A
Igreja é a casa da Palavra, como
afirmava a Mensagem final do Sínodo. É na Liturgia que, de maneira
especial, nós recebemos a Palavra, ela é “o âmbito privilegiado onde Deus nos
fala no momento presente da nossa vida... Cada ação litúrgica está, por sua
natureza, impregnada da Sagrada Escritura” (n. 52). “Mais ainda, ‘a celebração
litúrgica torna-se uma contínua, plena e eficaz proclamação da Palavra de Deus’
(cf. OLM, 4)”. Isso acontece pela ação do Espírito Santo. De fato, “graças ao
Paráclito é que ‘a Palavra de Deus se torna fundamento da ação litúrgica, norma
e sustentáculo da vida inteira. A ação do próprio Espírito Santo... sugere a
cada um, no íntimo do coração, tudo aquilo que, na proclamação da Palavra de
Deus é dito para a assembleia inteira dos fiéis” (cf. OLM, 9).
Essas
poucas palavras são suficientes para compreendermos o valor desse momento
litúrgico e, por consequência, a necessidade de prestarmos muita atenção na escuta
da Palavra. O papa pede que “todos os fiéis sejam educados para saborear o
sentido profundo da Palavra de Deus que está distribuída ao longo do ano na
liturgia, mostrando os mistérios fundamentais da nossa fé”. Com as palavras de
um teólogo medieval recordamos que “toda a Escritura constitui um único livro e
esse livro é Cristo, porque a Escritura toda fala de Cristo e encontra em
Cristo sua realização”. Mediante a Palavra, que se torna viva na celebração
litúrgica, Deus continua falando à sua Comunidade e formando-a.
Compreendemos, então, como é importante que a leitura
seja bem feita não só de um ponto de vista formal, mas em sentido espiritual e
litúrgico. Os leitores que proclamam as leituras nas celebrações, antes, devem procurar
interiorizar o que vão ler. Na Regra de São Bento se lê: “Ninguém pretenda
cantar ou ler se não aquele que tem capacidade para cumprir este ofício de modo
tal que sejam edificados os que escutam. Isso aconteça com humildade, seriedade
e tremor".
O Concílio Vaticano II pediu: “os tesouros bíblicos sejam mais largamente abertos, de tal modo
que dentro de um ciclo de tempo estabelecido se leiam ao povo as partes mais
importantes da Sagrada Escritura” (SC 51). A reforma litúrgica que
seguiu colocou, ao longo dos três anos, (A – B – C), aos domingos, boa parte
dos evangelhos e, durante a semana – a primeira leitura é diferente nos anos pares
e ímpares – é proposta à nossa atenção uns 80% da Bíblia (antes nem chegava a
20%).
Voltemos para a assembleia de Nazaré onde Jesus, naquele
sábado, leu o texto de Isaías (cf. Lucas 4). No final, observa o evangelista,
os olhos de todos estavam fixos em
Jesus. Assim deve acontecer depois de toda proclamação da Palavra: os olhos e
os corações de todos devem estar fixos em Jesus. Ele fale à nossa vida, Ele
chame a conversão e aponte novos caminhos de fé e amor. Se isso acontecer, com
certeza as nossas vidas serão mais coerentes com a pessoa e a mensagem de
Jesus.
Dom Armando