MATRIMÔNIO 14

Em minhas conversas litúrgicas, estou tratando do sacramento do Matrimônio e propondo algumas explicações a respeito das leituras bíblicas do Ritual.
      Já vimos o que o apóstolo Paulo escreve em sua carta aos Romanos. Do apóstolo, o Ritual propõe, em seguida, a bonita página aos cristãos de Corinto. À amada Comunidade de Corinto, Paulo (1Cor 12,31-13,8a) escreve a respeito dos dons diferentes e complementares que o Espírito Santo suscita na vida da Igreja para a utilidade comum; e continua: aspirai aos dons mais elevados e segue o ‘Hino ao Amor’. Com linguagem reboante, o apóstolo afirma que ‘de nada adiantaria possuir grandes capacidades, falar tantas línguas, fazer prodígios extraordinários, exercer importante ministério... se não tivermos a caridade...tudo seria inútil. E fala da caridade e de suas qualidades / características. Diz que a caridade é paciente, benigna, humilde, desinteressada, moderada, transparente, capaz de partilhar sentimentos; quem possui este amor verdadeiro sabe se alegrar com o bem e o sucesso do outro. Na vida de um casal e de uma família é esse amor que dá as cores à existência. Somente quem fundamentar sua vida de amor em Jesus Cristo e alimentar esse amor às fontes da vida espiritual, saberá amar e superar as dificuldades que vão aparecendo em sua vida.
      Do apóstolo Paulo, o Ritual apresenta outras leituras, que proporcionam valiosos ensinamentos para a vida familiar. Vivei no amor, como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo a Deus por nós, se lê na carta aos Efésios; continua: Maridos, amai as vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. À luz dessas afirmações, podemos compreender a maneira de Paulo argumentar a submissão das mulheres aos seus maridos da qual escreve; o apóstolo diz: sejam submissas como ao Senhor. Nesse acréscimo, compreende-se a novidade de vida, segundo a visão do apóstolo, nas relações familiares dos cristãos.
      Aos cristãos de Colossos (3,12-17) – aos quais chama de amados por Deus e de santos eleitos – São Paulo recomenda: revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, suportando-vos um aos outros e perdoando-vos mutuamente. São as virtudes que devem distinguir a vida de um discípulo de Cristo. Ainda: amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição. Colocadas no contexto litúrgico da celebração do Matrimônio, essas leituras ajudam a entender o que a Igreja pensa e como propõe o estilo de vida dos que casam no Senhor. Será que tudo isso é pura utopia e ilusão? Não, mas uma proposta exigente de vida, coerente com o ser discípulos e discípulas de Cristo.
      Celebrar o casamento como sacramento comporta ter amadurecido em si mesmos essa visão de fé. Constata-se, porém, a distância que existe entre a proposta de vida evangélica feita pela Igreja e as concretas motivações que, às vezes, acompanham as celebrações de tantos matrimônios. Então, o que devemos fazer? Os namorados e noivos que decidem se casar ‘na igreja’ reflitam bem e, com a ajuda do Padre e da Pastoral familiar, procurem compreender e viver o que a Palavra propõe. Os que já se casaram ‘na Igreja’ e, talvez, não tiveram a oportunidade de compreender o sentido profundo de seu casamento, reflitam sobre esses belos ensinamentos e, com a ajuda da graça de Deus, procurem caminhar nessa direção. Com certeza, todos irão sentir que seus laços de amor recebem nova seiva e renovado vigor. É o meu desejo.

Dom Armando