A CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO – 9

Em minhas reflexões a respeito da celebração do Matrimônio, relembrei algumas páginas de história, desde os tempos antigos até os mais recentes. Agora vamos conhecer o que hoje propõe o Ritual da nossa Igreja. Nas páginas introdutivas, logo tomamos conhecimento de que esse rito foi reformado, como auspiciava a Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium, e ficou “mais enriquecido”, de modo que “significasse mais claramante a graça do sacramento e inculcasse melhor os deveres dos cônjuges”.
Saiu, em sua I edição, em 1969; em 1990, porém, já aparece uma segunda ‘edição típica’, “mais rica na Introdução Geral, nos Ritos e nas Preces”. Essa, traduzida para o Brasil, apareceu em 1993, enriquecida com um rito que “podemos chamá-lo de Rito Brasileiro”, como observa, sempre nas páginas introdutivas, Dom Clemente Isnard, grande liturgista, que Presidiu a Comissão para a Liturgia da CNBB. O rito tornou-se mais rico em seu conteúdo pastoral, pois - são palavras de Dom Clemente - “a celebração envolve muitas pessoas, chamadas a participar, e também a assembleia, em geral passiva e distraída”.
Vale a pena relembrar mais uma observação crítica de Dom Clemente: “Sabemos que as celebrações de Matrimônio, especialmente nos bairros de classe média e alta, estão sendo um verdadeiro problema para nossa consciência sacerdotal, má­xime no confronto entre o luxo com que se reveste e a estabilidade do lar que então é fundado”.  Essa observação, hoje, continua atual; antes, o ‘modelo novela’ compenetra mentes e estilo cele­brativo, também das classes mais pobres, dos que ainda procuram a celebração litúr­gica.
Cientes desses desafios, vamos ver as propostas do Ritual e algumas sugestões celebrativas. Tenho longa experiência para dizer que, hoje também, é possível dar dignidade e beleza à celebração do Matrimônio e torná-lo ‘sacramento’, isto é, sinal forte de encontro com o Senhor Jesus, o esposo da Igreja, que, na história concreta de amor de um homem e uma mulher, continua mostrando e atualizando seu amor.
Como em todos os rituais reformados após o Concílio Ecumênico Vaticano II, também o do Matrimônio contém uma significativa Introdução Geral, que é necessário conhecer. Nela, encontra-se o sentido que hoje a Igreja pretende dar aos ‘sinais da fé’ que celebra, e propor modalidades celebrativas de acordo com seu sentido teológico e espiritual. Logo sei que vão aparecer as dificuldades por parte dos padres que, em certos dias, devem celebrar um casamaneto após o outro, com noivas que chegam atrasadas, testemunhas que dão à sua presença só destaque decorativo, cantores e tocadores que se acham donos da celebração e pensam poder tocar e cantar qualquer música, também sem nenhuma ligação com o mistério de Cristo. E... são somente alguns dos desafios que conhecemos por longa experiência.
Todavia, em qualquer situação, com as devidas advertências e colaborações, aos poucos, é possível – quase sempre – tornar também esse momento, um ‘sacramento’, isto é, um evento de salvação e uma experiência da bondade e da presneça do Senhor em nossa vida e, sobretudo, dos que mais são chamados a celebrar - ‘no Senhor’ - o seu amor. É a respeito disso que iremos falar.

Dom Armando