Em
minha última reflexão observava que o ‘estilo celebrativo’ do Matrimônio nos
questiona. Às vezes, constata-se nos nubentes uma fé não bastante amadurecida e
o desejo de viver esse momento mais inspirados nas ‘novelas’ do que segundo a
fé da Igreja. Sobretudo, as pessoas que têm maiores possibilidades econômicas, preparam
a festa mais esbanjando riqueza do que manifestando espiritualidade e
compreensão do valor cristão do casamento como sinal do amor do Senhor para
conosco.
Eis,
portanto, a necessidade de compreender o que significa a celebração litúrgica e,
fundamentados no sentido teológico e espiritual, encontrar as expressões para uma
celebração digna, coerente e bonita. Os aspectos folclóricos ou culturais, não
são excluídos, mas devem ser integrados segundo os valores da celebração
religiosa cristã. O
que, tantas vezes, é difícil, sobretudo quando noivos e familiares não têm um
contato vivo com a Igreja-comunidade de fé.
O
Ritual, isto é, o livro litúrgico que apresenta as modalidades da celebração, pede
que os batizados vivam este momento guiados pelo desejo de consagrar seu amor mútuo,
tendo como referencial o amor de Cristo pela Igreja, ou, ainda, o amor de Deus
pelo seu povo, assim como se encontra em tantas páginas da Bíblia. De fato, é da
sagrada Escritura que a Igreja tira o sentido da celebração litúrgica. Por
isso, como escreve um liturgista, “a bênção divina e sacramental não é um
enfeite, mas uma exigência que requer a presença operativa de Cristo, que
abençoa e santifica essa nova comunidade de amor por meio de uma aliança selada
com seu divino sangue” (Fernandez, C. Manual
de Liturgia III, p 279).
O
Ritual recomenda que ‘normalmente’ a celebração do matrimônio aconteça dentro
da celebração eucarística para expressar a união entre Cristo e a Igreja que,
na eucaristia, atinge a sua máxima expressão. Infelizmente, entre nós,isso é
possível poucas vezes, pelo fato do número reduzido de padres, mas, ainda, pela
escassa consciência e formação cristã de tantos noivos e familiares. Aos
poucos, porém, os que pretendem celebrar seu casamento ‘no Senhor’, são
chamados a viver a celebração como momento forte de sua fé, fazendo uma
adequada caminhada de compreensão dessa fé que só dá sentido e ilumina a
escolha de ‘casar na Igreja’. Essa escolha deve ser acompanhada pela busca
sincera de acolher, com consciência e responsabilidade, o ‘grande sacramento’,
isto é, o amor de Jesus que doou sua vida pela sua Igreja. Quem ama a Jesus
Cristo e sente, pela fé, a presença dele em sua vida e procura viver em
harmonia e comunhão com Ele e seu mistério, então, sentirá essa exigência de se
unir a Ele da forma mais plena e significativa. Isso, de maneira única, na
bonita ocasião em que manifesta a uma pessoa amada a vontade de se doar para
sempre na fidelidade e indissolubilidade e no desejo de acolher os filhos como
dom de Deus e educá-los na mesma fé que ilumina esse encontro.
Dom Armando