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OS RITOS DE ENCERRAMENTO

As reflexões a respeito da liturgia da Missa vão se encaminhando para a conclusão, acrescentando somente algumas palavras sobre os ritos de encerramento da celebração.
A Instrução Geral do Missal Romano (n. 90) escreve: “Aos ritos de encerramento pertencem: a) breves comunicações, se forem necessárias; b) saudação e bênção do sacerdote que, em certos dias e ocasiões, é enriquecida e expressa pela oração sobre o povo ou por outra fórmula mais solene; c) despedida do povo pelo diácono ou pelo sacerdote, para que cada qual retorne às suas boas obras, louvando e bendizendo a Deus; d) o beijo ao altar pelo sacerdote e o diácono e, em seguida, a inclinação profunda ao altar pelo sacerdote, o diácono e os outros ministros”.
O Guia litúrgico da CNBB observa: os ritos finais têm estreita relação com os ritos iniciais. A Comunidade que tinha sido convocada para ‘estar com o Senhor’, agora é enviada em missão (cf. Mc 3,14). Termina a missa – se diz – começa a missão! Nós cristãos entramos na igreja para celebrar as maravilhas de Deus e ‘fazer memória’ da aliança de amor, realizada por meio da ‘atualização’ ritual do sacrifício de Cristo; agora, saímos para sermos missionários, mensageiros e testemunhas de paz, solidariedade, justiça e vida plena para todos.
Como membros da Igreja, devemos tomar conhecimento do que acontece na vida eclesial, das iniciativas de evangelização que a nossa Comunidade está realizando. Por isso, eis o sentido dos ‘avisos paroquiais’ dados neste momento. Só uma recomendação: devem ser essenciais e bem comunicados. Observa-se que, às vezes, demoram mais do que a homilia e esse momento se torna cansativo; pior quando são ocasião de desabafo ou para dar recados aos ausentes!
A bênção – dada em nome da Trindade santa - encerra a celebração que começou em nome do nosso Deus Trindade. O missal oferece várias possibilidades segundo as diferentes circunstâncias e festas.  O Guia litúrgico (p. 36) diz: “Para as palavras finais da despedida o missal apresenta várias alternativas. Ressalta-se aí a graça do Senhor que nos acompanha no nosso dia-a-dia e o culto verdadeiro que o cristão exerce por sua própria vida (cf. Rm 12,1-2)... O rito termina com a aclamação ‘graças a Deus’ da assembleia, que significa: exultamos por Ele nos acompanhar com sua graça na missão que nos confiou”.
A celebração se encerra com o beijo ao altar, assim como tinha começado. É um ‘sinal de veneração’ ao altar, símbolo de Cristo sacerdote, altar e vítima.
Com essas anotações, termina a nossa análise a respeito da liturgia da celebração eucarística.
Desejo que possamos viver o encontro eucarístico – com Jesus Cristo e a Comunidade - com maior intensidade espiritual e melhor valorização do que fazemos quando nos reunimos para celebrar o santo mistério da nossa fé. Ainda mais, peço a Deus que nossa vida, iluminada e fortalecida pela celebração, torne-se uma verdadeira Eucaristia, isto é, um hino de louvação e testemunho de amor.

Dom Armando

OS RITOS DE COMUNHÃO

Hoje vamos refletir a respeito dos ritos de Comunhão. Terminado o canto ou a aclamação do Cordeiro de Deus, que acompanha a fração do pão, o Presidente da celebração, reza em silêncio uma oração para receber frutuosamente o Corpo e o Sangue de Cristo; os fiéis também rezam em silêncio.
A seguir - escreve a Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) - “o sacerdote mostra aos fiéis o pão eucarístico sobre a patena ou sobre o cálice e convida-os ao banquete de Cristo; e, unindo-se aos fiéis faz um ato de humildade, usando as palavras prescritas do Evangelho”.
A IGMR (n. 85) recomenda ainda “que os fiéis, como também o próprio sacerdote deve fazer, recebam o Corpo do Senhor em hóstias consagradas na mesma Missa e participem do cálice nos casos previstos, para que, também através dos sinais, a Comunhão se manifeste mais claramente como participação no sacrifício celebrado atualmente”.
O rito da comunhão se realizada numa procissão. Todos os que vão receber o Corpo do Senhor formam uma procissão. É gesto muito significativo do peregrinar terreno rumo à casa do Pai, sustentados pelo Pão que é o Corpo de Cristo, que conosco caminha pelas estradas da vida. A unidade eclesial, assim, se manifesta e reforça. Jesus ressuscitado nos acompanha mediante o mesmo divino Espírito que transformou o pão e o vinho em Corpo e Sangue do Senhor.
Vale a pena refletir a respeito da unidade eclesial, algo sempre difícil e desafiador, como, desde o início, relevava são Paulo escrevendo aos cristãos de Corinto. Na vida eclesial que nos une é a presença do Senhor Jesus e a força do Espírito. O santo bispo Inácio de Antioquia, no início do II século, escrevia aos cristãos de Filadélfia: “Procurem ter uma única eucaristia. Uma é, de fato, a carne do Senhor nosso Jesus Cristo e um só é o cálice em vista da união no seu sangue; um é o altar, como um é o bispo, junto com o presbitério e os diáconos”.
Quem preside diz: “Felizes os convidados para a ceia do Senhor”, ou outra fórmula de convite. E a Assembleia: “Senhor eu não sou digno”. Mais um ato de reconhecimento da própria indignidade no momento de receber o Senhor, e, ao mesmo tempo, uma expressão de confiança n’Ele que se dignou ‘assumir nossa condição humana’ vindo morar em nosso chão e morrer por nós.
A Assembleia acompanha este momento com o canto de comunhão. Não qualquer canto, mas, como bem orienta a IGMR (n. 86) um canto “que exprime, pela unidade das vozes, a união espiritual dos comungantes, demonstra a alegria dos corações e realça mais a índole ‘comunitária’ da procissão para receber a Eucaristia. O canto prolonga-se enquanto se ministra a Comunhão aos fiéis”. Então, não qualquer canto é adapto para acompanhar a comunhão. Aconselha-se de retomar a ‘antífona do Gradual romano’ que faz referência ao texto do evangelho. O Hinário Litúrgico da CNBB proporciona hoje cantos bonitos e de acordo com este critério. Aos poucos, as Comunidades já estão adquirindo esse estilo celebrativo. De qualquer modo, se escolham cantos que ajudem a viver com atitudes profundas de comunhão, a partir da salvação realizada pelo mistério pascal de Cristo, e que tenham um reflexo na vida cotidiana.
“Terminada a comunhão – recomenda ainda IGMR (n. 88) – o sacerdote e os fiéis oram por algum tempo em silêncio. Se desejar, toda a assembleia pode entoar ainda um salmo ou outro canto de louvor ou hino”. Procure-se, em todas as celebrações, compreender e viver o sentido e o valor desse tempo de silenciosa oração pessoal.
Dom Armando


A FRAÇÃO DO PÃO

As orações que seguem o Pai-nosso - o embolismo e a oração da paz – que já vimos, e os ritos que vêm em seguida, visam preparar a Assembleia à comunhão eucarística.

