A CRIAÇÃO E A ORIGEM DA LIBERDADE

O texto bíblico da criação possui um riquíssimo conteúdo, ainda que considerado, por muitos, apenas alegórico, sobre a origem das coisas e do homem bem como a sua natureza.
A forma como foi ordenada temporalmente a criação estabelece uma interessante relação com a teoria científica mais aceita sobre a origem e evolução da vida. Nela bem como no texto sagrado, surge primeiro a terra, o firmamento, o sol, para depois se originarem os seres vivos e por fim o homem. A diferença incisiva está na ideia de um Deus responsável por tudo isso.
Na criação o homem percebe que carrega uma centelha divina que o diferencia e sobrepõe aos outros seres que mais tarde a filosofia classificou como a razão. Contudo, Pascal no século XVII introduz ao pensamento moderno a ideia de coração, distinguindo bem as confusões expressas pela falta de delimitação entre estas duas faculdades humanas.
Pensar no homem como criatura pode nos parecer bastante contraditório à ideia de domínio sobre o mundo. Portanto, onde se encontra a grandeza humana em meio as suas limitações naturais?
Nesta perspectiva, a razão e o coração são evidentemente essenciais para a afirmação desta grandeza, todavia, é no livre-arbítrio que reside por excelência as imensas possibilidades humanas. Por ela todos os caminhos da formação humana foram estabelecidos. Criando e destruindo, vivendo, separando, se organizando como sociedade o homem percorre o mundo na tentativa de desvendá-lo, buscando razões fora e dentro de si. Nesta busca evolui e transforma, mas também destrói, desequilibra. Assim, podemos denotar um aspecto muito importante do livre-arbítrio que é a escolha. Por ela o homem torna-se inteiramente responsável por sua ação e tem como possibilidade seguir a Deus ou trilhar seu próprio caminho. E dai aparecem ainda duas explicações para as “neuroses” sociais e o mau. Para Agostinho, isto resulta do afastamento de Deus, pois, o mal constitui como ausência do bem e quando mais afastados do bem supremo a maior mal estamos suscetíveis.
Por sua vez, Sartre aponta a imaginação de intervenção divina como fuga dos reais problemas humanos que são de inteira responsabilidade do homem e não simplesmente castigo ou benção de Deus.
Por fim, a partir de tais reflexões, por vezes, contraditórias, estes filósofos refletem a liberdade humana como eixo construtor de pessoa e do mundo. Assim sendo, pensar a liberdade para bem vivê-la, constitui-se, como meio essencial para a formação integral humana e o consequente expurgamento dos vícios e más inclinações, para tal, é importante sempre voltar ao debate das origens para melhor definir a finalidade da nossa ação.
Desde a criação a liberdade é nosso maior dom, mas também a mais difícil tarefa, da qual não podemos simplesmente protelar ou separar a ação da responsabilidade. Em toda e qualquer situação podemos decidir. Talvez este tenha sido e ainda é o maior pecado, achar que sempre em nossos erros somos enganados ou não tínhamos outra escolha. Em Deus sempre podemos escolher, afinal é ele quem confere e garante o livre-arbítrio.

Sem. Adriano Bonfim

3º Filosofia