Continuando nossas reflexões a respeito
das leituras propostas pelo Ritual na celebração do Matrimônio, chegamos aos
evangelhos[1].
Encontramos dez textos: cinco de Mateus, um de Marcos e quatro de João.Vamos
considerar somente algumas dessas perícopes.
A primeira página que encontramos é
Mateus 5,1-12a, as bem-aventuranças.
Página de intensa espiritualidade, define a novidade de vida que irrompe na
história da humanidade com a presença de Jesus: é Ele o reino dos céus – ou de Deus - doado a quem O acolher. Essa chegada
ecoa como grito de alegria para os pobres
em espírito, isto é, para os humildes e humilhados, que colocam sua
confiança no Senhor e vivem já no clima do reino que vem. O segundo grupo de declarações
destaca as atitudes próprias dos discípulos de Jesus. Eles devem ser misericordiosos, ter coração puro, ser construtores de paz e continuar firmes,
apesar da perseguição. O evangelista conclui, exortando os membros da
comunidade a serem perseverantes, apesar das críticas e calúnias que ‘os
outros’ espalham, mentindo. A
perspectiva do reino e a esperança da plenitude prometida são razões
suficientes para continuarem fiéis a Jesus.
Essa página tão sugestiva e exigente,
proclamada no contexto da liturgia do Matrimônio, torna-se convite para uma
vida de novidade evangélica e resposta à vocação matrimonial. Cada cristão é
chamado a viver sua fé dentro de sua realidade. Como, então, um casal cristão pode
viver essas palavras do Senhor? Com certeza, procurando ser manso e misericordioso,
ter um coração transparente e empenhado a construir paz e justiça. Um casal que
procure viver desse jeito poderá ser admirado por alguns, mas, também,
criticado por outros. Num mundo de consumismo e de vida banalizada, de inquieta
procura da riqueza e do prazer, quem viver um amor profundo e transparente,
empenhado num serviço na sociedade e na comunidade, que não compactua com as
ambiguidades e as mentiras tão difusas... será um sinal da presença do reino e de Jesus, verdadeiro sacramento. Essa é a vocação de um casal
cristão. A ele, Jesus diz avante (é
outra tradução da palavra ‘bem-aventurado ou feliz’ que retorna na página que
consideramos), siga em frente, coragem: eu estou contigo!
Outra página proposta pelo Ritual é a
conclusão do sermão da montanha aberto
pelas bem-aventuranças. Fala da
necessidade de construir a casa sobre a
rocha (Mt 7, 21.24-29). A rocha é
Jesus e sua proposta de vida. Quem viver seguindo os ensinamentos do Senhor
poderá não receber elogios dos humanos, mas terá uma vida sólida, bem
alicerçada; será uma verdadeira ‘casa construída sobre a rocha’. Os ventos e as
tempestades da vida não terão força para derrubá-la. Não faltam os exemplos de
casais que vivem assim: alicerçados em Cristo e na fé, continuam se amando,
apesar de tudo, e oferecem aos filhos e a todos o exemplo bonito e firme do que
significa viver tendo convicções e ideais, inspirados pela bela Notícia que é Jesus.
Um casal que acolhe essa Palavra e
procura vivê-la com fidelidade, experimentará a alegria prometida. Isso desejo
a todos que casam ‘no Senhor’. Não basta, portanto, uma ‘bela cerimônia’, para
dar sentido ao casamento religioso; pede-se um verdadeiro amadurecimento no‘estilo
de vida’ proposto por Jesus.
Dom Armando
[1]Uma
reflexão própria mereceria os sete Salmos propostos, como também os versículos
antes do evangelho.