Mais um rito, simples, mas denso de significado, quero-o comentar. Trata-se da fração do pão. Com certeza, todos que frequentam a Eucaristia observaram que, neste momento, o presidente da celebração divide em pequenos pedaços o pão consagrado e coloca um pedacinho no cálice.

Fração do pão é um dos nomes dados a toda a celebração, como documenta Atos dos Apóstolos (2,42), quando se apresenta a primeira comunidade (de Jerusalém), e se diz que seus membros “eram perseverantes em ouvir os ensinamentos dos Apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações”. O apóstolo Paulo observa: “Porque há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão” (1Cor 10,17).

A Instrução Geral do Missal Romano (n. 83) observa que este rito: “significa que muitos fiéis pela Comunhão no único pão da vida, que é o Cristo, morto e ressuscitado pela salvação do mundo, formam um só corpo”. “A fração se inicia terminada a transmissão da paz, e é realizada com a devida reverência” (...). “O sacerdote faz a fração do pão e coloca uma parte da hóstia no cálice, para significar a unidade do Corpo e do Sangue do Senhor na obra da salvação, ou seja, do Corpo vivente e glorioso de Cristo Jesus”. Enquanto se proclama - ou se canta  - o Cordeiro de Deus.

Observo que o gesto está ligado à comunhão que logo segue; portanto, não tem sentido fazer a ‘fração do pão’ no momento da consagração.

O gesto da fração do pão manifesta, de forma simbólica, “a força e a importância do sinal da unidade de todos num único pão, e desse sinal de caridade, porque este único pão é distribuído entre irmãos” (...) “Partir e compartilhar Cristo é sinal de amor e caridade” (CELAM. Manual de Liturgia, III, p. 156).

Esse gesto deve ser feito por quem preside de forma bem visível, com arte e solenidade, para tornar visível, através do gesto, o sentido do dom de si que Jesus realizou qual Cordeiro de Deus que carrega sobre si o pecado da humanidade e se oferece em sacrifício como pão partido para que seu sacrifício faça da humanidade inteira uma só família reunida no e pelo seu amor. De fato, Ele nos amou até o ponto mais alto, como ressalta o evangelista João, quando, ao capítulo 13, começa a narração da última Ceia.
Enquanto coloca no cálice o pequeno pedaço de pão, o presidente pronuncia, de voz baixa, as palavras: “Esta união do Corpo e do Sangue de Jesus, o Cristo e Senhor nosso, que vamos receber, nos sirva para a vida eterna”. Quando esses gestos, tão singelos e significativos, são feitos com simples e espontânea solenidade, com certeza, vão ajudar os fiéis na compreensão da riqueza e beleza do mistério de amor que celebramos. Desejo que isso aconteça a cada Eucaristia. 
Dom Armando

DEPOIS DO PAI-NOSSO: o embolismo e a oração pela paz

Logo depois da Oração do Senhor, o Pai-nosso, na celebração da Missa, encontramos duas orações, bem conhecidas: a primeira que começa com as palavras Livrai-nos de todos os males, a outra é a Oração pela paz.
A primeira é chamada de embolismo, palavra de origem grega que pode ser traduzida com inserção, um acréscimo que desenvolve as últimas palavras do Pai-nosso: livrai-nos do mal. Essa oração - escreve a Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) - é pronunciada “apenas pelo celebrante principal, de mãos estendidas”.
Os historiadores atribuem a oração ao santo papa Gregório Magno e se encontra já nos livros litúrgicos antigos. “Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz”. Com esta afirmação se insiste no pedido da libertação do mal – o Maligno - e dos males que ameaçam a vida humana; males que o inimigo arma e podem levar nossa vida ao desânimo, à perdição e à morte.
Como nos pedidos do Pai-nosso já se alude à plenitude do Reino que acontecerá no fim dos tempos, isto é, com a ”vinda do Cristo Salvador”. Eis a necessidade de cultivarmos a ‘esperança’, de vivermos a ‘esperança’. A Assembleia responde com uma frase que se encontra na Didaqué, pequeno livro, muito bonito, do final do I, início do II século; essas palavras em alguns códigos antigos se encontram como conclusão do Pai-nosso. Dessa maneira a oração do Senhor não terminaria com um pedido em negativo (livrai-nos do mal), mas em positivo: ‘Vosso é o reino, o poder e a glória’, “no estilo bendizente dos judeus” (Boróbio).
Segue a Oração pela paz. Durante a última Ceia Jesus disse: “Deixo a vocês a minha paz... não como a dá o mundo”. É o shalom, o grande dom que precisamos pedir com insistência. Não uma paz armada, mas no estilo de Jesus. Paz e unidade são os dois grandes pedidos que a Assembleia faz a Jesus em atitude suplicante e responsável. A paz é, antes de tudo, dom de Deus, mas exige responsabilidade e coerência por parte dos pedintes. O gesto da paz, que segue, para ser autêntico e estar em sintonia com a vontade do Senhor, exige uma grande abertura de espírito.
Uma observação. A Eucaristia educa os cristãos para terem espírito de comunhão. Ninguém vai à missa para orar de maneira individualista, subjetiva. A Eucaristia educa para o ‘nós’- Igreja; isso não diminui a participação pessoal de cada um, mas dilata mentes e corações para colher e acolher o dom de Deus que Cristo nos mereceu e o Espírito continua derramando: paz e perdão para vivermos na unidade, na justiça e na Comunhão, enquanto “aguardamos a vinda do Cristo Salvador”. O dom que recebemos responsabiliza no hoje e alimenta a esperança rumo à sua plenitude.
Dom Armando

