A CELEBRAÇÃO DO BATISMO DE CRIANÇAS - V

      Já vimos os ritos de acolhida, da liturgia da Palavra e da unção pré-batismal. Entramos, agora, na III parte da celebração, a liturgia sacramental. Se for possível, diz o Ritual, “faz-se uma procissão para o batistério”, isto é, o local onde se realiza o batismo, cantando as ladainhas dos Santos, podendo adaptar segundo as mais conhecidas na comunidade.
Segue a oração de bênção sobre a água. O Ritual recomenda que nas igrejas paroquiais, e também nas capelas ‘onde se fazem habitualmente batismos, haja uma pia batismal fixa ou fonte batismal de onde possa jorrar ou correr água’. (O Ritual faz várias propostas; mas, infelizmente, na prática, segue-se – na maioria dos casos – o caminho mais rápido e simplificado, ignorando ou não valorizando as possibilidades que tornariam mais significativo esse, como outros momentos da celebração).
      A oração sobre a água, proposta pelo Ritual, faz memória da atuação de Deus ao longo da História da Salvação. Reza: “Ó Deus... ao longo da História da Salvação vós vos servistes da água para fazer-nos conhecer a graça do batismo”, e recorda aqueles momentos marcantes em que a água entra nessa história: na origem do mundo, quando o Espírito pairava sobre as águas; no dilúvio; na passagem do mar Vermelho; no batismo e na morte de Jesus. No final, pede-se ao Pai: “por vosso Filho desça sobre esta água a força do Espírito Santo”.
      Tantas vezes, quando celebro um batismo, pergunto aos pais e padrinhos: “Quem dá a vida nova de Jesus? Será que é a água?” E acrescento: “Não, não é a água, mas o Espírito Santo”. Por isso, nós invocamos o Espírito sobre a água para que Ele mesmo dê ao batismo seu sentido mais profundo: fazer nascer da água e do Espírito esta criança.
    O simbolismo da água é muito significativo, vale a pena refletir com os participantes da celebração e favorecer uma compreensão mais ligada à realidade sacramental e aos efeitos que a graça produz. Água, fonte de vida, mas, também, causa de morte. Nada de mágico ou automático. Água com seu sentido humano tão expressivo, ligado à nossa estrutura biológica e à vida, possível só por meio da água. A partir desse sentido antropológico da água, é necessário colher o sentido de vida e de morte, em Cristo, que se realiza no batismo, por meio da água e pelas palavras da fé.
    Antes de derramar a água batismal sobre a cabeça da criança, temos outro rito muito significativo: pais e padrinhos são perguntados a respeito de sua fé. É pela fé da Igreja, aqui representada, de maneira especial, pelos pais e padrinhos, que a Igreja batiza crianças. Trata-se das ‘promessas batismais’. Essas contêm palavras fortes, tantas vezes pronunciadas de forma puramente ritual e convencional. Sem a compreensão e o compromisso que fecundem e transformem a vida dos adultos, é difícil que o batismo de crianças alcance sua finalidade.

Dom Armando