Estamos refletindo sobre o Ano litúrgico, isto é, o conjunto de celebrações com que a Igreja,
ao longo do ano, louva o seu Senhor e agradece ao Pai, no Espírito, pela
salvação que Jesus Cristo levou a cumprimento com a sua Páscoa.
O Papa Paulo
VI, na apresentação das Normas universais
sobre o Ano Litúrgico e o Calendário,
escrevia (em 1969): “No decorrer do ano, a
Santa Igreja comemora em dias determinados a obra salvífica de Cristo”; e
acrescentava: “A celebração do mistério pascal conforme nos ensinou
claramente o Sacrossanto Concílio Vaticano II, constitui o cerne do culto
cristão no seu desenvolvimento cotidiano, semanal e anual”. As celebrações, no
decorrer do ano, aparecem como a aliança de ouro, sem início nem fim,
de Cristo à sua Igreja. “O mistério da ressurreição, no qual Cristo esmagou a
morte, penetra o nosso velho tempo com a sua poderosa energia, até que tudo lhe
seja subtraído” (Catecismo n. 1169).
Já o Antigo Testamento tinha como centro a
festa da Páscoa. Os evangelistas sinóticos interpretam a Páscoa de Jesus qual realização
da antiga e a Eucaristia como a Ceia
pascal da nova Aliança (cf. Mt 26,17-29 e par.). Para são João, a
Páscoa se realiza no Calvário onde Jesus morre como cordeiro pascal, na mesma
hora em que eram imolados os cordeiros para serem consumidos na ceia pascal
(cf. Jo 18,28; 19, 14.31.42). Essa é a
hora de Jesus que João anuncia desde o
início de seu evangelho. Na Páscoa de Jesus, o Pai cumpre seu plano de
salvação, que é constantemente atualizado através da celebração memorial: este foi, e é, o ponto
central da pregação, da celebração e da vida cristãs. No Catecismo da
Igreja católica se lê:“Durante o ciclo anual desenvolve-se todo o mistério de
Cristo e comemoram-se os aniversários dos santos”. (...) Nos vários tempos do Ano
Litúrgico... a Igreja aperfeiçoa a formação dos fieis” “pela instrução e
oração, e pelas obras de penitência e de misericórdia” (cf. SC 102-105).
O culto da Igreja nasce da Páscoa e
para celebrar a Páscoa. “Cristo é a Páscoa da nossa salvação”, afirmava
Melitão de Sardes, escritor eclesiástico da segunda metade do séc. II. Por
isso, ela é a “festa das festas, “solenidade das solenidades, “o grande
domingo” (S. Atanásio), “a grande semana”, como no oriente se chama a “Semana
santa” (Catecismo 1169).
Pela metade do II século já temos
indícios de que se celebra a Páscoa
anual; no final do II séc. o testemunho de papa Vitor I
nos informa que, ao costume dos quatordecimanos
de celebrar a Páscoa no dia 14 de Nisan, ele opõe a tradição de celebrá-la no
domingo seguinte o equinócio de primavera (do hemisfério norte). Mais tarde, os cristãos começaram a celebrar em
dias determinados do ano, acontecimentos importantes da vida e da obra de
Jesus: Nascimento, Epifania, Ascensão, Pentecostes. Assim, aos poucos,
foram formando-se as várias festas litúrgicas. Forma-se, aos poucos, a
estrutura do Ano litúrgico como nós hoje o celebramos.
Dom
Armando