A ORAÇÃO DO PAI-NOSSO

      Depois da Oração Eucarística - momento central da celebração - vamos considerar os ritos de Comunhão.
      A Eucaristia é celebrada para que os fiéis ‘devidamente preparados’ possam receber como ‘alimento espiritual’ o Corpo e Sangue do Senhor (cf. IGMR 80). Os ritos que agora vamos considerar visam, antes, dispor os fiéis e encaminhá-los à Comunhão.
      A Oração do Senhor, o Pai-nosso, abre para este momento. Duas frases, sobretudo, evidenciam o sentido dessa oração, antes da Comunhão. Entre os demais temos os pedidos do pão de cada dia e do perdão dos pecados.
      O clima litúrgico nesta hora deve ser de intensa união com o Senhor e com os irmãos e irmãs orantes. Estamos em atitude de ‘obediência’ ao mandamento do Senhor que nos ensinou a orar e recomendou para que sejamos orantes permanentes (cf. Lc 18,1). O evangelista Mateus, do qual são tiradas as palavras que usamos na oração do Pai-nosso, diz que Jesus recomendou, antes, que o discípulo em sua oração não use ‘muitas palavras’, como fazem os pagãos “que pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras” (Mt 6,7). O nosso, recorda o evangelista, deve ser um diálogo de amor ao Pai que ‘já sabe do que precisamos, antes mesmo do nosso pedir’ (cf. ib.).
      A IGMR (n. 81) escreve: “Na Oração do Senhor pede-se o pão de cada dia, que lembra para os cristãos, antes de tudo, o pão eucarístico, e pede-se a purificação dos pecados, a fim de que as coisas santas sejam verdadeiramente dadas aos santos”.
      Somos todos convidados a orar de pé e com o coração voltado para o alto e, como faz o Presidente, também com as mãos, para expressar melhor esta atitude, como recomenda o apóstolo Paulo (1 Tm 2,8): “Quero, pois, que, em toda parte, os homens orem, erguendo as mãos santas, sem ira nem contendas”. Os gestos do corpo, também expressam a fé e deve existir sintonia entre o que o coração sente e o corpo manifesta.
      Com essas atitudes devemos nos preparar para a Comunhão eucarística. Os ritos que seguem pedem com insistência que a comunhão não seja rito rotineiro, mas expresse a comunhão com o Senhor e os irmãos. Por isso, a necessidade de ser vivida numa disposição interior de perdão: “De fato, diz Jesus, se vós perdoardes aos outros as suas faltas, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará”; e, ainda: “Quando estiveres levando a tua oferenda ao altar e ali te lembrares que teu irmão tem algo contra ti, deixa a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão. Só então, vai apresentar a tua oferenda” (Mt 5, 23-24).
      Pergunto-me: se pegássemos ao pé da letra essas palavras, será que ficariam muitas pessoas na igreja? E nós temos o coração limpo e em paz com todos para podermos tranquilamente ficar?
      As exigências que Jesus põe para a oração, e ainda mais para a comunhão, devem estimular continuamente uma verdadeira conversão. Pedimos ao Santo Espírito que nos torne dignos desse encontro de fé e de amor com o Senhor e que a comunhão com Ele estimule a nossa comunhão sincera com todos os outros que caminham conosco pelas estradas da vida.

Dom Armando

ORAÇÃO EUCARÍSTICA - VII

         
     Continuamos nossa reflexão sobre a Oração Eucarística, coração da mesma celebração.
     Hoje quero concluir o assunto – também se o que escrevi foi só uma breve introdução – e dar algumas orientações práticas, seguindo, em parte, o que se lê no Guia litúrgico-pastoral da CNBB.
     A grande Oração Eucarística – chamada também de anáfora (literalmente significa ‘aquilo que se lança sobre’) – começa com o diálogo: “O Senhor esteja convosco” e termina com o grande Amém que a Assembleia proclama (melhor ‘canta’) quando quem preside apresenta ao Pai o pão e o vinho consagrados.
     Os fieis participam da Oração em silêncio, unindo-se espiritualmente na oração do sacerdote, e intervém com as aclamações, sobretudo com a aclamação memorial: Anunciamos, Senhor a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus!
   A Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium (n. 48) escreve: Os fieis aprendam também a “oferecer-se a si próprios ao oferecer juntamente com o sacerdote, e não só pelas mãos dele, a hóstia imaculada; que, dia após dia, por Cristo mediador, progridam na unidade com Deus e entre si para que, finalmente, Deus seja tudo em todos”.
     A aclamação após a consagração é oportuno, “ao menos aos domingos e nos dias festivos’ que seja cantada. Recomenda-se que nunca seja “substituída por cantos e expressões devocionais” (Bendito, louvado seja”, “Deus está aqui”, Graças e louvores se deem).
     Quem preside deve proclamar esta grande oração em tom espontâneo, sem exageros, expressando sua fé profunda no mistério que a Igreja lhe confiou. Também o ritmo não deve ser apressado demais, quase recitando fórmulas mágicas aprendidas de cor. Um tom sóbrio e solene, intenso e espontâneo deve caracterizar este momento litúrgico. Insisto para que nenhuma tonalidade de voz sofisticada e intimista acompanhe (ou estrague) esta oração; o que acontece é mistério, isto é, momento forte de encontro, na fé, com o Senhor que renova sua doação ao Pai para que nós também, unidos a Ele, aprendamos a nos doar num sincero ato de amor.
     Recomenda-se que “nem pelo tom nem de qualquer outra maneira, se isole a narrativa da última ceia do resto da oração eucarística, come se fosse uma peça à parte”. Ainda – acrescenta o nosso Guia - “não convém se deter na apresentação do pão e do cálice (impropriamente chamada de elevação), já que a Oração Eucarística é ação de graças dirigida em adoração ao Pai”.
     Outra observação: “A narração da instituição da eucaristia não é uma imitação da última ceia, por isso, não se parte o pão neste momento. O partir o pão, como Jesus fez, corresponde à fração do pão em vista da comunhão”.
     A Assembleia participa com o Amém que encerra a Oração Eucarística. Trata-se – continua o Guia - da “confirmação solene do povo à prece que o ministro ordenado, em nome da Igreja inteira, elevou a Deus”. “Pelo menos aos domingos e dias festivos, ela merece ser cantada”.
Dom Armando

ORAÇÃO EUCARÍSTICA -VI

      Continuamos nossa reflexão sobre a Oração Eucarística. Vamos analisar aquela que é catalogada como a “quinta”, e que é própria da nossa Igreja no Brasil. Foi elaborada na ocasião do Congresso Eucarístico de Manaus - que aconteceu no mês de julho de 1975 - e foi reconhecida pela Congregação para o Culto divino, em 11 de novembro de 1974. Essa Oração teve uma longa elaboração, passando por bem sete redações.
      Já vimos que a Oração Eucarística tem uma importância muito grande na profissão da fé da Igreja; então, cada palavra deve ser bem avaliada para que cada afirmação esteja de acordo com a fé da Igreja.
Essa oração nasceu no clima eclesial do Concílio Ecumênico Vaticano II. A atuação da Reforma litúrgica desejava que o povo cristão pudesse participar de forma mais consciente e ativa nas celebrações litúrgicas, na fidelidade à Tradição da Igreja e numa maior aproximação à Palavra de Deus.         
      O IX Congresso Eucarístico Nacional de Manaus foi preparado e celebrado num contexto histórico muito conturbado, com a finalidade – dizia o então arcebispo Dom João de Souza Lima - de fazer “crescer a região à luz dos princípios do Evangelho”. A Campanha da Fraternidade daquele ano tinha o tema: “Fraternidade é repartir”, com o lema: “Repartir o pão”.
      Essas ideias e ideais estão como pano de fundo da nova Oração Eucarística: Pão da Palavra, Pão da Graça, Pão da Eucaristia enquanto presença, sacrifício e alimento; Pão da partilha dos bens materiais, como consequência da vida de fé, amor e justiça. A Oração Eucarística V, portanto, traduz em oração – na grande Oração da Missa – diferentes anseios pastorais como, na época, se expressavam os bispos: o Ano Eucarístico Nacional e o Congresso Eucarístico deviam dar um “valioso impulso à renovação da vida eclesial no Brasil” e ser “um meio de reflexão e de tomada de consciência, a respeito das grandes metas propostas pelo Concílio”.
      Autor da I redação desta Oração – que, como vimos, passou por diferentes mudanças – foi o Padre Jocy Rodrigues, da Arquidiocese de São Luís, no Maranhão.
Analisar as diferentes expressões da ‘nossa’ Oração Eucarística seria muito demorado e complexo. Acrescento só poucas observações. Uma principal novidade: foram introduzidas as aclamações da Assembleia, que – em seguida- tornar-se-ão característica, também, das demais Orações na Igreja do Brasil.
      A dimensão eclesial é destacada, desde o prefácio: “aqui estamos bem unidos, louvando e agradecendo com alegria”. É retomada, em seguida: “quando recebermos pão e vinho, o Corpo e Sangue dele oferecidos, o Espírito nos uma num só corpo, para sermos um só povo em seu amor”. A Igreja “caminha nas estradas do mundo rumo ao céu”: une-se dimensão terrena e tensão escatológica; a Eucaristia que celebramos expressa o desejo de “cada dia renovar a esperança de chegar junto a vós, na vossa paz”. A plenitude almejada será alcançada quando chegarmos à vida eterna onde já estão os que “souberam amar Cristo e seus irmãos”. Enfim, se conclui reconhecendo que somos “povo santo e pecador” e ao Pai pedimos “força para construirmos juntos o (vosso) reino, que também é nosso”.
      Para os que participam da Eucaristia, essas palavras devem ser um forte estímulo para abrirem mentes e corações a Deus e se tornarem sempre mais membros vivos da sua e nossa Igreja.

