3º DOMINGO DA QUARESMA

“Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”.

Leituras:
Êx 17,3-7
Sl 94
Rm 5,1-2.5-8
Jo 4,5-15.19b-26.39a.40-42

Sendo a quaresma entendida como o período de preparação para a solenidade da Páscoa de Nosso Senhor, indicando mudança de vida e preparação para adentrar em um novo ciclo, a liturgia do 3° Domingo desse tempo vem em nosso auxílio, propondo-nos a conversão à pessoa de Jesus e enfatizado o reavivamento do nosso batismo. A partir do encontro com Cristo, temos acesso ao dom de Deus que se faz presente nele, à fonte de água vivificante que jorra para a vida eterna. Esse encontro gera compromisso com a vida nesse mundo e com Cristo, e nos concede a graça de participar da sua ressurreição.
Na Primeira Leitura, perante o infortúnio da falta de água, o povo murmura contra Moisés, deixando transparecer uma rejeição ao plano divino, uma vez que questionam o projeto de libertação: “Por que nos fizeste sair do Egito? (v.3). Nesse contexto, Deus não se faz indiferente ou vingativo, mas age com misericórdia. Saciando a sede dos israelitas, e ao longo de todo o êxodo, Ele manifesta sua presença numa dimensão de profunda intimidade: caminha junto ao seu povo, envolve-se em sua história. Mais que um suplemento nos momentos difíceis, o Senhor é o condutor e o orientador do povo, que tem a salvação como grande meta.  
No Evangelho, São João, na tentativa de descrever o dom de Deus em Cristo, o apresenta como fonte de água vivificante jorrando para a vida eterna. Diante do poço de Jacó, dado por ele ao seu filho predileto, José, está Jesus, o Filho predileto do Pai. Jacó saciou a sede dos seus e de sua criação com a água corrente do poço, mas Jesus, o Filho de Deus, que caminha com o seu povo, oferece a água viva que jorra para a vida eterna. Nessa cena, Jesus nos apresenta o tema da misericórdia: dialogando com a Samaritana, quebra preconceitos, abrindo o coração a uma pessoa necessitada. A partir do encontro com Cristo, a samaritana, pagã e de vida desregrada, converte-se e torna-se discípula, convidando seus conterrâneos com as palavras: “vinde e vereis” (v.29), assim como Filipe convidou Natanael: “Vem e vê” (Jo 1,46). Ainda, ao estar com os discípulos, Jesus apresenta que para além da vida biológica está a vida espiritual, e acentua a necessidade de alimentar a vida com Deus, através do contato e da proximidade. Assim, a preocupação não deve estar apenas no pão perecível, mas no “alimento capaz de dar a vida eterna” (Jo 6,27).
Seguindo o convite do salmista, perante o projeto de salvação que nos é proposto, não fechemos os nossos corações, mas ouçamos a voz de Deus, a exemplo da samaritana, que reconheceu o Messias e aceitou o plano divino. Interessante notar o poder da Palavra de Jesus: os samaritanos professaram a fé em Jesus não pela realização de prodígios, como o milagre da água ocorrido no deserto, mas pela força da Palavra: “nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo” (v.42).
Que esse tempo quaresmal seja oportuno para encontrarmos com Cristo, reconhecendo-o como Messias e Salvador. Que possamos sair do pecado e ir ao seu encontro, tornando-nos testemunhas, conhecendo e vivendo o dom de Deus, realizando a vontade do Pai.  A experiência cristã de uma vida nova, onde, do relacionamento com Deus, brotam paz e confiança, conforme dito por São Paulo na Segunda Leitura, nos é dada através do batismo, do encontro com Cristo. Abramos, portanto, nossos corações ao amor de Deus e conheçamos o seu dom, em Jesus Cristo, para que em nós brote a fonte de água viva que jorra para a vida eterna.
Júlio César
3º Teologia