Já vimos os ritos
de acolhida, da liturgia da Palavra e da unção pré-batismal. Entramos, agora,
na III parte da celebração, a liturgia sacramental. Se for possível, diz
o Ritual, “faz-se uma procissão para o batistério”, isto é, o local onde se
realiza o batismo, cantando as ladainhas dos Santos, podendo adaptar segundo as
mais conhecidas na comunidade.
Segue a oração de bênção sobre a água. O Ritual recomenda que nas igrejas
paroquiais, e também nas capelas ‘onde se fazem habitualmente batismos, haja
uma pia batismal fixa ou fonte batismal de onde possa jorrar ou
correr água’. (O Ritual faz várias propostas; mas, infelizmente, na prática,
segue-se – na maioria dos casos – o caminho mais rápido e simplificado,
ignorando ou não valorizando as possibilidades que tornariam mais significativo
esse, como outros momentos da celebração).
A oração sobre a água, proposta
pelo Ritual, faz memória da atuação de Deus ao longo da História da Salvação. Reza:
“Ó Deus... ao longo da História da Salvação vós vos servistes da água para
fazer-nos conhecer a graça do batismo”, e recorda aqueles momentos marcantes em
que a água entra nessa história: na origem do mundo, quando o Espírito pairava
sobre as águas; no dilúvio; na passagem do mar Vermelho; no batismo e na morte
de Jesus. No final, pede-se ao Pai: “por vosso Filho desça sobre esta água a
força do Espírito Santo”.
Tantas vezes, quando
celebro um batismo, pergunto aos pais e padrinhos: “Quem dá a vida nova de Jesus? Será que é a água?”
E acrescento: “Não, não é a água, mas o Espírito Santo”. Por isso, nós invocamos
o Espírito sobre a água para que Ele mesmo dê ao batismo seu sentido mais
profundo: fazer nascer da água e do
Espírito esta criança.
O simbolismo da água é
muito significativo, vale a pena refletir com os participantes da celebração e
favorecer uma compreensão mais ligada à realidade sacramental e aos efeitos que
a graça produz. Água, fonte de vida, mas, também, causa de morte. Nada de
mágico ou automático. Água com seu sentido humano tão expressivo, ligado à
nossa estrutura biológica e à vida, possível só por meio da água. A partir
desse sentido antropológico da água, é necessário colher o sentido de vida e de
morte, em Cristo, que se realiza no batismo, por meio da água e pelas
palavras da fé.
Antes de derramar a
água batismal sobre a cabeça da criança, temos outro rito muito significativo:
pais e padrinhos são perguntados a respeito de sua fé. É pela fé da Igreja,
aqui representada, de maneira especial, pelos pais e padrinhos, que a Igreja
batiza crianças. Trata-se das ‘promessas
batismais’. Essas contêm palavras fortes, tantas vezes pronunciadas de
forma puramente ritual e convencional. Sem a compreensão e o compromisso que
fecundem e transformem a vida dos adultos, é difícil que o batismo de crianças
alcance sua finalidade.
Dom Armando