ÉTICA. PRA QUE?


Para adentrarmos ao assunto, primeiramente devemos compreender o conceito de ética. Etimologicamente, a palavra ética provém do grego ethos, que significa morada do humano, isto é, o nosso lugar, o lugar em que nós habitamos, com isso a ética em seu sentido original, nos é apresentada como a integralidade do homem, assim sendo, só o ser humano é capaz de ser ético, pelo fato de os outros animais não terem a capacidade de agir mediante uma reflexão.
Desde a antiguidade a ética é um assunto muito abordado pelos grandes pensadores que, por assim dizer, fizeram do pensamento acerca do comportamento humano ponto de partida para a construção do pensar filosófico. Primeiramente analisou a relação do homem com a phisis, ou seja, com o mundo que o permeia, e posteriormente, do relacionamento dos indivíduos de uma mesma sociedade. Na Grécia Antiga, as grandes questões filosóficas giravam em torno da questão ética, Platão no livro Apologia de Sócrates, por exemplo, aborda de forma evidente a questão ética presente no julgamento de seu mestre. Aristóteles, outro grande pilar do pensar filosófico que viveu nesse período da história, nos apresenta de maneira singular, obras em que o tema da ética é abordado, inclusive, duas dessas obras é intitulada com esse termo, são elas: Ética a Nicômaco e Ética a Eudemo. Para os pensadores gregos clássicos, a ética está intrinsecamente ligada aos conceitos de justiça, bondade e beleza, perpassando por todas as áreas do comportamento humano.
No Período Renascentista, aparecem filósofos que também abordaram essa temática, porém, para compreendermos o pensamento desse período, devemos, antes, compreender um pouco da era medieval, em que esse período está inserido. O Renascimento (vale lembrar que esse termo só é empregado no século XIX), que compreende os séculos XIV a XVI, marca a passagem da Idade Média para a modernidade, este tempo, surge depois de um período filosófico teocêntrico, em que o cristianismo despontara como a religião detentora dos poderes espirituais e cívicos da época. O renascimento quebra essa visão teocêntrica colocando o homem como artífice de sua história, o precursor desse pensamento antropocêntrico é Giovanni Pico Della Mirandola, que propõe uma ética pautada, sobretudo, na valorização das escolhas presente em cada ser humano. Posteriormente, vem Nicholas Machiavel, com sua celebre frase “Os fins justificam os meios”, que muitas vezes erroneamente empregada pode parecer algo muito vil, isso se constata pela expressão “maquiavélica” que serve para rotular pessoas com má intenção, porém, os fins ao qual Machiavel apresenta, são fins virtuosos que devem estar presente na intencionalidade daquele que governa. Contemporâneo a Machiavel, citamos também, Martinho Lutero, que com o pensamento típico desse período da história, coloca a liberdade como um bem supremo, e assim podemos constatar em sua obra intitulada “A Liberdade do Cristão” podemos encontrar nessa obra, traços de uma reflexão ética. Outro autor que vale ser citado é Michel Montaigne, sua ética é basicamente pautada na amizade, que ultrapassa as fronteiras do individualismo e pode ser vivida em outros campos como, por exemplo, a política.
Assim vemos uma Renascença completamente envolvida nessa órbita do antropocentrismo e também afetada pelas grandes descobertas cientificas, geográficas e artísticas, caracterizando assim, esse despontar e despertar do homem para o mundo em sua volta.
Em nossos tempos podemos perceber uma crise de valores que permeiam todos os âmbitos da sociedade, desde a ética médica que engloba as ciências que estuda as patologias humanas, até as mais minuciosas como, por exemplo, a genética, perpassando por uma ética política, até chegar ao que chamamos de, “Ética Individual”, em que o próprio ser tem em si a necessidade de mostrar-se inteiramente íntegro e bom caráter. Assim, observa-se que, numa sociedade em que os valores éticos são cada vez mais questionados, há uma necessidade eminente de mostrar o que o outro não é, para esconder o que se é, para ser mais claro, evidencia-se os defeitos alheios, para que as más qualidades daquele que aponta não apareça, com isso há uma inversão de valores, ou melhor, uma desvalorização da ética em seu estado genuíno.
Essas características tornam-se visíveis, principalmente, no processo eleitoral vigente no Brasil, onde, os candidatos rivais, no intuito de mascarar suas falcatruas, busca uma destruição da imagem de seu adversário, e o pior não é isso, o pior é que, aqueles que melhor fazem esse jogo antiético, são os mais bem votados, mostrando assim o meio ético-político que estamos envolvidos.
Como diz Mário Sergio Cortella em um dos seus artigos: “o exercício da ética pressupõe a noção de liberdade”, assim sendo, todo ser humano que se diz livre, é um ser ético, melhor dizendo, todo homem é ético, visto que, a liberdade é algo inerente ao homem.
Portanto, encontramos características éticas em nosso atual sistema político, pelo simples fato dele ser formado por homens que gozam da mais sublime liberdade presente na raça humana. Porém, devemos rever nossa concepção de ética, não apenas para mudar o cenário “corrupolitico” que vivemos, mas, sobretudo, para vivermos humanamente em meio a homens de bem.

Pablo Barbosa
2º Filosofia