CAFÉ FILOSÓFICO: Em busca da Felicidade


 A verdadeira felicidade não consiste em ter muito, mas em contentar-se com pouco” (Santo Agostinho).
Ser feliz é um dos grandes anseios da humanidade. No decorrer da história cada povo, cada cultura procurou defini-la de uma maneira e buscá-la em diferentes lugares ou coisas. Contudo, é necessário questionarmos se realmente existe uma receita que nos traga a tão almejada felicidade, ou se ela é fruto das nossas ações, ou de exercícios que todos podem praticar para consegui-la. Em uma sociedade marcada pela cultura do individualismo, pelo consumo desenfreado, onde se coloca o gozo nos bens materiais e os prazeres imediatos acima de tudo e de todos, fica-nos a dúvida se ser feliz é possível ou acaba sendo somente mais uma utopia.
Na Grécia Antiga, diversas foram às concepções de felicidade, ligando-a muita das vezes à atividade do sábio, sendo que este é (era) capaz de levar uma vida virtuosa através da reflexão filosófica sobre suas ações, bem como, o destino da polis. Conforme Marino, para Platão, discípulo de Sócrates, “[...] os seres humanos só poderiam ser felizes vivendo no seio de uma comunidade bem organizada” (MARINO, 2012, p.27), ou seja, seremos felizes se vivermos de acordo com a nossa natureza, contribuindo para a organização da polis, tendo assim uma cidade justa, sendo que cada indivíduo receberia uma educação de acordo com a sua natureza.
Aristóteles, mesmo rejeitando a utopia de seu mestre, desejava uma cidade justa e feliz e acreditava ser a felicidade o fim último de todas as coisas. Segundo Marino, na visão do Estagirita, vivemos para ser feliz e agir bem, sendo a felicidade o resultado de todas as nossas ações “[...] Esse fim, a que todos os outros fins se subordinam, não pode ser outro que a eudaimonia, a vida boa, a vida feliz. Em que consiste a verdadeira felicidade?” (MARINO, 2012, p.29). Dessa forma, a felicidade consiste no hábito da prática da virtude “[...] nosso dever moral é justamente bem desempenhar nela nosso papel, para tanto sendo necessário adquirir as virtudes correspondentes a suas funções sociais”.  (MARINO, 2012, p.29)
Santo Agostinho, cujos pensamentos influenciaram a Idade Média, não concorda com as ideias dos pensadores gregos, pois, para ele “[...] os filósofos gregos não conseguiram encontrar a chave da felicidade humana, pois ela só pode ser encontrada no encontro amoroso com Deus-Pai, que Jesus Cristo anunciou em seu Evangelho, pois a felicidade é uma questão de amar e não de conhecer como queria Platão” (MARINO, 2012, p.35).
No seu livro intitulado Confissões, ele diz que “[...] esta é a felicidade: alegrar-nos em ti, de ti e por ti. É esta a felicidade e não há outra. Quem acredita que exista outra felicidade persegue uma alegria que não é a verdadeira” (CONFISSÕES, 2018, p. 291). Mais adiante ele diz que nem todos desejam ser feliz “Portanto, não podemos dizer com segurança que todos queiram ser feliz, pois aqueles que não querem alegrar-se em ti – única felicidade - certamente não querem ser felizes” (CONFISSÕES, 2018, p. 291), ou seja, para o Bispo de Hipona, só em Deus encontramos a felicidade plena.
Entretanto, na contemporaneidade, o conceito de felicidade se diversifica bastante, tendo assim uma exuberância de conceitos atribuídos a ela. Um deles nos é dado pelo cantor e compositor Zeca Baleiro, na sua canção, Felicidade pode ser qualquer coisa, “Felicidade pode ser qualquer coisa/ Uma cachaça, um beijo, um orgasmo/ Um futebol na tarde de domingo/ Uma canção de Roberto e Erasmo”.
Diante disso, percebemos o quanto a felicidade acompanha o homem no decorrer de sua vida e na formação de sua identidade, e que apesar das diferentes concepções que a ela foram dadas, essa busca nunca ocorre de maneira solitária como muitos acreditam, mas sucede por meio da intersubjetividade.

João Batista Oliveira
2º Ano

REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Paulus, 2018.
JÚNIOR, Raul Marino. Em busca de uma Bioética global. São Paulo: Hagnos, 2009.
Disponível em:< www.letras.mus.br/zeca-baleiro/felicidade-pode-ser-qualquer-coisa/>. Acesso em 05 de abr. de 2019.