Dom Armando

ORAÇÃO EUCARÍSTICA - V

Hoje vamos analisar a Oração Eucarística II, a mais curta e, talvez por isso, a que com maior frequência é escolhida nas celebrações. Apesar de concisa, ela é fruto de uma longa história e expressa ricos conteúdos.
Quando o papa Paulo VI autorizou a elaboração de novas preces eucarísticas, os liturgistas logo recuperaram uma prece antiga que pertence à Tradição apostólica, uma obra atribuída a Hipólito, presbítero romano do início do III século (hoje esta atribuição é descartada por quase todos os estudiosos). Ela dá o modelo de como devia ser a Oração eucarística nos primeiros séculos da Igreja, quando ainda não existia um texto determinado.
Depois do diálogo introdutório, no prefácio se agradece a Deus pelo dom de seu Filho Jesus Cristo. Invoca-se o Espírito Santo sobre o pão e o vinho oferecidos para continuar, assim, entre nós, a obra de santificação. Com poucas palavras se recorda o que Jesus fez “estando para ser entregue” pela nossa salvação e, numa única descrição, a narrativa da instituição - o memorial - do que Jesus fez na última ceia. A oração continua em atitude de agradecimento ofertando ao Pai “o pão da vida e o cálice da salvação”, “porque nos tornastes dignos de estar aqui na vossa presença e vos servir”.
Elemento muito bonito é a segunda invocação do Espírito – chamada de epiclese – em que se invoca, pela segunda vez, o Espírito Santo para que,“participando do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos reunidos num só corpo”.
Seguem as intercessões: pela Igreja - “que se faz presente pelo mundo inteiro” – é a ‘católica’! – “para que cresça na caridade com o papa, o bispo e todos os ministros do vosso povo”. Lembramos “dos nossos irmãos e irmãs que nos precederam na esperança da ressurreição e de todos que partiram desta vida”: ao Pai pedimos acolhida: “junto a vós, na luz da vossa face”.
Enfim, imploramos que “em comunhão com a Virgem Maria, são José seu esposo, os apóstolos” e com todos que “neste mundo vos serviram” possamos “participar da vida eterna” e louvar e glorificar o Pai, no Espírito, “por Jesus Cristo, vosso Filho”.
Como todas as preces, conclui-se com a doxologia: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”.
Concluindo, poderíamos fazer numerosas considerações teológicas e espirituais. Acrescento só que na celebração da Igreja “torna-se presente a nossa redenção” (Oração sobre Oferendas, V feira santa); a Eucaristia é o “memorial da nossa redenção”; portanto, a proclamação da salvação se torna realmente efetiva em nós. Essa mensagem está muito presente na Oração Eucarística II. É um “fluir único da Criação à Redenção para chegar à Ceia que, para nós, é o aqui e agora da Salvação. Podemos afirmar que a Oração Eucarística II, em sua essencialidade, permanece “uma sintética e autêntica proclamação do Evangelho de Jesus” (Barry Hudock).

Dom Armando

ORAÇÃO EUCARÍSTICA - IV

Continuemos nossas reflexões a respeito da Oração Eucarística. Hoje, em nosso Missal, temos 14 dessas grandes Orações. Pretendo, brevemente, introduzir algumas para ter, ao menos, uma ideia dos ricos conteúdos teológicos e espirituais que nelas se encontram.
Começamos com a primeira, chamada de Cânon Romano que, até 1969 era a única Oração Eucarística usada nas Igrejas do Ocidente. Temos informações que esse Cânon - que significa regra, norma - já no IV século, fazia parte da Liturgia de santo Ambrósio, mas deve ser oração ainda mais antiga, talvez já do II século, quando a língua latina começa ser usada na liturgia.
Na reforma após o Concílio, o Cânon Romano passou por algumas modificações, por exemplo, dos 24 sinais de cruz, ficou um só; foram eliminados dois beijos do altar e acrescentada a aclamação depois da consagração; as duas listas de santos foram, em parte, colocadas entre parêntesis.
Quem examina com atenção o texto desta bela Oração, pode distinguir até 15 partes. Vamos considerar só algumas com rápidas anotações.
a) Encontramos duas listas de santos com bem 41 nomes. Aparece, assim, o sentido da comunhão dos santos; desde a Virgem Maria e seu esposo, São José e, passando pelos 12 Apóstolos, chegamos a pronunciar os nomes de 12 mártires: cinco papas, um bispo, um sacerdote, um diácono e cinco leigos. Na segunda lista encontramos 15 nomes, todos de mártires: primeiro João Batista, e, em seguida, sete homens e sete mulheres. Essa memória tem um sentido profundo. Eles e elas foram fiéis até o ponto mais alto no seguimento de Jesus, o Mártir por excelência, cujo sacrifício a Missa celebra. Eles são companheiros e companheiras de caminhada; por isso, pedimos a força do alto para imitá-los na mesma fidelidade no seguimento de Jesus.
b) No início, a Oração é pela Igreja católica, termo que indicava a abertura universal da mesma: a Igreja era chamada ‘a Católica’ para expressar a ortodoxia da fé. Deus é reconhecido como o ator principal da colaboração com o Papa e o Bispo, para ‘proteger, unir e governar’ a Igreja mesma.
c) Reza-se pelos que estão presentes na celebração, para que sejam salvos junto com os seus. Encontramos a oração pelos falecidos “que partiram desta vida marcados com o sinal da fé”.
d) Outro tema - central nessa Oração - é o do sacrifício, junto com o da oferenda. Por bem quatro vezes se repete o pedido ao Pai para que aceite “o sacrifício perfeito e santo, pão da vida eterna e cálice da salvação”; com insistência, se pede que o receba “como a oferta de Abel, o sacrifício de Abraão, e os dons de Melquisedec”. A pureza de coração é a condição para que o sacrifício seja aceitável, seguindo os exemplos indicados. A Eucaristia é chamada de Sacrifício de louvor, recordando, sobretudo, a carta aos Hebreus (13,15), como outros textos bíblicos.
O nosso sacrifício consiste em devolver a Deus dentre os dons que Ele nos concedeu. Por isso, os sentimentos que devem crescer nas pessoas que participam da Eucaristia, são uma profunda humildade e uma autêntica gratidão. De fato, cada celebração nos recorda que na vida ‘tudo é graça’.
Dom Armando

