SINAIS E SÍMBOLOS, GESTOS E PALAVRAS, OBJETOS E LUGARES NA LITURGIA

1. O SINAL DA CRUZ

 ‘Nossa’ Coluna litúrgica, começando por este artigo, vai tratar dos sinais e símbolos, gestos e palavras, objetos e lugares que se usam nas celebrações.
Como primeiro assunto, refletimos sobre um gesto que, de costume, nas famílias cristãs, se aprende em casa, à escola do exemplo e incentivo dos pais; é o sinal da cruz, esse sinal simples, mas cheio de significa­dos. É o resumo dos dois mistérios fundamentais da fé: a Unidade e Trindade de Deus, Pai e Filho e Espírito Santo; e, o segundo, a paixão, morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.  É, portanto, sinal de pertença, que define a identidade do cristão. Como se disséssemos: ‘eu sou batizado, eu sou da família de Jesus, Ele é o meu Salvador, a cruz de Cristo dá sentido à minha vida’.
O primeiro que fez o sinal da cruz foi o mesmo Jesus. Ele ‘estendeu os braços na cruz’ (Oração Eucarística II) e, seus braços abertos ‘traçaram entre o céu e a terra o sinal permanente da (vossa) Aliança’ (OE I da Reconciliação). Portanto, com esse sinal, nós confessamos a vontade de sermos os seguidores daquele que foi morto na cruz, que assumiu o nosso pecado e se tornou ‘amaldiçoado’ por ser solidá­rio com a humanidade até o fim. O papa São Leão Magno, no início do V século, escre­via: “A cruz é a fonte de todas as bênçãos e de todas as graças”.
Deus pede ao profeta Ezequiel (9,4-6), que marque com um tau na testa os homens e as mulhe­res que gemem e suspiram por tantas abominações que nela se praticam. O tau, última letra do alfa­beto hebraico, é parecido com uma cruz; é sinal de proteção e de fé. Apocalipse (7,3) retoma esse texto com o mesmo sentido, e são Francisco de Assis assinava suas cartas com o tau, para expressar a esperança de ser salvo.
Um dos momentos mais significativos, a esse respeito, acontece na liturgia do batismo, quando o batizando é acolhido à porta da igreja. O sacerdote diz aos pais e padrinhos e a todos que participam: “Nosso sinal é a cruz de Cristo. Por isso, vamos marcar esta criança com o sinal de Cristo Salvador. Assim, (nome), nós te acolhemos na comunidade cristã”. Em seguida, sacerdote, pais e padrinhos traçam o sinal da cruz sobre a fronte da criança.
Esse pequeno sinal, que na liturgia é feito na testa, nos lábios e no peito ao proclamar o santo Evangelho, expressa a total entrega a Deus de nosso corpo e de seus centros vitais mais importantes. Com todo o nosso ser, queremos nos entregar a Deus, imitando Jesus.
Na história da liturgia, o grande sinal da cruz que hoje praticamos, entrou na praxe eclesial pelo século XI. Seu sentido se mostra pelos movimentos, da testa para o coração, para expressar o abaixamento do Filho, gerado pelo Pai, sua encarnação e paixão; tocando nos ombros, queremos dizer que ele continua doando-se totalmente na comunhão do Espírito Santo. O divino Espírito, que saiu do lado trans­passado de Jesus na cruz, faz-nos voltar ao Pai, por meio do Filho.
O sinal da cruz nos acompanhe em todos os momentos de nossa vida. É gesto forte e significa­tivo, ato de fé que tem o poder de afastar o mal e de nos lembrar do batismo e da nossa pertença à Igreja de Jesus.

Dom Armando