Nas minhas
últimas doze ‘colunas litúrgicas’, tratei do Batismo de crianças, assim como a
Igreja o propõe através do livro litúrgico da celebração. Hoje vou introduzir a
reflexão sobre outro Sacramento da Igreja católica: a celebração do Matrimônio
ou, com expressão mais popular, do Casamento.
Falar em
casamento, hoje em dia, é algo muito complexo e desafiador. Circulam em nossa sociedade,
acolhidos sem questionar, também por muitos cristãos católicos, comportamentos
que não estão de acordo com a mensagem cristã. Assim, maneiras de entender e
viver a dimensão sexual, modelos de vida e também de celebração do casamento
tornaram-se tão diferentes que as propostas da Igreja e o sentido que ela dá ao
Matrimônio, tantas vezes, são considerados obsoletos, em contraste com a liberdade
pessoal de escolher e celebrar cada um (a) o ‘seu’ casamento.
Com certeza, é
preciso reconhecer que o Matrimônio, como instituição social, existe antes da
celebração litúrgica da Igreja; trata-se de uma realidade humana e social que a
Igreja acolhe e valoriza, mas que preexiste na vida dos vários povos.
Não é minha
intenção enfrentar os numerosos questionamentos ligados ao Matrimônio. O Sínodo
já iniciado e que se concluirá no próximo mês de outubro, está tratando amplamente
estas questões. Por minha parte, limitarei as conversas à dimensão litúrgica do
Matrimônio como Sacramento da Igreja, abordando, a partir dessa ótica, algumas
questões ligadas à celebração, mas que provêm do modo de entender e sentir hoje
o relacionamento afetivo e sexual das pessoas.
Temos
consciência de que o casamento é uma realidade complexa. Antes de tudo, é escolha
de duas pessoas. Os outros Sacramentos dependem – normalmente – da escolha de
uma pessoa (exceto no batismo de criança); no casamento, trata-se do compromisso
que duas pessoas assumem livre e publicamente.
Do ponto de
vista social, a complexidade deste Sacramento provém do fato que sua celebração
tem uma dimensão, antes de tudo, antropológica social. Os demais Sacramentos
pertencem unicamente à Igreja; o Matrimônio não. Encontram-se casais – que se declaram
cristãos – mas que recusam uma ou outra forma de celebração: “Já casei no
civil, que necessidade tem de outro casamento?” (religioso, se entende). Hoje
em dia, ainda, cresce o número dos que não procuram expressar publicamente –
nem com a forma civil nem religiosa – sua união afetiva e de convivência, enquanto,
aumentam os casais homoafetivos que pedem o reconhecimento civil.
Neste sentido, o
documento de preparação para a XIV Assembleia Geral ordinária do Sínodo dos
bispos, escreve que a ‘mudança antropológico-cultural influencia hoje todos os
aspectos da vida e exige uma abordagem analítica e diversificada’. Existem sim,
também aspectos positivos, mas também negativos, sobretudo um ‘exasperado
individualismo’, “cada indivíduo ‘se constrói em conformidade com os seus
próprios desejos, assumidos como um absoluto” (n. 5).
Então, o que se
pode fazer diante dessas dificuldades? A celebração litúrgica, quando acontece,
tem esse ‘pano de fundo’ cultural, em que respiram, também, os cristãos
católicos. Às vezes, encontram-se noivas que pretendem a celebração litúrgica
seguindo mais o ‘estilo novela’, com suas músicas e expressões, do que segundo
o espírito e o estilo do rito litúrgico da Igreja.
Eis,
portanto, a necessidade de favorecer, por parte dos pastores e das pastorais, a
compreensão do sentido da celebração litúrgica do casamento religioso. Será
assunto das nossas próximas conversas.
Dom
Armando