Estou
apresentando algumas reflexões a respeito de ‘sinais e símbolos’ usados em
nossas celebrações litúrgicas. Hoje, quero refletir a respeito do sal. Com o
pão e o vinho, a água e o óleo, o sal é um dos elementos que a
liturgia usa na celebração dos sacramentos. O sal é elemento que entra no
batismo, também se a recente reforma o deixa como facultativo. Seu sentido,
porém, é repleto de lembranças ligadas à nossa vida. O sal ressalta o gosto dos
alimentos, e comida sem sal... só se tiver problemas de saúde. O sal é para o
gosto o que a luz é para a visão. Por muito tempo, quando não existiam
frigoríferos, os alimentos eram preservados da corrupção por meio do sal.
Na
Bíblia, desde o Antigo Testamento, encontramos fatos que destacam o valor do
sal. O profeta Eliseu transforma água ruim em água potável, jogando nela um
punhado de sal (cf. 2 Rs 2, 19-22). Em Levítico (2,13), se lê: “Coloquem sal em
toda oferta de oblação que oferecerem. Não deixem de colocar na oblação o sal
da aliança do seu Deus. Todas as oblações serão oferecidas com sal”.
Com
a vinda de Jesus, o sal se torna símbolo do Espírito Santo. O Ressuscitado
anuncia a presença e atuação do Espírito na vida dos discípulos “enquanto
tomavam sal juntos” (palavras traduzidas como “durante uma refeição”: cf. At
1,4).
O
mesmo Jesus usa o simbolismo do sal. Lembremos o que Ele disse aos discípulos:
“Vocês são o sal da terra. Ora, se o sal perde o sabor, com que o salgaremos?
Não serve mais para nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelas
pessoas” (Mateus 5,13). O evangelista Marcos, na passagem paralela, escreve:
“Todos serão salgados com o sal. O sal é bom. Mas se o sal perde o sabor, como
fazê-lo readquirir esse sabor? Tenham sal em vocês mesmos, e vivam em paz uns
com os outros” (Mc 9,49-50).
Com
esse sentido evangélico, o sal entra na celebração do batismo. Depois da
entrega da luz, o ritual acrescenta, qual rito complementar e opcional, a entrega do sal. Quem preside, diz:
“Vocês são o sal da terra, disse Jesus”. Pede-se que “a mãe coloque um pouco de
sal na boca da criança”. Pequeno gesto que ressalta que o cristão é chamado a
ser sal na vida, isto é, a ter a
capacidade, qual dom de Deus, de dar sentido cristão à vida e nela ser sinal da
presença divina no agir como discípulos de Jesus. O gosto dado pelo divino
Espírito, então, manifestar-se-á sempre mais, e os cristãos colaboram para
preservar o mundo inteiro da corrupção do pecado e da morte. Por isso, é
preciso pedir que o Espírito mantenha nossas vidas repletas do sabor da divina
sabedoria.
Efrem,
o Siro, um santo poeta do IV século, em seus hinos, canta: “Feliz, meu Senhor, aquele
que se torna sal da verdade nesta geração”; “Sem o Teu sal, todas as sabedorias
são sem sabor”; “A alma é o sal do corpo e a fé o sal da
alma, pois que a alma é conservada por meio dele: bendita seja a Tua
conservação”.
Dom
Armando