LITURGIA DAS HORAS - VIII

Com esta reflexão, concluímos o assunto Liturgia das Horas que nos acompanhou nestas últimas semanas.
Espero fique mais claro para os leitores do nosso blog o sentido da ‘Oração da Igreja’. Pela sua história e valor, essa oração constitui – junto com a Eucaristia - a expressão mais alta da Igreja viver seu relacionamento com Deus Pai em Jesus Cristo no Espírito Santo.
Vimos que, há 50 anos, o Concílio Ecumênico Vaticano II deu uma nova formulação e estrutura a essa oração e convidou todos os seus fiéis a praticá-la. Ao antigo ‘breviário’ foi dado o nome de ‘Liturgia das Horas’, para realçar que se trata da ‘obra de Deus’ que acompanha e santifica as horas do dia, da manhã até à noite. Insisto: não mais uma oração reservada aos ministros ordenados e religiosos, mas uma oração entregue à Igreja toda.
Nestes decênios estão aumentando as Comunidades que oram com a Liturgia das Horas e cresceu a consciência do sentido dessa oração; mas, ainda estamos longe para que seja acolhida pelos fiéis em sua vida cotidiana e nos encontros eclesiais.
Vimos que essa oração usa, de maneira expressiva, os Salmos. Neles encontramos uma extraordinária proposta de oração. Ensinam-nos um estilo de oração, oferecem-nos um modelo e uma espiritualidade. Orar com os Salmos ajuda a formar em nós, aos poucos, uma mentalidade e uma atitude que nos farão sair do pequeno horizonte do eu e renunciar às pretensões de estar no centro de tudo. Amadureceremos, assim, uma alma mais aberta e sensível às dimensões do espírito e da fé, como Jesus nos ensinou com suas palavras e, ainda mais, com seu exemplo. Sentiremos, e de consequência viveremos mais abertos a Deus e aos irmãos, e, com a força e a luz do Espírito, nossa oração terá o respiro do Espírito, atentos aos apelos de Deus e da vida com seus desafios e suas necessidades. Sobretudo, à escola dos Salmos - e da liturgia em geral - aprenderemos a orar com sensibilidade de homens e mulheres que sabem, antes e acima de tudo, agradecer e louvar a Deus a partir e dentro da vida concreta.
Os que se colocaram à procura de Deus e os seguidores de Jesus, sempre precisa­ram vivenciar essa dimensão de abertura e de gratuidade. Hoje em dia, corremos o perigo de perder o sentido do gratuito, do puro amor, da gratidão. Às (tantas?) vezes, nossa oração é muito interesseira ou até egoísta! Mas, o cristão que compreende quem é Jesus, é chamado a vivenciar atitudes totalmente gratuitas, sobretudo em suas expressões orantes. Por isso, não corresponde ao estilo cristão dizer: “Rezo (só) quando sinto necessidade”. Porque não somos nós os protagonistas da oração, é o Espírito que clama em nós. Por meio do Espírito, com Jesus, devemos expressar ao Pai gratidão e confiança, também quando os acontecimentos da vida não correspondem aos nossos desejos.
Orando com os Salmos e a liturgia da Igreja, seremos conduzidos a conhecer a Deus, na constante surpresa do puro amor e no silêncio vibrante d’Aquele que vive no mais íntimo de nós. Estaremos, assim, em continuidade com a experiência do povo de Deus e do mesmo Jesus, como também de tantas gerações de santos e mártires que cantaram e oraram os Salmos antes de nós.
Quando oro com essa oração, sinto-me, ainda, em união com mi­ríades de orantes que, em todo canto do mundo, no silêncio da noite ou no barulho do dia, na cidade e nos mosteiros, louvam a Deus com essa oração. E respiraremos com a oração de tantos povos da humanidade inteira a caminho da Verdade total.
Dom Armando