O
assunto de hoje é o ato penitencial, isto é, o pedido de perdão que fazemos
iniciando a celebração da Eucaristia para dispor a Assembleia, e cada um de
seus filhos e filhas, a bem viver o encontro com o Senhor, na Palavra e na memória
do sacrifício do Senhor.
O
pedido de perdão entrou na celebração da Missa pelos séculos IX e X como gesto
próprio do sacerdote que pede perdão pelos seus pecados antes de começar a Santa
Missa. O Confesso a Deus todo-poderoso
– diz a história da Liturgia – entra pela metade do século XI e, por bom tempo,
é rezado só pelo sacerdote e seus ajudantes. A história, ainda, nos informa que
um pedido de perdão comunitário se encontra, num certo período, sobretudo nos
livros litúrgicos usados na Alemanha, como conclusão da Oração dos fiéis.
A
reforma que seguiu ao Concílio ecumênico Vaticano II o colocou no início da
celebração, como pedido de perdão por parte não só do celebrante, mas da
Assembleia toda. Não tem um sentido moralista, mas visa dispor os irmãos
reunidos para a escuta da Palavra e acolhida de Jesus Pão vivo que se doa na
Eucaristia.
O
Missal prevê diferentes maneiras de expressar o pedido de perdão. O Confesso a Deus todo-poderoso; ou um
breve diálogo: tende compaixão de nós,
Senhor. Porque somos pecadores;
algumas aclamações com a resposta: Senhor,
tende piedade de nós; enfim, - qual ato penitencial, sobretudo no tempo
pascal - a bênção e aspersão da água sobre o povo, qual recordação do batismo.
Precisamos
destacar a importância deste momento da celebração. A Comunidade reunida é convidada
a acolher o Senhor que vem, antes, com sua Palavra viva e eficaz, capaz de
transformar nossas vidas se estivermos dispostos a acolhê-la com fé e em
atitude de conversão.
A
palavra, de origem grega, Kyrie, isto
é, Senhor, com a invocação eleison
(de raiz hebraica), constituía, na origem, a resposta às preces dos fiéis. No
uso que prevaleceu em seguida, e atualmente, tem mais um sentido penitencial.
Uma
possível pergunta: este ato penitencial tem valor sacramental e pode substituir
o sacramento da Reconciliação (a Confissão)? De forma resumida, podemos dizer que
a Eucaristia, enquanto renovação do sacrifício da Cruz, tem o poder de perdoar
pecados, também os graves, como reconhece o Concílio de Trento. A Eucaristia,
porém, não substitui o sacramento da Penitência. Os dois, cada um com
características próprias, celebram o perdão de Deus. O ato penitencial,
inserido na Missa, expressa o perdão próprio da Eucaristia e não pode
substituir o sacramento da Reconciliação. Mas, o problema e o desafio maior e que
mais precisamos considerar é a conversão
que o ato penitencial e, de forma ainda mais explícita, o Sacramento da Penitência,
expressam. Conversão pede, sim, arrependimento, mas ainda mais e antes de tudo,
disponibilidade a se deixar amar pelo Senhor, e que a força do Espírito
transforme nossa vida segundo e seguindo Jesus, Palavra viva do Pai.
Dom
Armando Bucciol
Bispo
Diocesano