ORAÇÃO EUCARÍSTICA - III

Nossa reflexão sobre a Oração Eucarística (OE) considerou o prefácio, oração de louvor e agradecimento com que se abre a grande oração que termina com o canto do Santo, santo, santo o Senhor Deus do universo, resposta alegre da Assembleia aos motivos de louvor do mesmo prefácio.
O Santo é composto de dois textos bíblicos, um do Antigo Testamento (Isaías 6,3) e o outro do Novo (Mateus 21,9). É um canto, e, por isso, normalmente, deve ser cantado para ressaltar sua identidade. Pelas informações que temos, parece ter sido introduzido na celebração da Eucaristia por volta do ano 530 pelo papa Sisto.
São poucas palavras, mas muito significativas. O profeta Isaías, tantas vezes, chama a Deus: “O Santo de Israel”. Santo quer dizer ‘repleto de vida’. Aqui Deus é proclamado como ‘O três vezes santo’. Na língua hebraica o superlativo é feito repetindo a adjetivo; portanto, ‘santo, santo’ significa ‘santíssimo’. Isaías acrescenta mais um ‘santo’, para expressar a plenitude da santidade divina. Na Bíblia, Santo significa, também, quem é ‘separado do profano’ (cf. Lv 17,1), ‘limpo do pecado’, como Isaias afirma logo em seguida. Para se aproximar de Deus é preciso ser purificados, participar da justiça de Deus, isto é, de sua santidade.
Compreendemos, então, que a liturgia, com suas palavras e exortações, quer gerar em nós uma atitude de louvor que brote de lábios e corações purificados pela Palavra e pela ação transformadora de Deus. Antes de transformar o pão e o vinho, somos nós chamados à transformação interior, à conversão, para sermos habilitados diante do Senhor a pronunciarmos as palavras tão sublimes da Oração Eucarística.
O canto do Santo acrescenta às palavras de Isaías o texto evangélico do Bendito aquele que vem. Referem-se à entrada messiânica de Jesus em Jerusalém e são tiradas do salmo 118 /117, versículo 26. Jesus é acolhido pelos pobres e pequenos, enquanto ‘os grandes’ planejam sua morte.
A Assembleia, reunida no nome do Senhor, é chamada a acolhê-Lo com alma purificada e repleta de humilde alegria, preparando-se para renovar a ‘memória viva’ do sacrifício de Jesus.
Cada palavra que a liturgia põe em nossa boca tem um sentido cheio de memórias. Cada gesto e palavra visam transformar o nosso interior e tornar o nosso sentir sempre mais em sintonia com o Espírito do Senhor Jesus que se entrega ao Pai por amor. De fato, seria louvação vazia se sair só da boca e mereceria a crítica dos profetas e do mesmo Jesus: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (cf. Mc 7,6 e par. = Is 29,13).
Por todas essas razões, o texto litúrgico - antigo e rico de significados do “Santo” - não pode ser mudado com paráfrases que alteram e empobrecem o texto originário. Aproveitemos das melodias -numerosas e bonitas - que se encontram no repertório oferecido pela CNBB, e que mantém o texto   litúrgico.

Dom Armando

ORAÇÃO EUCARÍSTICA - II


Estamos refletindo sobre a Oração Eucarística (OE), ponto alto da celebração da Missa; ela exige uma maior e sempre melhor compreensão.
A OE começa com um diálogo entre o Presidente da celebração e a Assembleia: O Senhor esteja convosco! Poderíamos traduzir, de maneira mais fiel: “O Senhor está convosco”. Juntos – a Assembleia e quem preside, - elevam a Deus o coração e a mente, numa atitude de atenção e de fé. Agora a oração é dirigida ao Pai, junto com Jesus, no Espírito. O que estamos fazendo com essa Oração, expressa um nosso dever e é fonte de salvação. De verdade, dar graças é algo bom e justo, é o sentido, o respiro e o fim da vida cristã. Essa abertura da grande OE é chamada de prefácio. Pode significar oração que introduz, mas, também ‘oração diante da Comunidade reunida’.

Nas diferentes ‘famílias litúrgicas que nasceram ao longo da história da Igreja, encontram-se muitíssimas dessas expressões de ‘abertura’ para louvar e agradecer a Deus. O dar graças manifesta a natureza da OE. Jesus, na última Ceia, depois de ter dado aos discípulos pão e vinho em sinal de sua paixão e morte, manda fazer isso em sua mem


ória. A Eucaristia que celebramos, portanto, imita o que fez Jesus e obedece ao seu mandamento. Por isso, o ato e a atitude do agradecer têm grande valor.
Os textos dos prefácios no Missal Romano são bastante numerosos; além dos que são próprios de algumas Orações Eucarísticas e de várias solenidades, temos 64. Basta uma rápida leitura para perceber o caráter pascal dessas orações e as diferentes nuanças da história da salvação. Alguns exemplos são suficientes para confirmá-lo.
Na Quaresma a liturgia nos faz orar assim: “(Pai santo) Vós concedeis aos cristãos esperar com alegria, cada ano, a festa da Páscoa. De coração purificado, entregues à oração e à prática do amor fraterno, preparamo-nos para celebrar os mistérios pascais que nos deram vida nova e nos tornaram filhas e filhos vossos”; nas festas de Maria (II): “Celebrando a memória da Virgem Maria, proclamamos ainda mais a vossa bondade, inspirando-nos no mesmo hino de louvor. Na verdade, fizestes grandes coisas por toda a terra e estendestes a vossa misericórdia a todas as gerações, quando, olhando a humildade de vossa serva, nos destes, por ela, o salvador da humanidade, vosso Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso”.
Poderíamos continuar nossa análise com outros textos. Destaco um aspecto da oração em geral, e peculiar da Eucaristia: o ‘render graças’ a Deus, o Pai, é dimensão central na vida cristã. São Paulo escreve aos Efésios (1,3-10): “Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo... Ele nos predestinou à adoção como filhos... para o louvor de sua graça gloriosa”.
Então, que toda Eucaristia se torne momento de um intenso agradecer e nos ensine a fazermos de nossa vida um verdadeiro e perene agradecimento ao Pai que tanto nos amou em Cristo: “Ele é o nosso Salvador e Redentor... Ele, para cumprir a vossa vontade, e reunir um povo santo em vosso louvor, estendeu os braços na hora da sua paixão, a fim de vencer e a morte e manifestar a ressurreição”. No mesmo ato de ‘dar graças’ nós recebemos o dom da salvação: é isso que a celebração da Eucaristia significa e realiza.

