forte que seja” (Homilia, 22 de maio de 2008). Ainda mais que, o nosso Deus
nos revelou seu rosto em Jesus, rosto de quem ama ao ponto de “abaixar-se e
tornar-se obediente até a morte, à morte sobre uma cruz” (cf. Filipenses 2,8);
Ele que, ajoelhado diante dos discípulos, lava seus pés (cf. João 13, 2-15).
Por isso, continua São Paulo, “ao nome de Jesus todo joelho se dobre”
(Filipenses 2,10).
Por isso, o ajoelhar-se do cristão
recorda, antes de tudo, Jesus que, sendo Deus, se rebaixou com humildade e
confiança, diante do Pai e aos pés dos humanos, e nos convida para sermos, diante
de Deus e dos irmãos, servos por amor, com Ele e como Ele.
Dom Armando