A PALAVRA DE DEUS (IV)

   
Continuemos nossa reflexão sobre a Palavra de Deus. Desta vez, deixemo-nos iluminar pelos ensinamentos de papa Bento XVI na Exortação Apostólica Verbum Domini, isto é, A Palavra de Deus (2010). Nesse belo e rico documento, no II capítulo, o papa trata da “Liturgia, lugar privilegiado da Palavra de Deus”.
A Igreja é a casa da Palavra, como afirmava a Mensagem final do Sínodo. É na Liturgia que, de maneira especial, nós recebemos a Palavra, ela é “o âmbito privilegiado onde Deus nos fala no momento presente da nossa vida... Cada ação litúrgica está, por sua natureza, impregnada da Sagrada Escritura” (n. 52). “Mais ainda, ‘a celebração litúrgica torna-se uma contínua, plena e eficaz proclamação da Palavra de Deus’ (cf. OLM, 4)”. Isso acontece pela ação do Espírito Santo. De fato, “graças ao Paráclito é que ‘a Palavra de Deus se torna fundamento da ação litúrgica, norma e sustentáculo da vida inteira. A ação do próprio Espírito Santo... sugere a cada um, no íntimo do coração, tudo aquilo que, na proclamação da Palavra de Deus é dito para a assembleia inteira dos fiéis” (cf. OLM, 9).
Essas poucas palavras são suficientes para compreendermos o valor desse momento litúrgico e, por consequência, a necessidade de prestarmos muita atenção na escuta da Palavra. O papa pede que “todos os fiéis sejam educados para saborear o sentido profundo da Palavra de Deus que está distribuída ao longo do ano na liturgia, mostrando os mistérios fundamentais da nossa fé”. Com as palavras de um teólogo medieval recordamos que “toda a Escritura constitui um único livro e esse livro é Cristo, porque a Escritura toda fala de Cristo e encontra em Cristo sua realização”. Mediante a Palavra, que se torna viva na celebração litúrgica, Deus continua falando à sua Comunidade e formando-a. 
Compreendemos, então, como é importante que a leitura seja bem feita não só de um ponto de vista formal, mas em sentido espiritual e litúrgico. Os leitores que proclamam as leituras nas celebrações, antes, devem procurar interiorizar o que vão ler. Na Regra de São Bento se lê: “Ninguém pretenda cantar ou ler se não aquele que tem capacidade para cumprir este ofício de modo tal que sejam edificados os que escutam. Isso aconteça com humildade, seriedade e tremor".
O Concílio Vaticano II pediu: “os tesouros bíblicos sejam mais largamente abertos, de tal modo que dentro de um ciclo de tempo estabelecido se leiam ao povo as partes mais importantes da Sagrada Escritura” (SC 51). A reforma litúrgica que seguiu colocou, ao longo dos três anos, (A – B – C), aos domingos, boa parte dos evangelhos e, durante a semana – a primeira leitura é diferente nos anos pares e ímpares – é proposta à nossa atenção uns 80% da Bíblia (antes nem chegava a 20%).
Voltemos para a assembleia de Nazaré onde Jesus, naquele sábado, leu o texto de Isaías (cf. Lucas 4). No final, observa o evangelista, os olhos de todos estavam fixos em Jesus. Assim deve acontecer depois de toda proclamação da Palavra: os olhos e os corações de todos devem estar fixos em Jesus. Ele fale à nossa vida, Ele chame a conversão e aponte novos caminhos de fé e amor. Se isso acontecer, com certeza as nossas vidas serão mais coerentes com a pessoa e a mensagem de Jesus.
Dom Armando