Dom Armando

ORAÇÃO EUCARÍSTICA - I

A partir desta coluna de liturgia vamos refletir sobre a Oração Eucarística (OE).
A Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) escreve: “A OE (é) centro e ápice de toda a celebração, prece de graças e santificação”. “O sentido desta oração é que toda a assembleia se una com Cristo na proclamação das maravilhas de Deus e na oblação do sacrifício” (n. 78).
A mesma Instrução destaca os elementos que compõem essa oração. a) Antes de tudo é Ação de graças. A eucaristia toda é ação de graças, como diz seu sentido etimológico. A Igreja reunida louva e agradece ao Pai por toda a obra da salvação ou por um dos seus aspectos; essa dimensão aparece desde a oração do prefácio; b) A aclamação, parte da própria OE, é proferida por toda a assembleia, em união aos espíritos celestes, aclamado juntos: Santo, santo, santo; c) a epiclese, “na qual a Igreja implora por meio de invocações especiais, a força do Espírito Santo para que os dons oferecidos... sejam consagrados, isto é, se tornem o Corpo e Sangue de Cristo, e que a hóstia imaculada se torne a salvação daqueles que vão recebê-la em Comunhão”; d) a narrativa da instituição e a consagração, quando, pelas palavras e ações de Cristo, se realiza o sacrifício que ele instituiu na última Ceia, ao oferecer o seu Corpo e seu Sangue sob as espécies de pão e vinho”; e) a anamnese, quer dizer, ‘fazer memória’: “a Igreja faz a memória do próprio Cristo, relembrando principalmente a sua bem-aventurada paixão, a gloriosa ressurreição e a ascensão aos céus”; f) a oblação, quer dizer, ‘oferenda’; a Assembleia oferece ao Pai, no Espírito Santo, a hóstia imaculada; dessa maneira, os fiéis são convidados para oferecer-se a si próprios, e a se aperfeiçoarem, cada vez mais, pela mediação do Cristo, na união com Deus e com o próximo, para que, finalmente, Deus seja tudo em todos”; g) as intercessões, “pelas quais se exprime que a Eucaristia é celebrada em comunhão com toda a Igreja, tanto celeste como terrestre, que a oblação é feita por ela e por todos os seus membros vivos e defuntos”. Enfim, h) a doxologia final “que exprime a glorificação de Deus”. A essa, os fiéis todos respondem com o Amém, o sim solene que, ao uníssono, o povo profere como para colocar sua assinatura no que o Presidente da celebração rezou.
Eis, em resumo, os vários aspectos e as diferentes partes da grande Oração da Missa. Iremos retomá-la para compreendermos melhor seu sentido. Compreender o que rezamos vai favorecer a entrada no coração dessa oração e uma mais intensa e íntima participação na celebração eucarística.
Vale a pena lembrar que a origem dessa Oração pertence aos primórdios da era cristã. Hoje, em nossa liturgia romana, temos diferentes orações: as 4 próprias do Missal Romano; a V do Congresso Eucarístico de Manaus; quatro ditas ‘para diferentes circunstâncias’, três para ‘missas com crianças’ e duas ‘da reconciliação’: são 14 expressões para proclamar a riqueza e beleza de nossa fé eucarística, todas repletas de sólidas convicções teológicas e, ao mesmo tempo, de sensibilidade existencial.
Desejo que todos, irmãos e irmãs, possam participar da celebração da Eucaristia, com ainda maior fé e, assim, nós, que comemos o Corpo do Senhor, sempre mais nos tornemos Corpo vivo de Cristo pela ação transformadora do mesmo Espírito.
Dom Armando

APRESENTAÇÃO DAS OFERENDAS II


Continuemos nossa reflexão a respeito do rito da Apresentação das oferendas.
A celebração da Eucaristia visa fazer dos fiéis reunidos, a Comunidade dos discípulos e das discípulas do Ressuscitado. Por isso, a comunhão é o ponto de chegada de toda celebração. Não só a comunhão eucarística, com o Corpo e Sangue do Senhor, mas a dilatação dos corações de todos que se reúnem no nome do Senhor. Ao redor da mesa eucarística, depois de terem sido iluminados pela ‘Palavra da Salvação’, os cristãos são chamados a entrar na dinâmica do seu amor, pela força da Graça divina.
Então, eis que a apresentação das oferendas é gesto que expressa partilha da vida e dos bens, gesto que diz unidade e fraternidade, solidariedade e comunhão entre os membros da Igreja. Tudo isso, num clima de alegria e festa. O canto, neste momento, deve expressar estes sentimentos e alimentar as convicções próprias da fé. Mas, o canto, sozinho, não é suficiente; o gesto concreto de oferecer algo – do próprio trabalho, das fadigas vividas ao longo da semana - manifesta o amor e a solidariedade que anima e sustenta a vida dos que seguem Jesus.
Observemos um pequeno rito que o Presidente da celebração faz; ele coloca algumas gotas de água no vinho, dizendo: “Pelo mistério desta água e deste vinho, possamos participar da divindade do vosso Filho que se dignou assumir a nossa humanidade”; essa água simboliza a humanidade toda e as diferentes dimensões do ser ‘humanos’. Por meio de Cristo, Filho de Deus e nosso Salvador, temos acesso ao Pai no Espírito. Nossas vidas e a humanidade toda são acolhidas, resumidas e levadas à plenitude por Jesus. Por meio d’Ele temos acesso ao Pai, entramos na intimidade de Deus. Em toda Eucaristia, vivo sinal de vida e comunhão, celebramos a presença de Deus que se torna humano em Jesus; Ele, pela ação do Espírito, chama-nos a participar de sua vida divina.
A ‘apresentação das oferendas’ termina com um convite: “Orai, irmãos e irmãs”! Lembra-se do sacrifício que hoje a Igreja celebra fazendo memória do sacrifício de Cristo do qual emana o que nós hoje realizamos. “O nosso sacrifício seja aceito por Deus Pai”: isso é possível a partir do sacerdócio comum dos fiéis! De fato, todos na Igreja pertencem a um povo sacerdotal pelo fato de que Cristo, na ação litúrgica, associa a si mesmo toda a Igreja, sua amada esposa!
Agora a santa Ceia pode começar; na mesa tudo está preparado; encontra-se o ‘fruto da terra e do trabalho humano’, o dom de Deus e a colaboração humana. Cada elemento nos fala da bondade de Deus que veio e vem ao nosso encontro, acolhendo o que nós podemos fazer e multiplicando, com divina generosidade, o pouco que lhe apresentamos.
Quem preside reza mais uma oração - ‘sobre as oferendas’- com a qual confirma que a vida toda do cristão deve ser oferenda de si a Deus, porque a vida a Deus pertence. Agradecer, com Cristo, é sinal de fé e empenho para tornar a nossa existência cotidiana dom e serviço de amor.
Observo, enfim, mais uma vez, a estreita unidade entre liturgia e vida. A beleza e riqueza da celebração incentiva a viver com maior intensidade a celebração mesma, e essa se torna fonte de vida nova e renovada.

