ORAÇÃO EUCARÍSTICA - IV

Continuemos nossas reflexões a respeito da Oração Eucarística. Hoje, em nosso Missal, temos 14 dessas grandes Orações. Pretendo, brevemente, introduzir algumas para ter, ao menos, uma ideia dos ricos conteúdos teológicos e espirituais que nelas se encontram.
Começamos com a primeira, chamada de Cânon Romano que, até 1969 era a única Oração Eucarística usada nas Igrejas do Ocidente. Temos informações que esse Cânon - que significa regra, norma - já no IV século, fazia parte da Liturgia de santo Ambrósio, mas deve ser oração ainda mais antiga, talvez já do II século, quando a língua latina começa ser usada na liturgia.
Na reforma após o Concílio, o Cânon Romano passou por algumas modificações, por exemplo, dos 24 sinais de cruz, ficou um só; foram eliminados dois beijos do altar e acrescentada a aclamação depois da consagração; as duas listas de santos foram, em parte, colocadas entre parêntesis.
Quem examina com atenção o texto desta bela Oração, pode distinguir até 15 partes. Vamos considerar só algumas com rápidas anotações.
a) Encontramos duas listas de santos com bem 41 nomes. Aparece, assim, o sentido da comunhão dos santos; desde a Virgem Maria e seu esposo, São José e, passando pelos 12 Apóstolos, chegamos a pronunciar os nomes de 12 mártires: cinco papas, um bispo, um sacerdote, um diácono e cinco leigos. Na segunda lista encontramos 15 nomes, todos de mártires: primeiro João Batista, e, em seguida, sete homens e sete mulheres. Essa memória tem um sentido profundo. Eles e elas foram fiéis até o ponto mais alto no seguimento de Jesus, o Mártir por excelência, cujo sacrifício a Missa celebra. Eles são companheiros e companheiras de caminhada; por isso, pedimos a força do alto para imitá-los na mesma fidelidade no seguimento de Jesus.
b) No início, a Oração é pela Igreja católica, termo que indicava a abertura universal da mesma: a Igreja era chamada ‘a Católica’ para expressar a ortodoxia da fé. Deus é reconhecido como o ator principal da colaboração com o Papa e o Bispo, para ‘proteger, unir e governar’ a Igreja mesma.
c) Reza-se pelos que estão presentes na celebração, para que sejam salvos junto com os seus. Encontramos a oração pelos falecidos “que partiram desta vida marcados com o sinal da fé”.
d) Outro tema - central nessa Oração - é o do sacrifício, junto com o da oferenda. Por bem quatro vezes se repete o pedido ao Pai para que aceite “o sacrifício perfeito e santo, pão da vida eterna e cálice da salvação”; com insistência, se pede que o receba “como a oferta de Abel, o sacrifício de Abraão, e os dons de Melquisedec”. A pureza de coração é a condição para que o sacrifício seja aceitável, seguindo os exemplos indicados. A Eucaristia é chamada de Sacrifício de louvor, recordando, sobretudo, a carta aos Hebreus (13,15), como outros textos bíblicos.
O nosso sacrifício consiste em devolver a Deus dentre os dons que Ele nos concedeu. Por isso, os sentimentos que devem crescer nas pessoas que participam da Eucaristia, são uma profunda humildade e uma autêntica gratidão. De fato, cada celebração nos recorda que na vida ‘tudo é graça’.
Dom Armando