A CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO – 7

Continuamos nossa reconstrução da história do Matrimônio. Vimos que, nos primeiros séculos, a Igreja não tem um rito próprio; os cristãos seguem os ritos do ambiente em que vivem. Aos poucos, porém, observa-se que – é o dado mais antigo –na frente da Igreja o padre dava aos noivos uma bênção especial, mas não se trata, ainda, de uma celebração. Na frente da Igreja, a celebração continuará também quando – isso sim – o matrimônio entre dois cristãos se torna‘celebração da igreja’ e esse costume permanecerá, se o ritual do Concílio de Trento (1545-63) mantém a disposição que o casamento seja celebrado na entrada da igreja.
Os historiadores observam que o traço mais antigo no que se refere à formação do ritual do matrimônio, encontra-se no rito chamado de velatio, isto é, o gesto de estender um véu sobre a cabeça dos noivos, enquanto é rezada uma oração de bênção. No Oriente acontece algo parecido com um rito chamado de coroação, talvez seguindo o costume familiar de as noivas colocar coroas no dia do casamento. Desde os séculos IV – V, sempre no Oriente, encontramos vários testemunhos que nos dizem da presença de um ministro no contesto do casamento, desde o início da celebração, na casa da noiva. Resumindo, um historiador escreve: “Nos séculos IV e V d.C. a bênção nupcial em Oriente é, portanto, um costume pacífico e praticado em todo canto” (Pietro Daquino). Assim, pouco a pouco, o pai de família é substituído pelo sacerdote e no Ocidente o mesmo acontece no ritual das bodas.
Nos escritos dos Padres da Igreja de Oriente – sobretudo Gregório de Nazianzo, João Crisóstomo, Basílio etc. – encontram-se duras queixas contra os comportamentos impróprios na ocasião dos matrimônios. Por exemplo, o Crisóstomo escreve: “Não tornemos desonestas as núpcias com festas diabólicas, mas, os que levam para casa a esposa, façam como fizeram os habitantes de Caná da Galileia; tenham Cristo sentado entre eles. Alguém perguntará: ‘Como pode acontecer isso’? Por meio dos sacerdotes”.
Observamos que esse rito da velatiose encontra também na América Central, em vários ritos pré-hispânicos; talvez, a partir do rito moçárabe (próprio da Espanha), passou para nós desde a primeira evangelização.Escreve um autor: “Talvez, uma relíquia da bênção mais antiga da velatio seja o dado de que o presbítero envolvia na própria estola as mãos dos contraentes enquanto orava”(Conrado Fernández Fernándes).
Acompanhando a história, nos séculos IV e V, como primeiro sinal da liturgia matrimonial, encontramos a bênção nupcial que é dada durante a celebração da eucaristia. Pela metade do século V, já se acha um esquema de ‘missa na celebração do matrimônio’.Ainda hoje, na celebração matrimonial, temos uma bênção - a primeira do ritual – que é muito antiga, de profundo sabor bíblico, que foi adaptada na última reforma do rito, mas que pertence a este período.
De forma resumida, podemos dizer que, nos primeiros oito séculos, a Igreja não intervém com um rito próprio para a celebração do matrimônio; este permanecealgo ligado aos costumes matrimoniais de cada ambiente, mas a presença dos ministros da Igreja marca a celebração matrimonial dos cristãos.

Dom Armando