No
início deste mês de setembro, a frase “a humanidade levada pelas águas”
repercutiu pelo mundo, escrita nos mais diversos idiomas e das mais variadas
formas. Ela serviu de legenda para a imagem do pequeno Aylan Kurdi, de apenas
três anos, morto no naufrágio do barco que ia em direção a Europa. Tal imagem –
feita em Bodrum, na Turquia – espalhou-se pelas redes sociais, tornou-se
manchete de muitos jornais e revistas a ponto de estimular intensa reflexão
sobre a crise migratória dos sírios para a Europa e provocar discussões sobre a
questão política vivida no Oriente Médio e na África. Como se sabe, desde o
início da guerra civil na Síria em 2011, milhares de pessoas estão deixando o
país por causa da extrema violência, das perseguições e da pobreza. Não possuem
destino específico, vão para todos os cantos da terra. Porém, há muitas
rejeições na receptividade, como acontece com alguns países europeus, como é o
caso da Grécia, só pra citar um exemplo.
Todos
esses acontecimentos nos permitem pensar na influência que as imagens possuem
em nossos dias. Quer dizer, ao longo da história, a imagem sempre se desponta
como sinal de comunicação, porque é capaz de transmitir sentimentos, vontades e
opiniões. No entanto, com o avanço da tecnologia, sobretudo pelas redes
sociais, as imagens adquiriram enorme velocidade, tornando-se grande veículo de
comunicação. O problema é que nem sempre os objetivos pretendidos com as
postagens são atingidos. Pensemos na imagem do pequeno Aylan. Não há dúvidas
que a intenção daquela foto seja um sinal de alerta para a humanidade repensar
suas escolhas.
Efetivamente, a maior lição que aprendemos
ajuda-nos refletir sobre o que pode tornar nossas relações sociais mais humanas.
Nesse viés, se a Europa se comover com o caso de um pequeno inocente,
certamente irá repensar a forma de tratamento aos refugiados e imigrantes,
podendo acolhê-los e possibilitá-los uma nova oportunidade para reconstruírem
suas vidas. Sobre esse problema, o jornal britânico ‘Independent’ na sua
publicação de 03/09, questionou: “se estas imagens com poder extraordinário de
uma criança síria morta levada a uma praia não mudarem as atitudes da Europa
com relação aos refugiados, o que mudará?” Além dessa questão, perguntamos
também: será que a Síria e outros países do Oriente, da África e de outras
partes do mundo não se sentiram comovidos com aquela imagem? De fato, é preciso
pensar na acolhida dos migrantes na Europa e noutros lugares, mas não se pode
esquecer que a questão política do Oriente precisa mudar, pois se houverem
melhorias de vida naquela região, surgirão possibilidades de uma nova
humanidade. Até quando um inocente morrerá para nos ensinar resgatar a
humanidade para os caminhos da justiça, da paz, da fraternidade e do bem comum?
Enfim, para onde caminha a humanidade?
fundamentalmente, essa é a questão que nos provoca, pois somos a “humanidade
levada pelas águas”.
Marcos Bento
1º Teologia