LEITURAS:
Jer
31,7-9
Salmo
125 (126)
Heb
5,1-6
Mc
10,46-52
CAMINHANTES
COMO DISCÍPULOS, MEMBROS DO POVO DE DEUS
E
foram para Jericó. Saindo ele, seus discípulos e uma grande multidão de Jericó...
(10, 46). Foram... O texto não indica o que aconteceu lá, o
foco está no momento quando saíam. A ida, porém, teve efeitos, pois saíram com
Jesus e seus discípulos uma grande multidão. A princípio, o que soa mais forte
não é aonde se quer chegar, mas o próprio movimento e o modo como ele se dá. Vemos,
em primeiro lugar, dois instantes de partida. O primeiro, “foram”, expõe a perspectiva do discípulo sempre atrás do mestre, e
sempre atraído por ele, e o último que, literalmente, está no gerúndio e, por isso
mesmo, indica um movimento que não terminou: “saindo”.
O caminhar e o “passar
por”, são centrais neste movimento de saída. No caminhar, sempre atrás e
voltado para Jesus, o discípulo percorre o itinerário incessante do Mestre e discerne
a vontade de Deus expressa n’Aquele que vai à sua frente. O “passar por” indica
que o caminhar não é sem rumo, deve-se estar atento nas idas e chegadas,
permanências e partidas ao que Jesus quer provocar. O mestre causa mudança
tanto pelos lugares, pois de Jericó sai com ele uma multidão quanto pelo redor
do caminho, uma vez que ao curar o cego que o clama também o anima a
segui-lo.
Essa narração da ação
de Jesus, em Jericó e pelo caminho, por suas palavras, gestos e feitos inaugura
o triunfo de Deus sobre o mal, a injustiça, o pecado e a pior de suas
consequências: a cegueira. Jesus agora reconduz o povo a sua vocação primeira
de caminhantes. É significativo dizer, ainda, a partir do trecho em questão,
que o discipulado é guiado pela força de atração de Cristo que movimenta toda a
vida do discípulo.
O movimento que Jesus
provoca em seu caminhar, seu entrar e sair, expressa plenamente aquilo que a
história da salvação já pronunciou outrora. Os judeus que desceram ao Egito e
os que voltaram não eram os mesmos; não digo enquanto geração, mas enquanto
povo, cultura e, sobretudo, enquanto experiência de fé. De igual modo, podemos
pensar nos exilados. Como nenhum outro líder, até então, Jesus reúne. Começa
sozinho a sua missão, seduz discípulos, escolhe os doze, atrai multidões. Isso
porque não só faz coisas em nome de Deus, mas expressa a face do Pai.
Jesus não se gloria de
números. Ele quer formar um povo. Um povo novo que conduz com o auxílio dos seus
discípulos. Abrindo os olhos de todos, mas especialmente dos últimos, para que
cuidem do seu rebanho. Esse povo não se
formará no exílio ou na escravidão, no culto ou no estudo da lei. Será formado
no discipulado. Caminho que abre os olhos, que educa os pés, que clareia a
compreensão.
Esse é o caminho que
queremos percorrer. Em nossas saídas e chegadas, nunca nos acomodemos; em nosso
caminho interior, sejamos discípulos; na Igreja, povo de Deus; na vida,
caminhantes; na sociedade, sinais. Olhando o mestre. Tendo sempre os olhos
fitos nele, caminhemos irmãos!
Adriano Bonfim
Pereira
2º ano de
teologia