12. GESTOS E PALAVRAS NA LITURGIA

A VIA-SACRA
Durante o tempo da Quaresma, as nossas comunidades têm o hábito de celebrar a Via-sacra (chamada, também, de Via crucis, isto é, Caminho da cruz). Nela, os cristãos refletem sobre os sofrimentos de Jesus, em seu caminho, rumo ao Calvário; suas últimas palavras às pessoas que o encontram e tiveram a coragem de acompanhá-Lo nesta hora de dor.
A Via-sacra é uma expressão da piedade popular; teve origem pelo século 14, incentivada e difundida, sobretudo, pelos frades franciscanos. As ‘estações’ foram organizadas somente mais tarde, até chegar a 15, incluindo a Ressurreição do Senhor, ponto de chegada da salvação que o Senhor realizou com sua morte na cruz.
No século 18, começou-se a introduzir nas igrejas as imagens, para favorecer a meditação por parte dos fiéis que fazem esse exercício de piedade e contemplam cada estação, ficando nos bancos, enquanto o ministro caminha ao redor da igreja.
Essa devoção popular recebeu grande acolhida por parte do povo católico, e o apoio dos pastores. Meditar a paixão de Jesus, à luz de sua vitória, é ocasião preciosa para rever a própria vida, iluminada pelo mistério pascal de Cristo. Numa linguagem simbólica e dramática, a Via-sacra envolve nas dores não só as de Jesus e as dos que protagonizaram sua paixão; neles, os fiéis se identificam e leem sua experiência de vida.
É praxe meditar os ‘quadros’ da vida de Cristo e compará-los com a realidade dos homens e das mulheres de hoje. Exemplo significativo é a Via-sacra que o papa celebra, todos os anos, na sexta-feira santa. De fato, a paixão de Jesus continua na humanidade. A dor de Jesus, com a esperança por Ele doada, ilumina e sustenta, em sua dor, todos que continuam sofrendo pela injustiça, a exclusão, a violência, a opressão, a humilhação... de mil maneiras.
O Concílio Ecumênico Vaticano II, no documento Sacrosanctum Concilium (n. 13), sobre Liturgia, fala dos ‘piedosos exercícios do povo cristão’ que “são encarecidamente recomendados”. Acrescenta-se: “Considerando os tempos litúrgicos, esses exercícios devem ser organizados de tal maneira que condigam com a Sagrada Liturgia, dela de alguma forma derivem, para ela encaminhem o povo, pois que ela, por sua natureza, em muito os supera”.
Fundamentados nessa perspectiva de SC, a Igreja promoveu sempre mais, com respeito, compreensão e, às vezes, orientando e corrigindo, as tantas expressões da piedade popular. O Catecismo da Igreja católica afirma: “Há necessidade de um discernimento pastoral para sustentar e apoiar a religiosidade popular e, se for o caso, para purificar e retificar o sentido religioso que embasa essas devoções e para fazê-las progredir no conhecimento do mistério de Cristo” (n. 1676). Acrescenta: “Velando para mantê-las à luz da fé, a Igreja favorece as formas de religiosidade popular que exprimem um instinto evangélico e uma sabedoria humana e que enriquecem a vida cristã” (n. 1679).
A Via-sacra é expressão bonita dessa piedade popular. Desejo que, nesta quaresma, sua celebração se torne momento de graça e esse sinal de fé, simples e singela, amadureça em cada um/a o amor ao Senhor Jesus que ‘por nós morreu na cruz’.

Dom Armando