QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Leituras:
Jl 2,12-18
Sl - 50/51
2 Cor 5,20-6,2
Mt 6,1-6.16-18

          





             
Ó Deus, vós tendes compaixão de todos e nada do que criastes desprezais: perdoais nossos pecados pela penitência porque sois o Senhor nosso Deus (Sb 11,24s.27). Por esta antífona de entrada da quarta-feira de cinzas, somos motivados a iniciar, mais uma vez, nosso tempo quaresmal. Ao recebermos as cinzas, vamos relembrar que tudo o que somos, só se tornou realidade, por causa do amor gratuito de Deus, por causa da sua graça. Somos pó, mas, como nós lembra Bento XVI, “pó precioso aos olhos de Deus, porque Deus criou o homem destinando-o a imortalidade”. Assim, encontramos em Deus o nosso início, o nosso sustento e ainda mais, a promessa da nossa realização plena: a vida eterna. Por isso, este tempo quaresmal, apesar de nos convidar a penitência, requer que esta seja exercida na alegria e esperança do que produzirá em nós: frutos de eternidade. A penitência consiste em concentrar nossas energias naquilo que é essencial, para preservamos e promovermos a vida. Em nossa diocese, a maioria das comunidades estão na zona da caatinga. Na vegetação deste bioma, na época da seca, as plantas soltam todas as folhas para perder o mínimo de água possível e concentrar sua energia para sobreviver. Quando a chuva vem, elas florescem com todo vigor. Na penitência quaresmal também nós, podemos nos exercitar a concentrar nossa energia em atitudes que nos fortaleçam diante das vicissitudes da vida para nos manter fiéis a Deus e na Páscoa florescermos, na alegria de Jesus ressuscitado. Tais atitudes o evangelho nos indica: esmola, oração e jejum. Atitudes que marcam as três dimensões vitais dos nossos relacionamentos, não para serem mostradas, mas para trabalharem nosso interior. A esmola (caridade) nos exercita no nosso relacionamento com as outras pessoas, superando a tentação do apego, para viver a partilha, tanto das coisas quanto de nós mesmos: doar nosso tempo, nossas qualidades, nossos ouvidos, nossos ombros. A oração exercita o nosso relacionamento com Deus. Em oração reconhecemos a nossa necessidade Dele, experimentamos sua misericórdia, percebendo que o poder Dele vem e não de nós. Lembra-nos o Te Deum popular de Pe. Zezinho:  nossas histórias apontam para o mesmo rumo onde Deus está [...] nossa esperança, nossos projetos só se realizam, quando Ele falar. Por fim, o jejum nos ajuda em nosso relacionamento de autoconhecimento, autodomínio, para que possamos utilizar os desejos para o nosso bem, tendo o controle de nossas vidas e escolhas, e podermos dizer, como São Paulo, “tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” (1Cor 6, 12). O jejum, nos exercita para evitar o exagero, e poder ter a autoridade em evitar isto ou aquilo, para que o comando de nossas escolhas estejam em nossa consciência e não fora de nós, pois nada deve nos dominar, além daquilo que permitimos.  Ainda, o jejum nos ajuda na prática concreta do amor: renuncio a algo ou a alguma vontade em favor daquele que necessita, posso parar para escutá-lo, mesmo quando queria fazer outra coisa.
Pensemos irmãos, o que ainda nos falta para vivermos estas três práticas que o evangelho nos indica? Qual delas estou necessitando desenvolver mais em minha vida? Posso fazer o compromisso de me dedicar neste tempo quaresmal a cada uma delas?  Temos a certeza de que esta proposta evangélica poderá orientar nossas forças e desejos para abraçarmos com maior intensidade o caminho aberto por Jesus na sua páscoa.  
Pe. Adriano Bonfim Pereira
Vigário de Érico Cardoso e Paramirim