As ProcIssões
Hoje, vamos refletir sobre as procissões que, de diferente maneira,
realizamos em nossas celebrações litúrgicas.
Caminhar, ‘fazer a fila’, marchar... faz
parte da vida humana. Um dos primeiros sucessos na vida é aprender caminhar. Às
pessoas que passam muito tempo sentadas, ou para melhorar a saúde, os médicos pedem
para ‘caminhar’. O caminhar tem um sentido concreto, é uma necessidade prática,
mas tem, também, um sentido simbólico. Jesus mesmo se apresenta como ‘O
Caminho’ (Jo 14,6); os primeiros cristãos eram chamados de ‘os do Caminho’ (cf.
Atos 9,2; 18,25.26; 19,9.23).
A vida é caminho rumo à vida plena, à
pátria definitiva, junto de Deus, para sempre. Caminhar é preciso, mas, tendo
uma meta, o caminho adquire sentido. Anda bem pelos caminhos da vida somente
quem tem uma razão e ama, quem espera e sonha.
Jesus, em sua atuação entre nós, deu a
capacidade de caminhar a paralíticos, ao mesmo tempo, perdoando pecados; disse:
“Levanta-te e anda... toma tua cama e vai para casa” (cf. Mt 9,5-6). Ser
perdoados e recuperar a capacidade de andar coincidem!
Para
compreendermos o sentido litúrgico das procissões, é preciso entrar nesse
simbolismo.
1.
Na celebração da Eucaristia, temos quatro procissões: de entrada, para a
proclamação do Evangelho, na apresentação dos dons, de comunhão. Cada uma tem
seu significado específico e favorece nossa participação litúrgica. Também se,
só alguns realizam a procissão, todos devem se sentir parte e compreender o
sentido das procissões para entender o ‘caminhar’ na vida e na fé. Santo Agostinho perguntava: “O que significa
‘marchar’?”; E respondia: “Marchar é
progresso no bem, progresso na direção do bem, na autenticidade de vida”. Os ídolos de ouro, de prata, de bronze, de
pedra e de madeira, não podem ver, nem ouvir ou andar (Ap 9,20).
2.
Deus repete a cada um de nós o que disse a Abraão: “Ande na minha presença e sê
perfeito” (Gn 17,1). Os hebreus, no deserto, caminharam por quarenta anos,
seguindo a coluna de fogo; também nós cristãos devemos caminhar na presença de
Deus, rumo à Cidade definitiva “porque não temos aqui cidade permanente, mas
estamos à procura da cidade que há de vir” (Hb 13,14). Para irmos a Ele,
devemos ‘caminhar com Ele. E Jesus mesmo, como com os discípulos de Emaús (cf.
Lc 24,13-35), torna-se companheiro de caminhada. Como a Mateus, Ele repete: ‘Segue-me’;
nossa resposta seja a mesma do apóstolo que, “levantando-se, o seguiu” (cf. Mt
9,9).
3.
Também na celebração do batismo a liturgia propõe algumas procissões
repletas de sentido; nas exéquias, tem a procissão da casa do falecido à
igreja, e dessa, até ao cemitério. Temos, ainda, as procissões da piedade popular.
Nas festas do padroeiro, com sua imagem, caminhamos pelas ruas da comunidade. Sair
da Igreja se torna um sinal para dizer que o Evangelho não pode ficar preso nas
igrejas, mas deve ser ‘bela notícia’ anunciada e testemunhada a todos.
4.
Ao longo do ano, a liturgia propõe a procissão da Apresentação do Senhor
ao Templo, como ‘luz para as nações’ (2 de fevereiro); a do Domingo de Ramos,
celebrando a entrada de Jesus em Jerusalém; a da Quinta-feira Santa, levando
solenemente o Santíssimo para o lugar da reserva eucarística; a da Sexta-feira
Santa, para adorar a cruz; enfim, a bonita procissão da Vigília pascal, seguindo
o Círio, símbolo de Cristo Ressuscitado, Luz para a humanidade.
Com as procissões, então, manifestamos o
desejo e o empenho de seguir nossa vocação na vida,
caminhando ‘na estrada de Jesus’, Caminho que leva ao Pai.
Dom
Armando