Dom Armando

APRESENTAÇÃO DAS OFERENDAS I


Depois das anotações sobre os ritos iniciais e a Liturgia da Palavra, entramos agora na segunda parte da celebração eucarística, toda centrada ao redor da outra mesa, o altar, para onde “são levadas as oferendas que se converterão no Corpo e Sangue de Cristo” (Instrução geral do Missal Romano - IGMR 73).
A IGMR introduz essa parte da celebração com as seguintes palavras: “Na última Ceia, Cristo instituiu o sacrifício e a ceia pascal, que tornam continuamente presente na Igreja o sacrifício da cruz, quando o sacerdote, representante do Cristo Senhor, realiza aquilo mesmo que o Senhor fez e entregou aos discípulos para que o fizessem em sua memória” (cf. SC 47).
A Instrução lembra que a estrutura da celebração eucarística corresponde às palavras e gestos de Cristo. Temos três momentos: a) a preparação dos dons: são levados ao altar pão e vinho com água, lembrando os ”elementos que Cristo tomou em suas mãos”; b) a Oração eucarística, com a qual “se rende graças a Deus por toda a obra da salvação, e as oferendas tornam-se Corpo e Sangue de Cristo”; c) a fração do pão e a Comunhão, que permitem aos fiéis receber o Corpo e o Sangue do Senhor, como os Apóstolos o receberam do próprio Cristo (cf. IGMR 72).
Os documentos da Igreja, sobretudo a partir do Concílio Vaticano II, evidenciam e insistem na presença e no sentido das duas mesas na celebração da Eucaristia; as duas merecem igual destaque; as duas devem ser usadas só pela finalidade própria.
Na dinâmica celebrativa, a primeira mesa nos ofereceu abundante alimento espiritual e nos preparou para a segunda. De fato, fomos iluminados pela Palavra e, como os discípulos de Emaús, nossos corações foram aquecidos para acolhermos o Senhor Jesus, Pão da Vida, e selarmos nosso encontro com Ele.
Vários gestos, simples, mas significativos, marcam esse momento. Prestemos atenção (cf. IGMR 73). Prepara-se a mesa ou altar, que é o centro de toda a liturgia eucarística. Coloca-se sobre ele o corporal, o purificatório, o missal e o cálice. “É louvável que os fiéis apresentem o pão e o vinho que o sacerdote ou o diácono recebem”. É bonito esse gesto de levar ao altar os elementos que servem para a celebração; evidencia a ‘realidade humana’, o ‘fruto da terra e do trabalho humano’ que o Presidente da celebração vai apresentar ao Pai para que ‘se torne pão de vida eterna’ e ‘vinho da salvação’.
Nesse momento, os fiéis oferecem, também, outros donativos ou dinheiro para a ajuda dos pobres ou para as necessidades da Igreja. É gesto que já pertence à praxe litúrgica da primeira hora, como escreve Paulo em sua I carta aos Coríntios (cf. 11,17-34).
O canto do ofertório acompanha a procissão das oferendas e continua, ao menos, até que os dons sejam colocados sobre o altar.
O rito da apresentação das oferendas termina com o Presidente da Celebração lavando as mãos “exprimindo por esse rito o seu desejo de purificação interior” (IGMR 76).
Essas são informações essenciais para participar da celebração eucarística com maior intensidade espiritual compreendendo os gestos e as palavras das mesmas celebrações.

Dom Armando

A ORAÇÃO DOS FIÉIS

      Na Constituição Sacrosanctum Concilium (SC) sobre Liturgia, do Concílio Vaticano II (1963), se pede:
“Restaure-se, para depois do Evangelho e da homilia, a oração comum ou dos fiéis, principalmente nos domingos e festas de preceito” (SC 53). Na liturgia romana, esta oração, até então, era feita só na sextafeira santa.
      A Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) escreve que nesta oração “o povo responde de certo modo à Palavra de Deus acolhida na fé e exercendo a sua função sacerdotal”. Retomando SC, a Instrução orienta a respeito dos conteúdos dessa oração, e pede que “se reze pelas necessidades da Igreja, pelos poderes públicos, pelos que sofrem qualquer dificuldade, pela comunidade local”. Em celebrações especiais, as preces “podem referir-se mais explicitamente àquelas circunstâncias” (IGMR 70). Mais uma recomendação: “As intenções propostas sejam sóbrias, compostas por sábia liberdade e breves palavras expressem a oração de toda a comunidade” (ib. 71).
      A liturgia da Igreja é uma grande escola de oração. O respiro dessa oração é dado pela Palavra de Deus que foi proclamada, com a qual entramos na história da salvação de Deus. O modo do povo da Bíblia agradecer e louvar a Deus consiste em lembrar tudo o que Ele fez em sua história.
      A Palavra proclamada é sempre uma luz que ilumina as nossas vidas! Eis, portanto que, dos corações dos fiéis, brotam sentimentos e palavras de agradecimento e louvor, junto com súplicas, como também angústias, dores e desejos.
      A vida toda, com suas diferentes situações, entra – deve entrar – na oração. Os salmos nos educam nesse sentido, e Jesus, de forma essencial e profunda, ainda mais nos ensinou um estilo de oração que parte da vida e a ela retorna.
Na prática a Oração universal ou dos fiéis é introduzida por quem preside a celebração e as intenções são proclamadas, normalmente do ambão ou de outro lugar apropriado (também da igreja, quando se de pequena dimensão) por uma pessoa (ou mais). Apresenta a intenção da prece à qual a Assembleia responde, com uma invocação, proclamada ou cantada ou com um momento de silêncio orante: desse modo, a prece torna-se expressão da inteira Comunidade.
      Nossas preces são apresentadas ao Pai por meio de Jesus, no Espírito: Jesus é o Grande Intercessor! Com Ele nós formamos um só corpo. Então, na oração da Igreja é o mesmo Cristo que ora ao Pai e, como escreve São Paulo aos Romanos, o Espírito vem “em socorro de nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito, pois é de acordo com Deus que Ele intercede em favor dos santos” (Rm 8,26-27).
      Finalizando esta breve reflexão, é oportuno avaliar: como são proclamadas as preces em nossas Comunidades? Com poucas exceções, este momento de criatividade litúrgica, tantas vezes é desperdiçado. As preces devem (deveriam) brotar da fé e dos corações das pessoas que vivem numa Comunidade concreta. Mas, quase sempre, são lidas nos folhetos que oferecem textos até bonitos, porém distantes da vida da Comunidade celebrante. Os subsídios podem orientar, mas não tiram a responsabilidade da Assembleia – sobretudo dos que animam a liturgia - de expressar orações preparadas ou espontâneas; essas, porém, não com estilo individualista, sentimental ou, pior, para dar recados. Para melhorar e viver intensamente também esse momento litúrgico é preciso ‘aprender a orar’. O Senhor nos ensine a orar! Para nós cristãos, a Igreja, sobretudo por meio da Liturgia, é a principal educadora no espírito e estilo de oração.

