O GLÓRIA

Depois do Ato penitencial, a Assembleia canta, ou proclama, o Glória, chamado também de Hino de louvor.
A origem desse hino é antiga. Na Instrução Geral do Missal Romano (n. 53), escreve-se que o Glória é um “hino antiquíssimo e venerável, pelo qual a Igreja, congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro”.
Relata-se que quando o papa Leão III e Carlos Magno se encontraram em 799, o papa entoou o Glória ao qual se juntou todo o clero, e depois o papa rezou uma oração. O Kyrie, o Glória e a oração, fazem parte de um mesmo plano em subida, que alcança seu ponto alto na oração (Cf. JUNGMANN, Missarum Sollemnia, p. 273). Em sua origem, o canto pertencia à oração da manhã. Mais tarde - por volta do séc. IV – entrou na liturgia eucarística do Natal e era entoado somente pelo bispo. Nos séculos X-XI – já tinha entrado em todas as festas e domingos, exceto na Quaresma e todos os presbíteros podiam entoá-lo.
O hino canta a glória de Deus e do Filho. Movida pela ação do Espírito, a Igreja reunida em assembleia, entoa esse canto que recorda o que escreve o evangelista Lucas (2,14), isto é, o canto dos anjos, que os pastores ouviram estupefatos, na noite do Natal.
O Glória pode ser dividido em três partes: a) o início, que lembra o canto dos anjos; b) os louvores a Deus Pai: “Senhor Deus, rei dos céus, Deus Pai todo-poderoso: nós vos louvamos, nós vos bendizemos, nós vos adoramos, nós vos glorificamos, nós vos damos graças por vossa imensa glória”; c) os louvores seguidos de súplicas e aclamações a Cristo: Senhor Jesus Cristo.No solene final, inclui-se o Espírito Santo; mas esta inclusão não torna o hino um louvor explícito ao Espírito Santo.Portanto, não se trata de um hino trinitário. É, de maneira especial, ao Filho que se endereçam os louvores da Assembleia; Ele é o Senhor – o Kyrios – que, desde sempre, habita no seio da Trindade.
 Por isso, nem todo canto que contém as palavras Glória a Deus é apropriado para ser cantado na celebração da Missa: na escolha litúrgica é preciso avaliar bem letras e música. De fato, observa-se que em certas celebrações, até transmitidas pela TV, no lugar do belíssimo texto da liturgia, usam-se pequenas aclamações trinitárias, isto é, aclamações dirigidas ao Pai, ao Filho e ao Espírito, ou textos que se afastam demais do original e com músicas espúrias, tiradas de cantos populares.
O Glória da celebração eucarística é muito rico em conteúdos teológicos; aparecem o louvor, a súplica orante, a profissão da fé em Cristo e sua ação salvífica mediante o mistério pascal. Precisamos, por conseguinte, dar muita atenção para não perder essa riqueza em nome de uma ambígua inculturação ou superficial simplificação.
Hoje em nosso Brasil existem boas melodias que mantém o texto original. Vale a pena procurá-las e ser mais fiéis às orientações litúrgicas. Assim, nossas celebrações vão melhorar em autenticidade e espiritualidade.

Dom Armando, bispo diocesano