A CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO – 5

Estamos conhecendo alguns elementos da celebração do matrimônio na antiguidade. Vimos  como acontecia na religiosidade hebraica e no mundo grego e romano dos séculos mais antigos. Hoje, vamos acrescentar mais alguns detalhes da realidade romana, assim como pode ser reconstruída através dos testemunhos dos escritores da época. Trata-se de alguns elementos mais comuns, pois cada região tinha suas particularidades e, ainda, o novo sempre demora a se impor, permanecendo por muito tempo hábitos e tradições do passado.
A decisão de ‘empenhar’ a filha com o futuro esposo pertencia ao pai. Ele combinava a tratativa – dita sponsio - para o casamento. Com esse ato, os dois já se empenhavam reciprocamente e se tornavam membros do parentesco. O pai da noiva devia definir o ‘dote’ (a palavra vem de um verbo grego que significa ‘doar’; era uma antecipação da herança paterna) para a filha. Nesta época, o contrato acontece ‘na palavra’ e com a presença de testemunhas.
Alguns escritores da época (por ex. os poetas Virgílio e Ovídio) documentam que os dois estreitavam a mão direita um do outro para expressar o recíproco empenho. Já no I século d.C. sabemos que o noivo enviava à sua futura esposa um anel[1] como sinal desse empenho para com ela; a esposa o colocava no dedo anular, em sinal do compromisso com ele. Como garantes da fidelidade eram invocadas as divindades. Às vezes, acontecia um banquete para expressar, ao redor da mesa, a união entre as duas famílias.
Além dos deuses da família (os Penates) destacavam-se Venus, Júpiter (Zeus), Juno (Hera), Ceres, Mercúrio. Ao sacrifício à divindade, seguia o banquete de casamento, de costume na casa da esposa. No banquete (pelas cinco da tarde), tinha o ‘mestre sala’ (cf. João 2, 8) e os que participavam da ceia deviam ter a cabeça coberta com guirlandas de flores.
O rito na casa do pai da esposa, depois, passou para os públicos templos, também se a intervenção dos sacerdotes acontecia, sobretudo com as classes mais ricas. No templo se celebrava um rito – chamado confarreatio­ – que consistia em sacrificar ao deus Júpiter um bolo de ‘farro’ (espécie de trigo) do qual comiam os esposos; o rito acontecia diante do sacerdote e de dez testemunhas. Sacrificava-se ao deus uma ovelha e seguiam várias preces, enquanto os esposos ficavam sentados um ao lado do outro sobre banquinhos amarrados, e um véu cobria (nubere, em latim, daí nupcias e nubentes = ‘cobertos’) suas cabeças.
Depois do solene banquete, ao anoitecer, acontecia o cortejo até a casa do esposo; o caminho estava iluminado por muitas tochas e tocadores alegravam a caminhada. Tudo era realizado em atitude religiosa. Em alguns lugares, tinha o sacrifício (porco, boi, bezerra) às divindades ‘especializadas’ em defender o casamento. Entrando na casa do marido, a esposa dizia: “Onde tu estiveres (Caio), eu também (Caia) estarei”. No caminho, às crianças eram doadas nozes, provavelmente como voto de fecundidade e prosperidade. A esposa vestia um hábito branco, muito simples e amarrado; os cabelos eram divididos em seis tranças e coberto por uma guirlanda de verduras. 
Muitas outras cerimônias e diferentes orações às divindades da família acompanhavam a entrada na nova casa, até os noivos chegarem ao quarto nupcial. Aos poucos, porém, observa-se uma decadência do sentimento religioso. “Fogo sagrado e pão sacrifical são substituídos por um documento legal” (C. Fernández).
Dom Armando




[1] Anel vem de anulus, diminutivo de amnis = serpente;  a forma de anel era de uma pequena serpente, talvez símbolo da fertilidade e da virilidade.