Em minhas conversas
litúrgicas, estou tratando do sacramento do Matrimônio e propondo algumas
explicações a respeito das leituras bíblicas do Ritual.
Já vimos o que o
apóstolo Paulo escreve em sua carta aos Romanos. Do apóstolo, o Ritual propõe,
em seguida, a bonita página aos cristãos de Corinto. À amada Comunidade de
Corinto, Paulo (1Cor 12,31-13,8a) escreve a respeito dos dons diferentes e
complementares que o Espírito Santo suscita na vida da Igreja para a utilidade comum; e continua: aspirai aos dons mais elevados e segue o
‘Hino ao Amor’. Com linguagem reboante, o apóstolo afirma que ‘de nada
adiantaria possuir grandes capacidades, falar tantas línguas, fazer prodígios
extraordinários, exercer importante ministério... se não tivermos a caridade...tudo seria inútil. E fala da caridade e de suas qualidades /
características. Diz que a caridade é paciente, benigna, humilde,
desinteressada, moderada, transparente, capaz de partilhar sentimentos; quem
possui este amor verdadeiro sabe se alegrar com o bem e o sucesso do outro. Na
vida de um casal e de uma família é esse amor que dá as cores à existência.
Somente quem fundamentar sua vida de amor em Jesus Cristo e alimentar esse amor
às fontes da vida espiritual, saberá amar e superar as dificuldades que vão
aparecendo em sua vida.
Do apóstolo Paulo, o
Ritual apresenta outras leituras, que proporcionam valiosos ensinamentos para a
vida familiar. Vivei no amor, como Cristo
nos amou e se entregou a si mesmo a Deus por nós, se lê na carta aos
Efésios; continua: Maridos, amai as
vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. À luz
dessas afirmações, podemos compreender a maneira de Paulo argumentar a submissão das mulheres aos seus maridos
da qual escreve; o apóstolo diz: sejam submissas
como ao Senhor. Nesse acréscimo,
compreende-se a novidade de vida, segundo a visão do apóstolo, nas relações
familiares dos cristãos.
Aos cristãos de
Colossos (3,12-17) – aos quais chama de amados
por Deus e de santos eleitos –
São Paulo recomenda: revesti-vos de
sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, suportando-vos
um aos outros e perdoando-vos mutuamente. São as virtudes que devem
distinguir a vida de um discípulo de Cristo. Ainda: amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição. Colocadas
no contexto litúrgico da celebração do Matrimônio, essas leituras ajudam a
entender o que a Igreja pensa e como propõe o estilo de vida dos que casam no Senhor. Será que tudo isso é pura
utopia e ilusão? Não, mas uma proposta exigente de vida, coerente com o ser
discípulos e discípulas de Cristo.
Celebrar o casamento
como sacramento comporta ter amadurecido em si mesmos essa visão de fé. Constata-se,
porém, a distância que existe entre a proposta de vida evangélica feita pela
Igreja e as concretas motivações que, às vezes, acompanham as celebrações de
tantos matrimônios. Então, o que devemos fazer? Os namorados e noivos que
decidem se casar ‘na igreja’ reflitam bem e, com a ajuda do Padre e da Pastoral
familiar, procurem compreender e viver o que a Palavra propõe. Os que já se casaram
‘na Igreja’ e, talvez, não tiveram a oportunidade de compreender o sentido
profundo de seu casamento, reflitam sobre esses belos ensinamentos e, com a
ajuda da graça de Deus, procurem caminhar nessa direção. Com certeza, todos
irão sentir que seus laços de amor recebem nova seiva e renovado vigor. É o meu
desejo.
Dom Armando