MENSAGEM DO NOSSO BISPO PARA O MÊS DA BÍBLIA

No dia 30 deste mês, memória litúrgica de São Jerônimo, celebraremos o ‘dia da Bíblia’. Este grande estudioso, que, das línguas originais, traduziu a Bíblia para o latim, escreveu: “Ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo”. Então, quanto mais ‘conhecemos’ a Palavra, crescerá em nós, pela luz do Divino Espírito, o conhecimento do Senhor Jesus. Mas, não é suficiente um ‘conhecimento’ teórico; pede-se um ‘conhecimento amoroso’ que conduza para a intimidade da Pessoa Amada.
Jesus ‘abriu’ o Livro Santo (lembremos a cena na sinagoga de Nazaré: Lc 4,16-30). Ele mesmo é o grande Intérprete da Palavra. Para Ele caminha a Primeira Aliança e n'Ele se compreende e realiza a Segunda. Santo Agostinho escrevia que ‘o Novo Testamento esconde o Antigo e o Antigo esclarece o Novo’.
Nos últimos 50 anos, isto é, a partir do grande dom do Concílio Ecumênico Vaticano II, a Igreja católica compreendeu melhor a importância da Palavra em sua caminhada e se reaproximou dela. O importante documento conciliar Dei Verbum (a Palavra de Deus), do qual estamos celebrando o cinquentenário, abriu-nos esta porta e nos incentivou para esse conhecimento amoroso. Recordou-nos que na revelação Deus ‘entra em diálogo’ com o seu Povo. Portanto, o nosso Deus não só fala, mas espera uma resposta, num diálogo de amor que se inspira no mesmo diálogo que vivem as Três Pessoas Santíssimas. Passamos de uma ‘compreensão instrutiva a uma compreensão comunicativa da revelação’. A Palavra não serve só para instruir a respeito das realidades sobrenaturais ou doutrinárias, mas para comunicar a salvação na forma de um encontro (cf. CNBB, doc. 97, 8).
São Paulo escreve ao fiel discípulo Timóteo: Toda Escritura é inspirada por Deus, e é útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justiça. Assim, a pessoa que é de Deus estará capacitada e bem preparada para toda a boa obra (2Tim 3, 16-17). Com esse desejo, sobretudo no mês da Bíblia, a Igreja convida a todos os seus fiéis para que, de maneira mais profunda, se aproximem da Palavra, alimentem suas vidas e ela seja fonte inspiradora em suas escolhas e critério de avaliação em seus comportamentos.
A Bíblia, porém não é um livro fácil. Foi escrita ao longo de mais de um milênio, em contextos culturais e respondendo a necessidades espirituais, éticas e eclesiais bem diferentes. Ainda, a Bíblia não é um livro de ciências humanas.  Por isso, é preciso conhecer o ‘ponto de vista’ do autor e o contexto em que foi escrita cada parte, para compreender seu sentido para nós hoje. Uma leitura, que chamamos de ‘fundamentalista’ (= ao pé da letra), seria uma traição da Palavra mesma.
Já o apóstolo Pedro, falando de algumas passagens das cartas de Paulo, observava que nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras (2Pd 3, 16).
O mesmo São Pedro adverte: Sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus (2Pd 1, 20-21). 
Desejo que este mês da Bíblia desperte em todos, maior amor à Palavra de Deus. Por isso, renovando propostas já feitas, convido para que se alimentem, a todo dia, com a leitura de alguns textos bíblicos, começando pelos Evangelhos e encontrem poucos minutos (se não for possível mais) para orar com um Salmo; prestem muita atenção à proclamação da Palavra na liturgia; participem de encontros de formação bíblica, de círculos bíblicos e realizem a ‘leitura orante’ da Palavra, a sós ou em pequenos grupos.
A Igreja recomenda a ‘animação bíblica da vida e da pastoral’ (Diretrizes Gerais). Temos, ainda, longo caminho a percorrer. Procuremos todos ‘dar passos’ nessa direção. O papa  Bento XVI escreveu que o contato constante e orante com a Palavra de Deus não forma, necessariamente doutores, forma santos (cf. Verbum Domini 49.77).

Dom Armando