A
sugestão de leitura dessa semana vem atender ao pedido de um leitor do blog.
Ele leu este livro, gostou muito e escreveu para a equipe dizendo que gostaria
de ler um comentário sobre a obra. Então, para esse leitor, a quem muito
agradecemos pela contribuição, e para os demais...
Eu
te sugiro...
Leia
“A menina e o pássaro encantado”.
O
autor da obra é Rubem Alves, que é filósofo, teólogo, psicanalista,
educador
e escritor.
Ele é autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e
existenciais, além de uma série de livros infantis. Rubem Alves nasceu em 15 de
setembro de 1933, em Boa Esperança, Minas Gerais. Dentre suas obras,
destacam-se: Pinóquio às avessas; Filosofia da religião; Por uma educação romântica; Concerto para corpo e alma;
O amor que acende a lua.
O
livro é classificado como literatura infantil. Costumo dizer que, nesse caso, é
livro para criança ler e é também livro para o adulto ler para criança. Sem
dúvida, os dois, adulto e criança, crescerão. Aproveito para fazer outro
comentário. Já ouvi muito adulto dizer que criança não gosta de ler. Mas,
sempre digo: isso não é verdade. O que acontece é que os livros não são apresentados
às crianças ou, quando são, não são apresentados corretamente. E, todos
sabemos: só se gosta daquilo que se conhece. Se uma criança cresce ao redor de
livros, com certeza, ela se tornará uma boa leitora e lerá sempre com prazer.
Como se diz, é questão de valores.
Voltando
ao livro de Rubem Alves, A menina e o
pássaro encantado fala sobre saudade e sobre como ela torna belo aquilo que
amamos. Eis porque utilizo os bonitos versos do cantor e compositor Candeia no
título desse texto. E por falar nisso, saudade
é uma palavra conhecida apenas em galego e em português (a língua portuguesa
originou-se do galego-português, uma língua neolatina, entre os séculos XII e
XIII). O sentido dessa palavra é intraduzível para outros idiomas. Do latim,
herdamos a etimologia: solitate, o
mesmo que solidão; sentir-se só, sentir a ausência. Do ponto de vista
semântico, o Dicionário Aurélio eletrônico apresenta a definição: “Saudade. s.f. Lembrança nostálgica e, ao mesmo
tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo
de tornar a vê-las ou possuí-las”.
Conta-nos
a história do livro que uma menina tinha um pássaro como seu melhor amigo. Era
um pássaro encantado. Ele vivia sempre a voar mundo afora. A cada despedida, a
menina sentia saudades e chorava. Mas, quando ele voltava, ela se alegrava com
sua presença e com as histórias que ele tinha para contar. Foi então que ela
decidiu prendê-lo em uma gaiola para ele ficasse sempre ao seu lado. O pássaro
sofreu muito, foi perdendo o vigor, a alegria de se sentir livre e, com isso, a
menina também sofria. Ela já não mais experimentava a alegria do reencontro,
nem a dor da despedida que era recompensada com a enorme felicidade da volta.
Aos poucos, ela foi percebendo que, na vida, nada é nosso de verdade, mas que,
os que amamos, permanecem dentro de nós; e soltou o pássaro.
Rubem
Alves relatou na apresentação do livro que escreveu essa história após ver uma
criança chorando uma despedida. Confessou que é triste se despedir de alguém
que se ama, mas que poucos sabem que é a saudade que torna as pessoas
encantadas.
Dizem
os estudiosos, por exemplo, que é um sentimento semelhante àquilo que definimos
como saudade, que faz um pássaro transmitir, com fidelidade, de geração em
geração, o seu canto. Eles observam o cantar do outro para depois imitar na
ausência. A sabedoria popular traduz muito bem: “Quem sai aos seus, não
degenera”.
O
escritor francês Marcel Proust escreveu, nas primeiras décadas do século XX, a
sua inesquecível obra Em busca do tempo
perdido. Nela aparece: “certas recordações são como os amigos comuns: sabem
fazer reconciliações”. As recordações nos reconciliam! Trazem paz interior!
Trazer
à lembrança bons momentos alimenta coisas boas em nosso coração. Creio que, se
pudéssemos, transformaríamos nossas boas lembranças em uma realidade concreta,
a fim de experimentar a mesma sensação que um dia vivemos ou que, talvez, nem
chegamos a viver. O tempo não espera nossos ensaios. A vida é sempre “pra valer”.
É
por isso que o presente precisa ser vivido com intensidade. É a única
oportunidade que temos de experimentar concretamente a vida. O que passou ou o
que virá não está ao nosso alcance. No entanto, o que nos enche de vida é a
sensação de que, dentro do nosso coração, mas livres como os pássaros, estão
sempre presentes aqueles que amamos.
Boa
Leitura!
Raiana Cristina Dias da Cruz
REFERÊNCIA:
ALVES, Rubem. A menina e o pássaro encantado. 21ª Ed. São
Paulo, Loyola: 1999. (p.25).