ORAÇÃO EUCARÍSTICA - V

Hoje vamos analisar a Oração Eucarística II, a mais curta e, talvez por isso, a que com maior frequência é escolhida nas celebrações. Apesar de concisa, ela é fruto de uma longa história e expressa ricos conteúdos.
Quando o papa Paulo VI autorizou a elaboração de novas preces eucarísticas, os liturgistas logo recuperaram uma prece antiga que pertence à Tradição apostólica, uma obra atribuída a Hipólito, presbítero romano do início do III século (hoje esta atribuição é descartada por quase todos os estudiosos). Ela dá o modelo de como devia ser a Oração eucarística nos primeiros séculos da Igreja, quando ainda não existia um texto determinado.
Depois do diálogo introdutório, no prefácio se agradece a Deus pelo dom de seu Filho Jesus Cristo. Invoca-se o Espírito Santo sobre o pão e o vinho oferecidos para continuar, assim, entre nós, a obra de santificação. Com poucas palavras se recorda o que Jesus fez “estando para ser entregue” pela nossa salvação e, numa única descrição, a narrativa da instituição - o memorial - do que Jesus fez na última ceia. A oração continua em atitude de agradecimento ofertando ao Pai “o pão da vida e o cálice da salvação”, “porque nos tornastes dignos de estar aqui na vossa presença e vos servir”.
Elemento muito bonito é a segunda invocação do Espírito – chamada de epiclese – em que se invoca, pela segunda vez, o Espírito Santo para que,“participando do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos reunidos num só corpo”.
Seguem as intercessões: pela Igreja - “que se faz presente pelo mundo inteiro” – é a ‘católica’! – “para que cresça na caridade com o papa, o bispo e todos os ministros do vosso povo”. Lembramos “dos nossos irmãos e irmãs que nos precederam na esperança da ressurreição e de todos que partiram desta vida”: ao Pai pedimos acolhida: “junto a vós, na luz da vossa face”.
Enfim, imploramos que “em comunhão com a Virgem Maria, são José seu esposo, os apóstolos” e com todos que “neste mundo vos serviram” possamos “participar da vida eterna” e louvar e glorificar o Pai, no Espírito, “por Jesus Cristo, vosso Filho”.
Como todas as preces, conclui-se com a doxologia: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”.
Concluindo, poderíamos fazer numerosas considerações teológicas e espirituais. Acrescento só que na celebração da Igreja “torna-se presente a nossa redenção” (Oração sobre Oferendas, V feira santa); a Eucaristia é o “memorial da nossa redenção”; portanto, a proclamação da salvação se torna realmente efetiva em nós. Essa mensagem está muito presente na Oração Eucarística II. É um “fluir único da Criação à Redenção para chegar à Ceia que, para nós, é o aqui e agora da Salvação. Podemos afirmar que a Oração Eucarística II, em sua essencialidade, permanece “uma sintética e autêntica proclamação do Evangelho de Jesus” (Barry Hudock).

Dom Armando