EXPLICANDO ALGUMAs PALAVRAS
(II)
Estamos conversando a respeito de algumas
palavras, de não imediata compreensão, usadas na liturgia. Depois da palavra epiclese (invocação ao divino Espírito),
outra que retorna é doxologia, quer dizer ‘palavra de glória’ (do grego, logia e doxa).
No Novo Testamento, expressões de louvor
se encontram, sobretudo, nas cartas de Paulo. Por exemplo, em Romanos
(11,36): “Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos!
Amém”; ainda: “A Deus, o único sábio, por meio de Jesus Cristo, seja dada a
glória, pelos séculos dos séculos” (Rm 16,27).
Na Missa,
a mais importante é a doxologia que
conclui a Oração eucarística: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a vós, Deus Pai
todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória,
agora e para sempre”. O povo responde com o Amém,
o mais importante da celebração, com que expressa sua fé em tudo o que o
Presidente da celebração afirmou. Uma solene doxologia é, também, o hino de louvor: “Glória a Deus nas
alturas...”; ainda, as palavras “Vosso é o Reino, o poder e a glória” que, na
atual liturgia, encontram-se em conclusão da oração (chamada de embolismo) que segue ao Pai-nosso; essa doxologia, provavelmente, pertencia à Oração
do Senhor, como documenta o antigo livrinho, a Didaqué (8,2).
Na Liturgia das Horas,
os hinos se concluem, de costume, com uma estrofe de louvor, “dirigida à própria
Pessoa divina a quem se dirige o hino” (IGLH 174), uma verdadeira doxologia. Ainda, na tradição cristã, os
Salmos terminam com as palavras: Glória
ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, que “vem dar à oração do Antigo Testamento
um sentido laudativo, cristológico e trinitário” (IGLH 123); essa oração é uma
das mais repetidas pelo povo cristão, uma pequena e densa doxologia.
Podemos concluir, afirmando que a doxologia expressa a finalidade da
liturgia e da vida humana. Eis porque o amém
que pronunciamos manifesta toda a nossa adesão ao projeto de Deus na e com a nossa
vida.
Chamei de embolismo a oração que
segue ao Pai-nosso. A palavra significa ‘acréscimo’,
‘o ato de introduzir algo’. Na liturgia, refere-se a algo que se acrescenta
como é, de fato, o “Livrai-nos de todos os males, ó Pai”, que segue ao
Pai-nosso; “desenvolvendo o último pedido do Pai-nosso, o embolismo suplica que toda a comunidade dos fiéis seja libertada do
poder do mal” (IGMR 81).
Ainda, um breve comentário a respeito do
termo, mais comum, elevação. Refiro-me, de maneira mais direta, à elevação do Pão
e do Vinho. Na missa, há três elevações:
-
na apresentação das oferendas, o sacerdote toma o pão e, em seguida, o vinho,
eleva-os ‘um pouco do altar’ e os apresenta ao povo, dizendo as palavras
“Bendito sejais Senhor, Deus do universo”;
-
o mesmo acontece depois da Consagração do pão e do vinho, ‘elevados um pouco’ e
oferecidos à adoração dos fiéis;
-
enfim, na doxologia que conclui a Oração Eucarística: o pão e vinho são
elevados mais em alto, num gesto expressivo de apresentar a Deus ‘toda honra e
glória’. Observo que o Pão não é ‘mostrado’ ao povo, mas é apresentado a Deus;
por isso, se apresenta ao Pai o Pão consagrado, dentro da âmbula ou da patena. Assim,
nossa vida toda se torne um perene louvor ao Pai, por meio do Filho, no Espírito
Santo.
Dom Armando