Dom Armando

O CREDO OU SÍMBOLO (II)

Em nossa última ‘Coluna’, afirmava: “O símbolo manifesta nossa fé no Mistério que a liturgia celebra”. De fato, a liturgia é o lugar, não exclusivo, mas por excelência, em que os cristãos proclamam a sua fé e fortalecem sua opção por Jesus Cristo. Um antigo autor dizia que “a fé da Igreja se define pela lei do orar”, isto é, na oração a Igreja manifesta a sua fé. A liturgia, em suas diferentes expressões – orações, leituras, cantos, respostas etc. – diz, em alta voz, o que crê, o que espera e o que ama. O ambiente do culto é o lugar em que se toma consciência da realidade de Deus e da presença das obras divinas. As expressões da fé que usamos, transmitidas de geração em geração, permitem que nós hoje possamos ‘fazer experiência’ do mistério de Deus em nossa vida.
O símbolo respira numa atmosfera de oração. Também se contém expressões de profunda teologia é, sobretudo, ação de graças e de louvor. O ponto de partida da confissão de fé é a contemplação das maravilhas de Deus com a ressonância que acontece no coração dos fiéis e da comunidade por tudo o que o Pai fez por nós e pela nossa salvação; por isso, dos nossos corações, saem o louvor e a celebração da sua glória.
A longa história de salvação que Deus leva à plenitude tem seu núcleo central no mistério pascal de Cristo; razão do agradecimento e da nossa alegria. Por isso, todo cristão deve manter-se aberto e atento a tudo o que Deus continua realizando em sua vida, e colocar-se em atitude de escuta da Palavra que conta as maravilhas que Deus fez, desde a criação, até a santificação, passando pela redenção que o Filho operou, para chegar à vida da Igreja hoje. De fato, é a Igreja que, fecundada pela presença do Espírito, anuncia e atualiza essa obra de Deus. Na escuta da Palavra, o cristão amadurece a consciência do que Deus fez em seu favor, e a confissão de fé brota como hino de louvor.
“A glorificação se consolida na profissão de fé, que se torna a declaração, por parte dos fiéis, da sua adesão ao mistério da salvação e o sinal da sua fidelidade à contínua oferta de amor por parte do Pai, a fim de manter sempre viva e vital a aliança na páscoa do Senhor”.
A liturgia é ‘guardiã’, por excelência, da fé da Igreja e, ao mesmo tempo, ‘conservadora’ da fé pascal; nela, a confissão da fé é, também, celebração da mesma, e expressa a vontade de viver sob o senhorio de Cristo. Com a profissão da fé que veio dos apóstolos e primeiros companheiros de Jesus, todo cristão ressalta sua vontade de estar na mesma caminhada de fé, renovando-a e querendo vivê-la em sua vida cotidiana.
Eis porque, quando a missa termina, temos muitas razões para seguirmos nossa vida segundo os ensinamentos e o exemplo de Jesus. Por isso, devemos sempre vigiar e orar para que a fé que professamos seja, sempre mais, parecida com a fé que testemunhamos em nossa vida cotidiana.
Dom Armando

O CREDO OU SÍMBOLO

Nas últimas ‘colunas’ refletimos sobre a homilia, isto é, a conversa feita pelo Presidente da celebração depois da proclamação da Palavra. Hoje começamos considerar a profissão de fé que a liturgia coloca em nossos lábios neste momento. Chamamos de Credo ou Símbolo esta grande e antiga oração.
Não é minha intenção fazer uma leitura teológica dos ‘artigos’ da fé. Isso seria muito importante, mas demorado e fora da finalidade destas breves considerações litúrgicas.
Perguntemo-nos: como é que o Credo entrou na celebração litúrgica e qual o seu sentido? Digo logo que responder não é fácil e demoraria bastante. Portanto, eis só poucas e simples informações.
O Credo proclama a fé que a Igreja professou ao longo de sua história. Trata-se do resumo das verdades que nós professamos e que fundamentam essa fé que recebemos dos apóstolos. O Credo que, de costume,usamos na celebração da Eucaristia é chamado de apostólico. Sabemos que não foi elaborado no tempo dos apóstolos, mas reflete o que, desde o início de sua caminhada, a Igreja acreditou. Todas as gerações que se sucederam na história da Igreja, proclamam a mesma fé na Trindade santa; celebram a mesma salvação que recebemos por meio de Jesus Cristo, nosso único Salvador; testemunham a certeza da presença do divino Espírito que acompanha a Igreja em sua peregrinação rumo à vida plena e salvação definitiva no fim dos tempos.
Então, eis que quando na celebração da Santa Missa, como na celebração do Batismo e da Crisma, fazemos a profissão da fé, manifestamos nossa união com milhões de irmãos e irmãs que, ao longo dos séculos e espalhados por toda a terra, se reconhecem e procuram viver e testemunhar“a mesma fé que da Igreja recebemos e que é razão de alegria e sustenta a nossa esperança”.
Antes de tudo, a profissão de fé deve ser ação de graças pelos dons recebidos, como afirma, com razão, a Instrução Geral do Missal Romano (n. 67): “O símbolo ou profissão de fé tem como objetivo levar todo o povo reunido a responder à Palavra de Deus anunciada da sagrada Escritura e explicada pela homilia, bem como, proclamando a regra da fé por meio de fórmula aprovada para o uso litúrgico, recordar e professar os grandes mistérios da fé, antes de iniciar sua celebração na Eucaristia”.
Para que este momento da celebração adquira sentido e valor, é preciso que os fiéis compreendam bem o que pronunciam, isto é, que recebam adequada catequese a respeito das verdades da fé, e que interiorizem e personifiquem os seus conteúdos. Somente assim a ritualidade celebrativa adquirirá sentido e será sinal de vitalidade eclesial. Por isso, o papa Bento XVI em sua carta Porta Fidei (coma a qual abriu e orientou o Ano da Fé) insiste na necessidade de conhecer o Catecismo da Igreja católica com seus conteúdos e na urgência de compreender que “o primeiro sujeito da fé é a Igreja”: “Eu creio. Nós cremos”: eu creio a fé da Igreja.
“O ato de proclamar o ‘Credo’ na Assembleia litúrgica, por parte da comunidade celebrante, evidencia a vontade de expressar que a sua existência se encontra em íntimo contato com a fonte da história da salvação, isto é, com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A recitação do Credo põe às claras e demonstra uma vida já imersa em relação estável com a Trindade que, com sua presença ativa, qualifica o ser dos cristãos”. O símbolo manifesta nossa fé no Mistério que a liturgia celebra.
Dom Armando