3º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

LEITURAS:
Ne 8, 2-4ª.5-6.8-10
Sl 18 B (19)
1Cor 12, 12-30
Lc 1,1-4; 4,14-21
      A Palavra de Deus está na centralidade da reflexão litúrgica deste Domingo. Palavra que norteia a vida da comunidade, povo de Deus e corpo de Cristo, dirigida pelo Espírito Santo; Palavra que é Cristo e que se concretiza no mundo pela ação de seus membros, a Igreja. Palavra que enche de esperança os pobres e oprimidos; Palavra fiel, precisa e pura que conforta a alma, ilumina os olhos e alegra o coração.
      Alguns elementos brilhantes e fundamentais quanto à Palavra de Deus nos são oferecidos pelo texto de Neemias (1ª leitura):
1º: Ela é dirigida a todos, sem exceção. A todos deve instigar: “O sacerdote Edras apresentou a lei diante da assembléia de homens, mulheres e de todos que eram capazes de compreender” (cf. Ne 2);
2º: Ocupa lugar especial na vida da comunidade. Merece zelo, boa preparação para ser acolhida, reverência: “Estando num lugar mais alto, ele abriu o livro à vista de todo o povo. E, quando o abriu, todo o povo ficou de pé” (cf. Ne 5);
3º: Deve ser devidamente preparada, celebrada, partilhada e explicada com empenho e clareza pelos seus ministros: “leram clara e distintamente o livro da Lei de Deus e explicaram seu sentido, de maneira que se pudesse compreender a leitura”. (cf. Ne 8)
É eficaz, age, interpela quem se abre à sua ação transformadora, convida à conversão: “todo o povo chorava ao ouvir as palavras da Lei” (cf. Ne 9). O texto se situa no período do regresso dos judeus exilados na Babilônia. Procurava-se reconstruir o culto em Jerusalém, lembrando os israelitas da sua aliança com Deus.
      São Lucas, no Santo Evangelho, relata o início da pregação de Jesus, em Nazaré, apresentando-o como aquele que “abre o livro”. Ele é a plenitude de tudo o que foi dito, o centro das Sagradas Escrituras e o ponto para o qual elas convergem. Na sinagoga, onde o serviço litúrgico consistia em leituras e comentários da lei e dos profetas, Jesus proclama, pelo texto de Isaías, a maneira pela qual, ungido por Deus com o Espírito Santo, concretizará a sua missão messiânica.
      Assim como no Antigo Testamento o profeta apresenta uma mensagem de consolo aos exilados de sua pátria, Jesus apresenta-se Ele mesmo como a consolação de todos quantos estão prisioneiros do desânimo, do medo, do sofrimento. Anuncia a libertação dos pobres e marginalizados, a partir de quem Deus realizará o seu projeto de vida plena.
      O evangelista Lucas quer convencer os fiéis de língua grega da solidez da doutrina na qual foram instruídos. Por isso, ao estilo helénico, faz um prólogo: “após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever de modo ordenado para ti, excelentíssimo Teófilo” (cf. Lc 3). Era a década de 80 d. C. As testemunhas oculares de Jesus já haviam desaparecido. O Teófilo, cujo significado etimológico é “aquele que ama a Deus” (e aqui se referindo aos que se tinham aderido a Cristo), devia ter consciência das suas raízes e da busca de sentido dos fatos transmitidos pelos que “viram” Jesus.
      Esta consciência também nós, cristãos de hoje devemos ter para bem exercermos nossa missão de membros do corpo de Cristo. Cada um com seu carisma individual somos chamados a, juntos fazermos resplandecer Cristo no mundo por nossas atitudes e mútua colaboração. Paulo, na segunda leitura (primeira carta aos coríntios), está preocupado porque na Igreja de Corinto, os dons que deviam beneficiar a todos estavam sendo usados em benefício próprio, servindo-se ao individualismo, divisão e desprezo dos que não possuíam dons mais elevados. Isso era e é absolutamente intolerável. Evidentemente não pode ser o testemunho do corpo de Cristo no mundo, pois ele veio justamente, como testemunha no Evangelho, para instaurar a comunhão, a partilha, a valorização e restituição da dignidade dos mais fracos e vulneráveis, dos pobres e últimos, dos que estão à margem.
      Tenhamos, portanto assíduo contato com a Palavra, para por esse meio aprendermos do Filho de Deus os seus sentimentos e manifestá-lo ao mundo na e pela Igreja, comunidade de irmãos que partilham a mesma fé transmitida, na comunhão da diversidade de dons que temos.

Pe. Weverson Almeida