MATRIMÔNIO 16

Continuando nossas reflexões a respeito das leituras propostas pelo Ritual na celebração do Matrimônio, chegamos aos evangelhos[1]. Encontramos dez textos: cinco de Mateus, um de Marcos e quatro de João.Vamos considerar somente algumas dessas perícopes.

A primeira página que encontramos é Mateus 5,1-12a, as bem-aventuranças. Página de intensa espiritualidade, define a novidade de vida que irrompe na história da humanidade com a presença de Jesus: é Ele o reino dos céus – ou de Deus - doado a quem O acolher. Essa chegada ecoa como grito de alegria para os pobres em espírito, isto é, para os humildes e humilhados, que colocam sua confiança no Senhor e vivem já no clima do reino que vem. O segundo grupo de declarações destaca as atitudes próprias dos discípulos de Jesus. Eles devem ser misericordiosos, ter coração puro, ser construtores de paz e continuar firmes, apesar da perseguição. O evangelista conclui, exortando os membros da comunidade a serem perseverantes, apesar das críticas e calúnias que ‘os outros’ espalham, mentindo. A perspectiva do reino e a esperança da plenitude prometida são razões suficientes para continuarem fiéis a Jesus.
Essa página tão sugestiva e exigente, proclamada no contexto da liturgia do Matrimônio, torna-se convite para uma vida de novidade evangélica e resposta à vocação matrimonial. Cada cristão é chamado a viver sua fé dentro de sua realidade. Como, então, um casal cristão pode viver essas palavras do Senhor? Com certeza, procurando ser manso e misericordioso, ter um coração transparente e empenhado a construir paz e justiça. Um casal que procure viver desse jeito poderá ser admirado por alguns, mas, também, criticado por outros. Num mundo de consumismo e de vida banalizada, de inquieta procura da riqueza e do prazer, quem viver um amor profundo e transparente, empenhado num serviço na sociedade e na comunidade, que não compactua com as ambiguidades e as mentiras tão difusas... será um sinal da presença do reino e de Jesus, verdadeiro sacramento. Essa é a vocação de um casal cristão. A ele, Jesus diz avante (é outra tradução da palavra ‘bem-aventurado ou feliz’ que retorna na página que consideramos), siga em frente, coragem: eu estou contigo!
Outra página proposta pelo Ritual é a conclusão do sermão da montanha aberto pelas bem-aventuranças. Fala da necessidade de construir a casa sobre a rocha (Mt 7, 21.24-29). A rocha é Jesus e sua proposta de vida. Quem viver seguindo os ensinamentos do Senhor poderá não receber elogios dos humanos, mas terá uma vida sólida, bem alicerçada; será uma verdadeira ‘casa construída sobre a rocha’. Os ventos e as tempestades da vida não terão força para derrubá-la. Não faltam os exemplos de casais que vivem assim: alicerçados em Cristo e na fé, continuam se amando, apesar de tudo, e oferecem aos filhos e a todos o exemplo bonito e firme do que significa viver tendo convicções e ideais, inspirados pela bela Notícia que é Jesus.
Um casal que acolhe essa Palavra e procura vivê-la com fidelidade, experimentará a alegria prometida. Isso desejo a todos que casam ‘no Senhor’. Não basta, portanto, uma ‘bela cerimônia’, para dar sentido ao casamento religioso; pede-se um verdadeiro amadurecimento no‘estilo de vida’ proposto por Jesus.
Dom Armando




[1]Uma reflexão própria mereceria os sete Salmos propostos, como também os versículos antes do evangelho.