Hoje, vamos refletir sobre Santos e santoral.
Desde o início de sua história, a Igreja
recordava com especial veneração, irmãos e irmãs que derramavam seu sangue por
motivo da fé, e deixavam um testemunho de coragem e fidelidade para a
Comunidade toda. O primeiro mártir, Estevão (cf. Atos 8,2), marcou
profundamente a Igreja nascente e foi determinante para a conversão do apóstolo
Paulo. O túmulo dos mártires e suas relíquias recebiam especial carinho e
veneração. Desde o 2º século, foram escritas as Atas dos mártires, contando sua
paixão e seu corajoso testemunho. O culto aos mártires nasce assim, dentro da
vida da Comunidade dos seguidores de Jesus, o mártir por excelência.
Acompanhando a história, observamos um
crescimento no apreço às relíquias dos mártires e, quando terminaram as
perseguições contra os cristãos, os que deixavam tudo para seguir com maior fidelidade
a Cristo, começaram a serem procurados em vida e honrados após a morte. A
igreja foi reconhecendo a importância da veneração para com esses irmãos e
irmãs exemplares. Entre todos, logo recebeu atenção e um culto especial a Mãe
de Jesus, Maria. Não se trata de ‘adoração’ - reservada somente às Pessoas da
Santíssima Trindade, mas de um culto dado aos servos e às servas que mais
estiveram próximos do Senhor, Mestre e Modelo para todos.
A Igreja católica, no último Concílio, o
Vaticano II, recomendou o culto aos Santos (cf. Lumen Gentium 49-51). No
documento sobre liturgia (Sacrosanctum Concilium, 103-104) se lê: “... A santa
Igreja venera com amor especial a bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus em quem vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção, em
quem contempla, qual imagem puríssima, o que ela, toda
ela, com alegria deseja e espera ser. A Igreja inseriu também no ciclo anual a
memória dos Mártires e outros Santos, os quais, tendo pela graça multiforme de
Deus atingido a perfeição e alcançado a salvação eterna, cantam hoje a Deus no
céu o louvor perfeito, e intercedem por nós. Ao celebrar o “dies natalis” (dia da morte, vivido como o dia do nascimento) dos Santos, proclama
o mistério pascal realizado na paixão e glorificação deles com Cristo, propõe
aos fiéis os seus exemplos, que conduzem os homens ao Pai por Cristo, e implora
pelos seus méritos as bênçãos de Deus”.
Honrar os
Santos, portanto, é reconhecer o poder da divina Graça que opera na vida desses
nossos companheiros de caminhada, apresentados a nós todos como exemplos de
fidelidade. Isso significa, acima de tudo, honrar a Deus, três vezes Santo.
O Santoral
é aquela parte do Missal que contém as orações nas missas dedicadas à memória
veneração dos Santos. O Concílio propôs normas para a reforma do Santoral
romano. Recomendou guardar a primazia de Cristo nas celebrações e dar, ao longo
do ano, o lugar que lhe convém, ao
Próprio do Tempo, de preferência sobre as festas dos Santos. Sacrosanctum
Concilium(111) colocou no lugar que lhe compete e de forma clara o culto aos Santos.
Afirma: “Para que as festas dos Santos não prevaleçam sobre as festas que
recordam os mistérios da salvação, muitas delas ficarão a ser celebradas só por uma igreja particular ou nação ou
família religiosa, estendendo-se apenas a toda a Igreja as que festejam Santos
de inegável importância universal”. No Missal, encontramos o “próprio dos Santos” e o “Comum dos Santos”, o primeiro contém
orações próprias de alguns santos, o segundo, formulários mais gerais, por
exemplo, dos apóstolos, dos mártires, das virgens.
Dom Armando