“Cristo é o mediador da
Nova Aliança”, nos diz a Carta aos Hebreus. Deus é o Emanuel – o Deus conosco.
Ele veio até nós, fez-se próximo e, portanto, é acessível em Cristo. A 2ª.
Leitura nos fala que no Monte Sinai Deus é aterrador. As teofanias são
manifestações assustadoras: trovões, fogo, escuridão, violência... Na
experiência cristã, porém, é preciso ter certo cuidado, pois Jesus está perto
de nós: Ele é concreto, palpável, visível, terno, amável, misericordioso,
portador da gratuidade do Reino, do amor aos pequenos. Ele é tão próximo, tão
humano, que vai às festas, senta-se com o povo, come e bebe. E por quê? Porque
Ele se fez pequeno. “Não se apegou ao ser igual em natureza a Deus Pai, mas
aniquilando-se a si mesmo, assumiu a condição de um escravo, assemelhando-se
aos homens” (Fl 2,7). “O que é fraco no mundo, Deus escolheu para confundir os
fortes” (1Cor 1,27). A força de Deus está na sua fraqueza, sua onipotência é a
onipotência do amor, sua grandeza está na sua pequenez: foi exaltado porque se
humilhou. Precisamos de uma experiência deste Deus, o Deus de Jesus Cristo: o
Deus humano que nos ensina a segui-lo, somente este Deus é libertador, qualquer
outra proposta será um ídolo, uma mentira que nos levará para uma religião que
carrega o risco de nos escravizar. O Evangelho nos apresenta dois caminhos:
humildade e gratuidade.
Humildade. Jesus pede
para que escolhamos os últimos lugares: “Porque quem se eleva será humilhado e
quem se humilha será elevado.” (Lc 14,11). A etiqueta judaica dizia que os
notáveis deveriam estar nos primeiros lugares, mas Jesus é contra o
exibicionismo e as regras de conduta. Também hoje muitos querem estar nos
primeiros lugares: quando as lideranças da comunidade preferem aparecer a
servir, quando aqueles que possuem certo status querem ser reconhecidos. Todos
nós somos tentados a usurpar de nossos cargos e posições. O caminho apontado
pelo Cristo é o da humildade: sem ela as relações ficam comprometidas; a
soberba e a autossuficiência geram o afastamento das pessoas. Ser humilde é
colocar-se nos últimos lugares, é não se valer dos títulos, é esconder as boas
obras realizadas, é servir o irmão, é evitar o elogio fácil, é deixar a
prepotência do autoritarismo, é não ser dono da verdade, é despojar-se da
vaidade, é desaparecer, é não ter medo de ficar sem as falsas seguranças deste
mundo, é reconhecer que os fracos são fortes e que os pequenos são grandes, é
ter a certeza de que a vitória final é dos humilhados porque o Senhor derrubará
os poderosos de seus tronos, como proclama a Bem Aventurada Maria de Nazaré.
Gratuidade. Deus tem um
amor gratuito e nos ensina a gratuidade, quando nos pede para convidar a todos
para o banquete. Não devemos apenas fazer o bem àqueles que nos podem
retribuir, não podemos apenas beneficiar os importantes. Deus quer que
convidemos os excluídos, os aleijados, os coxos, os cegos, os sem voz e sem
vez, os pequenos, os desprezados. Nem sempre é fácil acolher a proposta de
Jesus. Ser gratuito é acolher o pobre, é acolher o desconhecido, escolher
aquele que não é capaz de dar recompensa, amar o inimigo, é dar de graça aquilo
que recebeu de graça – o amor de Deus gravado em nossos corações.
O banquete é, na
sociedade de Jesus, o espaço do encontro fraterno, onde os convidados partilham
do mesmo alimento e estabelecem laços de comunhão, de proximidade, de
familiaridade e fraternidade. Não é sem razão que nos reunimos em torno de uma
mesa, na Eucaristia: onde há o encontro de irmãos que celebram a gratuidade do
Deus. O Reino é um banquete: desejamos estar em torno da mesa do Senhor, onde
haverá lugar para todos comerem e beberem de graça para fazer festa com o Deus
que acolhe a cada um para o Banquete da Vida. Vem, Senhor Jesus!
Pe Roberto
Nentwig