A VIA-SACRA
Durante o tempo
da Quaresma, as nossas comunidades têm o hábito de celebrar a Via-sacra (chamada, também, de Via
crucis, isto é, Caminho da cruz). Nela, os cristãos refletem
sobre os sofrimentos de Jesus, em seu caminho, rumo ao Calvário; suas últimas
palavras às pessoas que o encontram e tiveram a coragem de acompanhá-Lo nesta
hora de dor.
A Via-sacra é uma expressão da piedade
popular; teve origem pelo século 14, incentivada e difundida, sobretudo, pelos
frades franciscanos. As ‘estações’ foram organizadas somente mais tarde, até
chegar a 15, incluindo a Ressurreição do Senhor, ponto de chegada da salvação
que o Senhor realizou com sua morte na cruz.
No século 18,
começou-se a introduzir nas igrejas as imagens, para favorecer a meditação por
parte dos fiéis que fazem esse exercício de piedade e contemplam cada estação,
ficando nos bancos, enquanto o ministro caminha ao redor da igreja.
Essa devoção
popular recebeu grande acolhida por parte do povo católico, e o apoio dos
pastores. Meditar a paixão de Jesus, à luz de sua vitória, é ocasião preciosa
para rever a própria vida, iluminada pelo mistério pascal de Cristo. Numa
linguagem simbólica e dramática, a Via-sacra
envolve nas dores não só as de Jesus e as dos que protagonizaram sua paixão;
neles, os fiéis se identificam e leem sua experiência de vida.
É praxe meditar
os ‘quadros’ da vida de Cristo e compará-los com a realidade dos homens e das
mulheres de hoje. Exemplo significativo é a Via-sacra que o papa celebra, todos os anos,
na sexta-feira santa. De fato, a paixão de Jesus continua na humanidade. A dor
de Jesus, com a esperança por Ele doada, ilumina e sustenta, em sua dor, todos
que continuam sofrendo pela injustiça, a exclusão, a violência, a opressão, a
humilhação... de mil maneiras.
O Concílio
Ecumênico Vaticano II, no documento Sacrosanctum
Concilium (n. 13), sobre Liturgia, fala dos ‘piedosos exercícios do povo
cristão’ que “são encarecidamente recomendados”. Acrescenta-se: “Considerando
os tempos litúrgicos, esses exercícios devem ser organizados de tal maneira que
condigam com a Sagrada Liturgia, dela de alguma forma derivem, para ela
encaminhem o povo, pois que ela, por sua natureza, em muito os supera”.
Fundamentados
nessa perspectiva de SC, a Igreja promoveu sempre mais, com respeito,
compreensão e, às vezes, orientando e corrigindo, as tantas expressões da piedade popular. O Catecismo da Igreja católica afirma: “Há necessidade de um
discernimento pastoral para sustentar e apoiar a religiosidade popular e, se
for o caso, para purificar e retificar o sentido religioso que embasa essas
devoções e para fazê-las progredir no conhecimento do mistério de Cristo” (n.
1676). Acrescenta: “Velando para mantê-las à luz da fé, a Igreja favorece as
formas de religiosidade popular que exprimem um instinto evangélico e uma
sabedoria humana e que enriquecem a vida cristã” (n. 1679).
A Via-sacra é expressão bonita dessa piedade popular. Desejo que, nesta quaresma, sua celebração se torne momento de
graça e esse sinal de fé, simples e singela, amadureça em cada um/a o amor ao
Senhor Jesus que ‘por nós morreu na cruz’.
Dom Armando